24/04/2012 08h03 - Atualizado em 24/04/2012 08h03
No momento em que diversos países buscam celebrar acordos bilaterais de comércio, o Brasil e o Mercosul ainda se limitam a modestos instrumentos firmados com Israel, Egito e Autoridade Palestina.
A limitação foi ressaltada pelo diretor do Departamento de Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Thomaz Zanotto, que pediu nesta segunda-feira (23) prioridade à negociação de acordos com os maiores mercados do mundo.
Com a paralisação das negociações da Rodada de Doha [da Organização Mundial de Comércio], o Brasil ficou sem acordos. Em termos comerciais os acordos que temos significam pouco.
Está havendo no resto do mundo agora uma corrida por acordos comerciais. Achamos fundamental a retomada de acordos com a União Europeia e os Estados Unidos.
Juntos ainda são os principais mercados do mundo – afirmou Zanotto, em audiência pública da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).
O pedido de Zanotto foi apoiado durante a audiência pelo ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia. Ele recordou que as negociações de acordos bilaterais levam à integração das cadeias produtivas dos países envolvidos.
Em sua opinião, o Brasil não deve limitar-se a seu “imenso mercado interno”, mas buscar acordos que possam substituir os entendimentos ainda não viabilizados da OMC.
Não temos a menor perspectiva de ter acordos desse gênero. É uma lacuna importante que só traz prejuízos ao futuro do país – disse Lampreia, lamentando ainda que o Mercosul tenha se tornado “claramente” refém do protecionismo argentino, o que impediria o bloco de firmar acordos internacionais.
Em sua avaliação sobre a atual política externa, o diplomata aposentado Roberto Abdenur, ex-embaixador nos Estados Unidos, observou que, mais do que emergente, o Brasil é hoje um ator global.
Mas a projeção externa do país requer reconhecimento do que chamou de “acentuado pluralismo de nossa persona”.
O Brasil, lembrou Abdenur, está no “Sul”, mas é ocidental. Pertence aos Brics, mas tem interesses diferentes daqueles dos demais integrantes do grupo.
Em resposta à senadora Ana Amélia (PP-RS), o ex-embaixador afirmou não ter considerado “excessiva” a campanha iniciada no governo Lula por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), uma vez que a obtenção dessa cadeira “culminaria o processo de ascensão internacional do país”.
Sobre o mesmo tema, o professor Oliveiros Ferreira, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, demonstrou posição mais cautelosa.
Os governos brasileiros não fizeram uma analise do que se ganha e do que se perde com o posto de relevância na ONU. Trata-se de uma mudança momentosa de status. Mas é necessário verificar se traz mais vantagens do que ônus - alertou.
Ao fazer uma avaliação da postura internacional do Brasil nos últimos anos, ao final da audiência, o presidente da CRE, senador Fernando Collor (PTB-AL), considerou “exitosa” a política externa adotada desde o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em sua opinião, o país tem independência em relação às grandes potências e já possui a dimensão política necessária para fazer politica externa sem depender do “yes, sir”. O senador observou ainda que pode demorar mais de uma década a decisão sobre a possível ampliação do Conselho de Segurança da ONU.
Mas temos de nos habilitar, pois nunca estivemos tão próximos [do assento permanente] como agora - recomendou.(Agência Senado)