01/04/2014 07h19
As economias da América Latina e do Caribe deverão crescer 3% em 2014 e 3,3% em 2015, em virtude, principalmente, da retomada do crescimento dos Estados Unidos e da Europa, de acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
As projeções fazem parte do estudo "Recuperação global e normalização monetária: escapando de uma crônica anunciada", divulgado ontem durante a 55ª Assembleia de Governadores do BID, na Costa do Sauípe, Bahia.
Para 2013, a instituição estima que o crescimento médio da região foi de 2,5%.
Mas, com a deterioração do quadro fiscal dos governos e do endividamento externo das companhias, a região está mais vulnerável a turbulências internacionais do que antes da crise de 2008.
De lá para cá, a dívida pública avançou de 36% para 42% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos ao longo de um ano).
Há menos espaço agora para responder a um choque negativo - afirmou Andrew Powell, economista que coordenou o estudo do BID, à agência Bloomberg News.
E os países da região estão sujeitos a turbulências, alerta o estudo. Um dos riscos é resultado justamente da recuperação nos EUA.
Como a situação começou a melhorar, o Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA) passou a reduzir estímulos ao crescimento, o que vem provocando instabilidade nos mercados e fuga de capitais de países emergentes.
"Esse processo de normalização monetária dos EUA pode acarretar quedas bruscas nos preços dos ativos e até mesmo depreciações cambiais em alguns casos.
Os rendimentos mais altos que são oferecidos nas economias avançadas poderão induzir novas fugas de capital da região", diz o BID.
Outro risco para a América Latina está no desempenho da China, grande importador itens da região.
"A participação da China como parceiro comercial tem se tornado cada vez mais significativa, e embora as taxas de crescimento tenham diminuído, permanece o receio de que possam diminuir ainda mais.
Um crescimento mais lento da China significa um risco maior." O BID afirma ainda que os governos da região precisam ficar alertas ao aumento do risco do que os economistas chamam de "parada súbita" nos fluxos de capital.
Isso ocorre em momentos turbulentos, quando os investidores não analisam só dados econômicos fundamentais e levam em conta, também, pareceres e iniciativas de outros investidores, como num "efeito manada".
"Este é um evento mais dramático, cujo impacto depende do déficit fiscal do país, do déficit em conta corrente, do nível de dolarização e de reservas, entre outras variáveis.
A maioria dos países da região sofreu uma deterioração nesses indicadores em anos recentes", afirma o BID, destacando a importância de os governos reforçarem suas reservas e suas políticas fiscais.
Também no evento em Sauípe, Shelly Shetty, analista da Fitch Ratings, disse que a agência vai concluir sua revisão anual da classificação de crédito do Brasil em julho - na ocasião, decidirá se fará uma revisão da perspectiva do rating do país.
A revisão é parte de um processo regular que a Fitch faz todos os anos. Na última segunda- feira, a agência Standard & Poor"s, baixou de "BBB" para "BBB-", ainda na categoria de grau de investimento, mas no patamar mais baixo deste tipo de recomendação.
Não prevemos qualquer classificação ascendente no Brasil no curto prazo - disse Shelly, da Fitch. - Se percebermos pressões negativas, nós sinalizaremos com uma perspectiva negativa - completou. l BID: América Latina vai crescer 3% neste ano e 3,3% em 2015 Com maior endividamento, região está mais vulnerável que em 2008. (O Globo)