17/02/2014 15h45 - Atualizado em 17/02/2014 15h45
No período da manhã, quando os indígenas fecharam a rodovia, congestionamento quase chegava a um quilômetro
Flávio Verão
Policiais militares rodoviários estão na MS-156 orientando motoristas a desviarem de manifesto. Desde às 9h30 desta segunda-feira, indígenas da Reserva de Dourados fecharam a rodovia nas imediações da rotatória de acesso às aldeias Jaguapiru e Bororó, que cruza a 156.
No período da manhã o protesto dos indígenas pegou de surpresa os motoristas. Uma fila de quase um quilômetro chegou a formar na rodovia, nos dois sentidos da via. Os índios reivindicam melhores condições na saúde.
Quem deixa Dourados pela MS-156 tem duas alternativas de rota, pelo anel viário. No entanto, quem chega na cidade pela rodovia só resta como opção retornar ao município de Itaporã e de lá seguir para cidades vizinhas, como Douradina, e chegar a Dourados pela BR-163.
Bloqueio
A rodovia bloqueada é um dos principais acessos da região sul, de quem passa por Dourados, com destino a Campo Grande e norte do País, como também de quem chega ao município pela região norte. O fechamento da via segue por tempo indeterminado. “A rodovia vai ficar fechada até a equipe da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) nos recebermos em Brasília para discutirmos a calamidade da saúde indígena em Dourados”, diz o vice cacique da aldeia Jaguapiru, Laucídio Ribeiro Flores.
Professor na Reserva Indígena, ele lidera o manifesto e chama a atenção das autoridades sobre o problema enfrentado nas aldeias. “Se não bastasse a saúde precária, sem remédio, postos deteriorados, ambulâncias sucateadas, o nosso povo ainda sofre com a falta d’água”, critica o vice cacique, alertando o estado de abandono que a comunidade se encontra. “Queremos uma solução para esse problema, caso contrário a rodovia permanecerá fechada”, avisa.
O manifesto da comunidade indígena iniciou na quinta-feira passada, com protesto em frente ao polo da Sesai em Dourados. A partir daquele dia a equipe da saúde que atende nos quatro postos da Reserva entrou em greve e somente 30% do efetivo atende a comunidade, conforme determina o percentual em lei. “Não temos materiais para curativo e nem medicamentos para entregar aos pacientes. Os postos estão sem água e a infraestrutura dessas unidades são precárias”, diz o guarani Alex de Souza, da equipe de enfermagem.
No próximo dia 22, ele informa que será data de pagamento dos profissionais da saúde, contratados pela Sesai, no entanto, os servidores temem entrar para o segundo mês sem receber os salários. “Estamos prestes a completar dois meses sem receber o nosso pagamento. Mas diante todos esses problemas, o que mais queremos, com urgência, é medicamento nos postos”, pontua o enfermeiro.
Além da saúde precária e da falta d’água, outro grande problema que assola a comunidade é o atraso na entrega de cestas básicas. Muitas famílias dependem dos alimentos doados pelo governo federal, atrasados há três meses. Eles também denunciam que mantimentos dos itens da cesta são estragados ou impossibilitados para o consumo. O Dourados Agora esteve na aldeia na semana passada e constatou que muitas famílias apelam para vizinhos para ter o que comer. Foi constatado que muitos têm apenas feijão na prateleira, no entanto, o produto é de má qualidade.
O Dourados Agora entrou em contato com a Sesai em Dourados que informou não ter condições de resolver a reivindicação dos indígenas. Em Campo Grande, a coordenadora estadual da pasta, Eliete, estava em reunião nos períodos da manhã e da tarde e não retornou as ligações.