20/03/2014 08h24 - Atualizado em 20/03/2014 08h24
Ginecologista Ana Teresa de Lucia fala sobre a importância da vacinação que está sendo oferecida nos postos de saúde e escolas de todo o país
De Dourados
O Ministério da Saúde, através do Programa Nacional de Imunização (PNI), iniciou neste mês de março, a vacinação gratuita contra o HPV. A vacina que está sendo disponibilizada é a Quadrivalente do laboratório Merck Sharp e Dohme, contra os tipos 16, 18, 6 e 11 do vírus e o público alvo são as meninas de 11 a 13 anos que estarão recebendo a vacina nos postos de Saúde e nas escolas públicas e particulares.
O objetivo da Vacinação é prevenir o câncer do colo do útero, refletindo na redução da incidência e da mortalidade por esta doença, e a meta é vacinar pelo menos 80% do grupo alvo.
O esquema vacinal fornecido pelo PNI será o estendido (0,6 e 60 meses), ou seja, a segunda dose será aplicada 6 meses após a primeira e a terceira 5 anos após a primeira dose. No momento da administração da primeira dose, será entregue uma carta a adolescente orientando sobre as doses subsequentes e as unidades de saúde onde devem se dirigir.
Esta campanha e sem duvida de extrema importância, porem há ainda muitas dúvidas sobre a vacina e muita desinformação sobre a doença, sobre o HPV e os meios de prevenção. Para entender melhor sobre este assunto, a médica ginecologista Ana Teresa de Lucia concedeu entrevista.
O que é o HPV? Como ele é transmitido?
O HPV (Human Papiloma Virus) é um vírus altamente contagioso, capaz de infectar pele e mucosa, sendo a via sexual, a principal forma de contaminação (genital-genital, oral-genital e manual-genital). Existem mais de 150 tipos diferentes do vírus HPV, sendo que 12 são considerados de alto risco (16,18,31,33,35,39,45,51,52,56,58,59) e podem provocar câncer (oncogênico) e outros podem provocar as verrugas genitais e são considerados de baixo risco para o câncer. A Vacina oferecida é contra os tipos 16,18,6 e 11. Os tipos 16 e 18 estão presentes em 70% dos casos de câncer do colo uterino e os tipos 6 e 11 são responsáveis pelas verrugas genitais (condilomas).
A infecção pelo HPV é frequente? Qual é a sua relação com o câncer?
A infecção pelo HPV é muito frequente, mas felizmente ela regride espontaneamente na maioria das vezes. Em determinados indivíduos suscetíveis a infecção persiste e pode provocar o desenvolvimento de lesões precursoras que se não forem diagnosticadas e tratadas podem progredir para o câncer, principalmente no colo do útero, mas também na vagina, vulva, ânus, pênis, orofaringe e boca.
Estes tipos de câncer são frequentes?
O câncer do colo uterino é considerado um importante problema de Saúde Pública, com alta incidência e mortalidade. No Brasil é o segundo tipo mais frequente nas mulheres e faz cerca de 5.000 vítimas fatais por ano.
Quais são os sintomas do HPV? Quanto tempo depois do contato ele se manifesta?
Na maioria dos casos o indivíduo não apresenta manifestações (assintomático) e consegue eliminar o vírus naturalmente, sem que ocorra nenhuma manifestação clinica. Quando os sintomas aparecem, eles geralmente se manifestam de 2 a 18 meses após o contato e podem ser como verrugas genitais (condilomas) ou lesões subclínicas só detectadas através de aparelhos de lente de aumento (colposcopio) ou por alterações no exame citológico preventivo (Papanicoloau). Mas vale lembrar que as manifestações podem aparecer até 20 anos após o contato.
Como é feito o diagnóstico do HPV?
O diagnóstico pode ser feito pelo exame ginecológico ou urológico, pelo exame citopatológico (exame preventivo), colposcopia, biópsia da lesão e biologia molecular (captura hidrida ou PCR)
Como se prevenir da infecção pelo HPV?
Homem e mulheres podem se prevenir com o uso de preservativos (camisinha) nas relações sexuais, mas isso não impede totalmente a infecção pelo HPV, pois existem lesões em áreas não protegidas pela camisinha. Além disso, deve-se evitar ter muitos parceiros ou parceiras sexuais, realizar a higiene pessoal e se vacinar contra o HPV.
E a vacina oferecida pelo Ministério da Saúde é segura? É a mesma que já existe na rede privada?
Sim. A vacina quadrivalente da MSD, oferecida agora gratuitamente é a mesma que desde 2007 é aprovada para uso no Brasil. A diferença é que o esquema preconizado na bula e aprovado pela ANVISA é para mulheres e homens de 9 a 26 anos, e aplicado com 0, 2 e 6 meses.
Mas porque o esquema do Ministério da Saúde é diferente e destinado apenas para meninas de 11 a 13 anos?
O Ministério da Saúde está usando o chamado esquema estendido, com 3 doses, 0,6 e 60 meses que foi recomendado pelo grupo técnico assessor de imunização da organização Pan Americana de Saúde (TAG/OPAS) e este esquemajá foi adotado em outros países como o Canadá, México, Colômbia e Suíça. Existem vários estudos, segundo esta organização, que demonstram a mesma eficácia do outro esquema, principalmente porque esta sendo aplicada nesta faixa etária menor, onde observa-se uma maior produção de anticorpos e onde a maioria ainda não iniciou a atividade sexual.
Por que a vacina do HPV não será aplicada em todas as mulheres?
Porque a vacina é potencialmente mais eficaz para as adolescentes, que são vacinadas antes da primeira relação sexual, já que a contaminação por HPV ocorre frequentemente no inicio da vida sexual. É uma questão de custo benefício e espera-se que ocorra uma redução na incidência e mortalidade por câncer do colo do útero nas próximas décadas.
Se a adolescente, pais ou responsável optarem pelo esquema preconizado pela bula de 0,2 e 6 meses e quiserem tomar a segunda dose na rede privada, poderá ser a terceira dose aplicada na rede pública?
Sim, segundo a orientação do Ministério da Saúde isto é possível, pois ela poderá tomar até 2 doses na rede pública no intervalo de até 1 ano. Segundo a recomendação, deve ser a mesma vacina, ou seja a quadrivalente.
É necessário autorização dos pais para a adolescente tomar a vacina?
Não há necessidade de autorização dos pais, mas aqueles pais que se recusarem permitir que suas filhas sejam vacinadas nas escolas deverão preencher um termo de recusa da vacinação contra o HPV e encaminhar a escola.
Quem não está incluído nesta faixa etária preconizada pelo Ministério da Saúde pode tomar a vacina?
Sim, porém somente na rede privada.
A vacina pode provocar algum efeito colateral?
A vacina contra o HPV é muito segura e os efeitos adversos são raros e leves. Poder ocorrer vermelhidão no local da aplicação e em raros casos, dor de cabeça e febre.
Quem foi vacinado, não precisa fazer o exame de Papanicolau?
Não, a realização do papanicilaou continua sendo necessária.Todas as meninas que forem vacinadas, depois que iniciarem a sua vida sexual, deverão fazer consulta ginecológica de rotina e o exame do Papanicolau, pois a vacina protege apenas contra os tipos 16 e 18 do vírus, mas há outros 10 subtipos oncogênicos que tambem podem causar o câncer apesar de menor frequência.
Todas as mulheres que tem o HPV desenvolvem o câncer?
Não. A maioria geralmente elimina o vírus através do seu sistema de defesa imunológico. Tudo depende do tipo do HPV e do sistema de defesa do indivíduo. Há cofatores que aumentam o potencial de desenvolvimento do câncer genital, tais como: infecções, tabagismo, outras doenças sexualmente transmissíveis, numero elevado de gestações, desnutrição e outros. Mesmo nas pacientes que apresentam as lesões precursoras, se esta forem diagnosticadas e tratadas precocemente pode se evitar o desenvolvimento do câncer, pois este demora vários anos para se desenvolver
Como a vacina age? Corre o risco de ocorrer infecção pelo vírus?
A vacina estimula a produção de anticorpos específicos para cada tipo de HPV, evitando assim a infecção e suas consequências. Não há risco de ocorrer infecção com a vacina, pois se utiliza apenas uma “capa” viral, sem o genoma do vírus.