Falta de atividades físicas e baixa ingestão de frutas e verduras acarretam vários prejuízos para a saúde dos fumantes e aumentam a incidência de doenças crônicas.
Sedentarismo e alimentação inadequada compreendem os principais fatores comportamentais de risco que, associados ao tabagismo, causam maior número de mortes.
Esta é a conclusão de um estudo publicado em Cadernos de Saúde Pública, que avaliou cerca de 1500 pessoas com mais de 18 anos no município de Botucatu, São Paulo.
A prevalência do fumo entre os homens e sua relação com grau de escolaridade e faixa etária também foram apurados pela pesquisa.
Hábito extremamente presente na sociedade contemporânea, o tabagismo é responsável pela ocorrência de enfermidades multifatoriais denominadas como doenças e agravos crônicos não transmissíveis (DANT), dentre as quais fazem parte as doenças crônicas, cardiovasculares, respiratórias e diabetes, entre outras.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que essas moléstias são responsáveis por aproximadamente 60% de todas as mortes e por mais de 45% da ocorrência de doenças graves no mundo.
No Brasil, mais de 60% dos óbitos documentados em 2004 são atribuídos à DANTs que, segundo o organismo internacional, foram as principais causas de morte em todos os países em desenvolvimento até o ano de 2010.
Assim como o tabagismo, a baixa ingestão de frutas e hortaliças e a inatividade física constituem fatores comportamentais de risco classificados como modificáveis.
Do mesmo grupo fazem parte o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, a obesidade e as dislipidemias, que compreendem o aumento anormal da taxa de lipídios no sangue – determinadas principalmente pelo consumo excessivo de gorduras saturadas de origem animal.
A exemplo de estudos anteriores, a pesquisa, realizada pela parceria entre a Faculdade de Medicina de Botucatu e a Universidade Federal do Paraná, constatou que a ocorrência simultânea do tabagismo com outros comportamentos de risco aumenta a probabilidade de o fumante desenvolver doenças crônicas.
A relação estabelecida entre cigarro e falta de atividades físicas prevaleceu na pesquisa, em comparação às outras associações relacionadas ao fumo.
Em segundo lugar registrou-se o paralelo entre o tabagismo e o consumo restrito de frutas e legumes.
Ambos os resultados não surpreenderam os pesquisadores. “O sedentarismo e a baixa presença de vegetais na alimentação é uma constante encontrada na população em geral que contribui para o desenvolvimento das DANTs, o que justifica sua prevalência associada ao tabagismo”, argumentam.
Alto consumo de café, de bebidas alcoólicas e de guloseimas – estas últimas para tentar eliminar o odor da fumaça – estão entre os vários hábitos alimentares inadequados comuns entre os tabagistas.
“Isso ocorre devido à redução do paladar e do olfato, consequente à ação da nicotina no sistema nervoso central, provavelmente pelo aumento dos neurotransmissores anorexígenos, dopamina e serotonina.
Dessa forma, os fumantes consomem menos vegetais e frutas e, muitas vezes, exageram nos temperos e no sal”, esclarecem os pesquisadores.
Os estudiosos afirmam que, isoladamente, todos os fatores comportamentais pesquisados e frequentes na população adulta estudada aumentam o risco de doenças e de morte.
No entanto, de acordo com a pesquisa, o tabagismo é um dos principais fatores comportamentais de risco relacionados à origem de doenças crônicas como câncer e diabetes, e a principal causa de óbito evitável em todo o mundo.
Atualmente, o fumo é responsável por mais de quatro milhões de falecimentos por ano, com projeções de chegar a 10 milhões em 2030.
“Além da mortalidade, o hábito de fumar está associado ao desenvolvimento de hipertensão, aterosclerose, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral enfisema pulmonar, doenças respiratórias e vários tipos de câncer”, relaciona o artigo.
A prevalência de 21,8% do tabagismo na população de Botucatu é semelhante ao percentual obtido em São Paulo (21%), cidade com o maior número de fumantes do Brasil.
No município paulista, o tabagismo predomina entre os cidadãos do sexo masculino, mais jovens e com menor grau de escolaridade.
Associado ao sedentarismo, o consumo do cigarro se mostrou relativamente maior entre as mulheres, com 14,2% para elas contra 13,9% entre eles.
Ao analisar os números relativos ao grau de instrução associado ao tabagismo, os pesquisadores concluem que mais investimentos na educação de crianças e jovens garantiriam melhores resultados das políticas públicas de promoção da saúde e redução de DANT.
Os autores do estudo enfatizam que os indivíduos menos escolarizados devem ser o alvo preferencial de ações educativas de prevenção e controle de hábitos não saudáveis.
Os principais dados do estudo coincidem com os resultados obtidos por pesquisas internacionais, como a de Madrid, Espanha, onde as diferenças encontradas assemelham-se proporcionalmente às apresentadas pelo artigo brasileiro.
Um exemplo é o maior número de fumantes do sexo masculino, em relação à população feminina da cidade espanhola, 41,7% e 36,6%, respectivamente.
Além da simultaneidade de fatores associados ao fumo, o sedentarismo foi o comportamento de risco predominante na população madrilense, tal como em Botucatu e em outras capitais brasileiras.
Para os autores espanhóis, os dados mais relevantes foram os que possibilitaram identificar que apenas 3,1% dos homens e 3,4% das mulheres eram somente tabagistas, ou seja, não apresentavam outro fator de risco de DANT concomitante ao fumo.
Em suas conclusões, os pesquisadores brasileiros destacam o enfoque da OMS, no que diz respeito às políticas públicas acerca do tema, que propõe uma abordagem integrada de prevenção e controle do tabagismo, em todas as idades.
A agência orienta que a ações tenham como foco a redução concomitante dos principais fatores comportamentais (fumo, sedentarismo, álcool em excesso, dieta inadequada e obesidade) como forma de reduzir o número de vítimas das doenças e agravos crônicos não transmissíveis.(Revista Medicando - Saúde em Movimento)