23/12/2013 08h48 - Atualizado em 23/12/2013 08h48
João Augusto Capilé Jr. (Sinjão)
O registro fiel da história, independente de suas nuances de vitórias ou derrotas, deve ser sempre o foco do escritor. Nesta altura de uma longa jornada, volto o olhar marejado de saudade para os áureos tempos da cidade pequena que era lançada ao surto de incontido progresso que brasileiros de todos os quadrantes plantaram com sobeja esperança.
Na década de 20, do século passado, meus pais João Augusto Capilé e Júlia Frost Capilé, chegaram a Dourados, provenientes de Entre Rios, atualmente, Município de Rio Brilhante. Éramos seis irmãos: Walfredino (Fido), Abigail (Biga), Lourdes, Albertina (Beta), João Augusto (eu, Sinjão) e Júlio. Fomos acomodados inicialmente no casarão de nosso vovô Maneco, o Major Capilé, na esquina da Avenida Marcelino Pires com a Avenida Presidente Vargas, em frente à Praça Antônio João. No local foi, muitos anos depois, construído o prédio da Adiles.
Certo dia, já com sete ou oito anos de idade, me encontrava ao lado do vovô Maneco e, olhando para aquela grande distância que nos separava da Capela de Nossa Senhora, do outro lado da Praça, perguntei-lhe o porquê da largura das ruas, ficando a Igreja a quase duzentos metros de distância? Afinal, praticamente ninguém passava por ali o dia inteiro. O Velho, sorrindo, me respondeu: daqui há alguns anos muitos “autos” vão encher estas ruas de movimento. E me falou do plano de urbanismo já existente na Cidade que nascia. Mais tarde conheci muitos personagens importantes, dentre os quais se destacava o Dr. Vadu, Waldomiro de Souza, engenheiro nascido em Jataí de Goiás, um dos responsáveis não só pela bela urbanização, como também pela implantação da Colônia Federal de Dourados. Casou-se nesta Cidade, com a Srta. Herotildes Brandão, filha de Álvaro Brandão, segundo Prefeito de Dourados e sucessor de João Vicente Ferreira na Prefeitura.
Um fato muito importante na história de nosso Município foi a Criação do Território Federal de Ponta Porã, no início da década de 40, constituído de oito municípios. Naquela ocasião todo o extremo sul de Mato Grosso foi bafejado por grande progresso e se sentia nas pessoas a alegria das possibilidades de melhores dias para a região. Dourados foi tomado por um impulso de enorme progresso, com a chegada de muitos imigrantes para a Colônia e para a Cidade.
As construções surgiam por toda parte. Aos poucos as casas de madeira davam lugar a edificações de alvenaria. Chegavam profissionais de todas as áreas do conhecimento. Mesmo o baque sofrido com a extinção do Território, em 1947, não arrefeceu o desenvolvimento em nossa terra. No início da década de 50 foi lançado o jornal “O PROGRESSO”, até hoje o maior jornal da região sul. De sua criação tive a honra de participar, ao lado dos saudosos Dr. Weimar Torres e Anauristídes Brandão. Um dos fatores de equilíbrio e desenvolvimento foi sem dúvida a implementação da Colônia Federal, sob a batuta do grande administrador Ubatuba.
De Cuiabá, ao lado de meus filhos, netos, bisnetos e tataraneto, com imensa saudade da companheira Roma, na serenidade do meu quase centenário, contemplo Dourados, a Cidade dos meus acalentados sonhos, cujos alicerces ajudei a erigir e me orgulho, lançando um tênue sorriso que traduz os sentimentos de agradecimento e parabéns ao bravo povo douradense, que também habita em meu coração.