03/12/2012 08h45 - Atualizado em 03/12/2012 08h45
Helton Costa
Quando o leitor recebe notícias diariamente nos mais diversos suportes midiáticos, não tem ideia da luta que trabalhadores do jornalismo enfrentam dentro das redações para organizar fragmentos de uma realidade complexa em forma de notícia, recorte de um todo que acaba por ser influenciado pela visão de mundo do próprio jornalista e também do meio de comunicação onde está inserido.
Não que esses textos, escritos ou falados não sejam reais, porque o são, a verdade é que eles não são uma realidade como uma realidade plena, são partes dela, construídas ou reconstruídas, como bem lembra o professor e pesquisador Nelson Traquina.
Nesse processo de transmissão de parte dessa realidade, o profissional acaba sujeito a rotinas jornalísticas onde há que se levar em consideração, desde o grau de formação intelectual de quem se propõe a exercer a profissão até qual o posicionamento ideológico do próprio veículo de comunicação onde esse profissional labuta.
No que tange à formação intelectual, uma formação superior é um bom “ponta pé” de partida para quem quer entrar no campo profissional. Porém, o jornalista não controla todo o processo.
Em sete anos de profissão, já ouvi, presenciei e vivi casos em que simplesmente a notícia é barrada pela direção do jornal por “atentar” contra os princípios comerciais da empresa ou por ter um foco diferente do que a direção entende ser o correto.
Isso explica em parte ao leitor, porque determinados assuntos são tratados de um jeito e não de outro, mas também pode gerar algo perigoso à democracia, que é a autocensura profissional, quando o jornalista começa a ignorar certos assuntos para manter-se no cargo que ocupa.
Pior que isso é alinha-se ao procedimento empresarial ou ainda praticar o famoso “jabá”, recebendo de anunciantes ou grupos capitalistas privados ou públicos (governos, por exemplo) para não noticiar ou só noticiar assuntos de interesse desses grupos. Quando isso acontece, a função social da profissão cai por terra e o informar transfigura-se em mero divulgar.
Ética e realidade profissional se chocam e o jornalismo, em princípio um instrumento de comunicação social, depara-se com o interesse do mercado, comprometido com o lucro puro e simples.
Nesse campo de batalha, o jornalista não precisa ser o exército de um homem só. Deve claro, refletir sobre seu fazer profissional, ampliar essa discussão dentro da própria cabeça diariamente, mas de pode fazê-la também de maneira coletiva no sindicato da categoria.
Quando há uma reflexão verdadeira, quem ganha é a sociedade, que deveria ser nosso verdadeiro “patrão”. O benefício será para aquele leitor do começo do texto, que recebe a informação sem saber a luta diária que se dá dentro das redações e de cada um de nós.