Espiões do técnico Dunga, o ex-goleiro Taffarel e Marcelo Cabo, aproveitaram ontem uma das raras oportunidades de ver a seleção da Coreia do Norte em ação para desvendar alguns segredos do primeiro adversário do Brasil na Copa do Mundo.
Não se assustaram com o que viram na derrota por 3 a 1 para a Nigéria, mas devem ter ficado apreensivos ao saber do tumulto na porta do acanhado Makhulong Stadium, no bairro-dormitório de Tembisa, que teve como consequência 14 torcedores e um policial ferido, segundo a versão oficial.
O número de pessoas machucadas, no entanto, ultrapassa duas dezenas. A confusão ocorreu quando milhares de pessoas tentaram forçar a entrada do local, após a polícia fechar os portões.
Naquele momento, o jogo estava começando e a dupla estava "confortavelmente" sentada em cadeiras com forro colocadas no setor de arquibancada onde ficaram, misturados, membros das duas seleções, convidados, imprensa e dezenas de torcedores nigerianos.
A Agência Estado acompanhou os espiões de perto e conseguir ver, e ler, algumas de suas considerações.
Cabo também tirou muitas fotos. A primeira observação foi em relação ao sistema de jogo empregado pelo técnico norte-coreano, Kim Jong-Hun.
"Olha como eles se armam no 5-3-2", comentou Cabo com Taffarel. Esse posicionado foi usado pelos asiáticos quando atacados durante toda a etapa inicial.
Os dois auxiliares de Dunga anotaram o posicionamento da Coreia do Norte em todas as situações em campo - ao atacar e ser atacados, ter escanteios a favor e contra, nas cobranças de falta, etc. - e fizerem algumas anotações, flagradas pela reportagem, do comportamento dos jogadores.
O goleiro Ri Myong Guk, por exemplo, foi definido por Taffarel como "tranquilo".
O ex-goleiro também parece ter gostado do lateral-direito Jong Hyok Cha, que "marca bem e sobe muito", segundo sua observação.
O número três asiático, Ri Jun Il, fica "cerrado na defesa". Mas Cabo percebeu que, nas cobranças de escanteio, ele "aparece de surpresa".
Outro dos detalhes vistos por Taffarel e Cabo foi nos escanteios a favor dos norte-coreanos pelo lado esquerdo do campo. "Na área, 7, 9 e 10", escreveu Taffarel, referindo-se aos atacantes An Chol Hyok e Jong Tae Se e ao meia ofensivo Hong Yong Jo, que entrou na etapa final.
As cobranças de falta também mereceram um comentário: "Falta do lado direito do gol, bate o 10 (Yong Jo). Na sobra fica o 17 (An Kyong Kak) e de repente um chute (é) feito".
Ao longo do primeiro tempo, Taffarel e Marcelo Cabo conversaram mais entre si do que nos 35 minutos finais - eles deixaram o estádio antes do jogo terminar. Depois de notar que o técnico Hun mudou o sistema para 4-4-2.
A reportagem tentou conversar com Cabo no intervalo. Educadamente, ele se negou: "A gente não pode falar. Temos de fazer um relatório e entregar ao chefe (Dunga).
Depois o chefe fala com vocês jornalistas o que achou". Os dois agora vão fazer o relatório definitivo, que nesta terça-feira deverá estar nas mãos do treinador da seleção brasileira.