04/02/2014 08h00
A violência, seja ela física, sexual, psicológica ou emocional, torna-se ainda mais séria quando a mulher se encontra grávida, pois traz consequências significativas para a saúde da mãe e do filho, tais como baixo peso ao nascer, abortos, parto e nascimento prematuros e até mortes materna e fetal, conforme estudos revelados pela OMS no “Informe Mundial sobre a Violência e a Saúde”.
A violência contra a mulher envolve um grande número de modalidades e situações, que se evidenciam pelas agressões físicas, psicológicas e sexuais no ambiente doméstico, profissional ou em outros espaços de convivência.
Vários estudos evidenciam que grande parte das mulheres e adolescentes grávidas também tem sofrido algum tipo de violência durante a gestação e que, além dos agravos à saúde da mulher, este é um dos fatores que contribui para o aumento da mortalidade materna, bem como para o aumento dos números de óbitos perinatais.
Ao contrário do que se espera, a violência contra a mulher não diminui necessariamente durante a gravidez. De fato, cerca de 13% das mulheres relatam aumento da frequência ou da severidade da violência durante o referido período.
A prevalência de violência física e sexual durante a gravidez oscila entre 1% e 20%, com índices igualmente altos nos primeiros seis meses após o parto, atingindo 25% das mulheres.
Adolescentes grávidas são particularmente mais vulneráveis à violência, pois existe um risco duas vezes maior de que elas sejam estupradas, se comparado ao risco das grávidas adultas.
Há indicadores de que grávidas que sofrem violência sexual não realizam o pré-natal ou postergam seu início.
Apresentam maior risco relativo de infecções vaginais e cervicais, de ganho de peso insuficiente, de trabalho de parto prematuro, de baixo peso ao nascer e de infecção do trato urinário.
Além disso, a grávida maltratada desenvolve quadro de estresse emocional constante, que se associa com baixa autoestima, isolamento e suicídio, uso excessivo ou abusivo de cigarro, álcool e/ou drogas.
De toda forma, a violência pode ser mais comum para a gestante do que a pré-eclâmpsia, o diabetes gestacional ou a placenta prévia e, lamentavelmente, pode-se afirmar que o ciclo gravídico-puerperal não confere proteção para a mulher.
No entanto, a assistência pré-natal é momento privilegiado para identificar as mulheres que sofrem violência e, muitas vezes, a única oportunidade de interromper o seu ciclo.
O atendimento apropriado para grávidas que sofrem violência física, sexual ou psicológica representa apenas uma de muitas medidas que devem ser adotadas para se enfrentar o fenômeno da violência.
A observação cuidadosa no pré-natal, as perguntas corretas e uma escuta qualificada podem ajudar a identificar casos de violência e trabalhar formas de enfrentamento e fortalecimento da mulher, para que ela possa reagir positivamente em sua autodefesa e na proteção do bebê.
Os casos de gravidez geradas por ocorrência de violência sexual, quando identificados, devem ser acompanhados como gestação de alto risco, observando-se as condições psicológicas das mulheres ou das adolescentes, condições que podem favorecer as tentativas de suicídio, a depressão pós-parto e, em casos extremos, as tentativas ou a consumação de homicídios das crianças.
Todas as mulheres em situações concretas de violência ou vulneráveis a ela devem ser orientadas (pelos serviços que as atenderem) a denunciar seus agressores diretamente à autoridade policial.
Para os casos de violência contra a gestante adolescente, o serviço de saúde deverá acionar imediatamente os conselhos tutelares da localidade.
A notificação da violência é compulsória para todos os serviços de saúde, devendo ser preenchida a ficha de notificação, conforme estabelecido pelo Ministério da Saúde.
A oferta de serviços e o acesso imediato a cuidados de saúde podem mudar dramaticamente o destino dessas mulheres. (MINISTERIO DA SAÚDE – CADERNO DE ATENÇÃO BÁSICA)