30/03/2014 09h00
Maioria dos entrevistados afirma, no entanto, que discussão deve ser resolvida dentro de casa.
A grande maioria dos brasileiros ouvidos pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) para a realização da pesquisa sobre Tolerância Social à Violência Contra as Mulheres, divulgada na quinta-feira (27) concorda, total ou parcialmente, que maridos que batem em suas mulheres devem ser presos.
De acordo com os dados, 91% da população é a favor de “punição severa para a violência doméstica”.
Dos entrevistados, 78% concordaram totalmente que os homens devem ir para a cadeia nesses casos.
No entanto, o Ipea destaca que é “prematuro concluir, com base nesses resultados, pela baixa tolerância à violência contra a mulher na sociedade brasileira, pois a mesma pesquisa oferece evidências no sentido contrário” já que 58% concordaram que “se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros”.
Além disso, 63% concordaram, total ou parcialmente, que “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os membros da família” e 89% dos entrevistados defendem que “a roupa suja deve ser lavada em casa”.
“Em briga de marido e mulher não se mete a colher” foi a opção escolhida por 82% dos entrevistados.
Esses dados indicam que há contradição da população em relação à tolerância à violência contra a mulher já que, por um lado os entrevistados concordam com a punição, mas por outro acreditam que a mulher tem sua parcela de culpa nos casos de estupro e agressão doméstica.
Outros dados do levantamento sugerem que a população apoia o modelo familiar centrado na figura do homem, mas destacam que, embora seja percebido como o chefe da família, “seus direitos sobre a mulher não são irrestritos, e excluem as formas mais abertas e extremas de violência”.
Para os entrevistados, “um homem deve tratar bem sua esposa, e, enquanto o fizer, rusgas ‘menores’ devem ser resolvidas no espaço privado.
A esposa, por sua vez, deve ‘se dar ao respeito’, se comportar segundo o papel prescrito pelo modelo”.
Porém, caso os conflitos entre o casal se tornem violentos, os dois devem se separar e “a mulher não deve tolerar violência pelos filhos, e, se o marido bater, é caso para intervenção do público na esfera privada”.
O estudo conclui que essa aprovação da separação em casos de violência sugere uma intolerância em relação à violência, “possivelmente como resultado de toda a cobertura na mídia da Lei Maria da Penha”.
Apesar de a agressão física ser considerada a mais grave pelos entrevistados, esse não é o único tipo de violência rejeitado pela população já que 68% concordaram que “é violência falar mentiras sobre uma mulher para os outros” e 89% discordaram da afirmativa “um homem pode xingar e gritar com sua própria mulher”.
Diante desses dados, o estudo conclui que “muitas pessoas parecem compreender que a violência doméstica e familiar contra as mulheres não diz respeito somente à violência física” e demonstram que há um entendimento de que é “quase sempre acompanhada da violência psicológica, moral e patrimonial”.
Outro resultado que mostra intolerância da população com a agressão física, é que 83,6% discordaram da sentença “dá para entender que um homem rasgue ou quebre as coisas da mulher se ficou nervoso” e 74% não acreditam que “é da natureza do homem ser violento”. (Ipea)