22/04/2014 08h13 - Atualizado em 22/04/2014 08h13
A Educomunicação se fundamenta no princípio de que o fenômeno comunicativo não é apenas um fenômeno midiático instrumental, mas como um meio de integrar dinâmicas formativas e planos de aprendizagem através dos quais as mídias como TV, cinema, a leitura de jornais, revistas e as demais mídias podem ser usados como meios para buscar informações, para pesquisar, pensar, e trabalhar a educação formal, informal e não formal a partir de ecossistemas comunicativos
Maria Lucia Tolouei
A mídia passa a ser, no atual momento histórico, cada vez mais um poderoso instrumento de formação de opinião e, porque não dizer, um poderoso instrumento de poder, analisa o professor doutorando Pedro Rauber, que concedeu entrevista comemorativa ao ingresso no 64º ano deste matutino.
“Nos quase 30 anos que moro em Dourados, venho acompanhando O PROGRESSO e o vejo como um dos principais meios de levar à sociedade douradense, sul-mato-grossense, brasileira e por que não dizer também, global, informações que ajudam às pessoas a formarem suas opiniões e posições sobre os mais diversos campos da vida social”, analisa Pedro Rauber.
O professor também vê o projeto de leitura do jornal na escola “O PROGRESSO na educação, ensinando a ler o mundo” como um meio muito interessante e capaz de contribuir na formação para a emancipação do sujeito e da sociedade através da leitura do jornal em sala de aula, como também como um meio de construir uma cultura pela Paz.
Pedro Rauber tem formação em Pedagogia, especialização em Metodologia do Ensino, Mestrado em Educação. É doutorando em Educação, professor no Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceeja) Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems) e na Unigran.
Confira a entrevista comemorativa de ingresso no 64º ano do jornal O PROGRESSO.
Como o senhor avalia a influência da mídia para a educação dos povos e à formação de uma cultura de paz?
Primeiramente, agradeço o convite e a oportunidade de discutir ideias. Por isso, quero inicialmente, parabenizar O PROGRESSO pelos 64 anos de serviços prestados. Mídia refere-se a um conjunto de meios de comunicação de massa: jornal, rádio, revistas, livros, panfletos, cartazes, outdoors, cinema, televisão, internet e outros.
Neste sentido, a mídia tem como função principal, tornar algo comum a todos ou a um grande número de pessoas. A mídia passa a ser, no atual momento histórico, cada vez mais um poderoso instrumento de formação de opinião e porque não dizer, um poderoso instrumento de poder. A mídia tem portanto o papel informar a sociedade sobre os acontecimentos em todos os campos da vida social: na política, educação, saúde, segurança, lazer, esportes, cultura.
Neste sentido, o jornal impresso, como um dos meios midiáticos mais antigos, foi e continua sendo um dos principais meios para levar informações confiáveis à sociedade. Nos quase trinta anos que moro em Dourados, venho acompanhando O PROGRESSO e o vejo como um dos principais meios de levar à sociedade douradense, sul-mato-grossense, brasileira e por que não dizer também, global, informações que ajudam às pessoas a formarem suas opiniões e posições sobre os mais diversos campos da vida social.
Em Dourados, como isto ajudou, por exemplo, quando a cidade viveu turbulências políticas na administração anterior?
O jornal impresso, desde sua invenção do tipo mecânico móvel com Gutenberg, e depois com as inovações tecnológicas provocadas pela Revolução Industrial no século XVIII, tornaram possível a impressão de jornais através dos quais as informações pudessem chegar a um maior número de pessoas.
Neste contexto histórico, o surgimento do jornal impresso teve um papel fundamental na formação da opinião sobre os acontecimentos da vida social e porque não dizer, na luta contra a dominação e a exploração. Por muito tempo o jornal impresso foi um dos únicos veículos de comunicação de massa existentes, mas, ao longo do século XX, os jornais passaram também a serem radiodifundidos e teledifundidos (radiojornal e telejornal) e, com advento Web, chegaram também os jornais online, ou ciberjornais, ou webjornais.
Algumas pesquisas de opinião pública tem apresentado resultados de pesquisas que comprovam que a maioria da população brasileira entende que a imprensa ajuda a combater a corrupção ao divulgar escândalos que envolvem os mais deferentes setores da sociedade, entre eles as ações de políticos e autoridades.
Penso que a imprensa, ao investigar e divulgar fatos que envolvem esses setores, exerce o importante papel de informar, mas ela não pode condenar. Neste sentido, deve haver o equilíbrio no exercício da profissão. Isto nos leva a entender que é preciso profissionalizar e não censurar. Pois, a imprensa livre é fundamental para o funcionamento da democracia.
É neste contexto que precisamos também entender o importante papel que a mídia, e em especial O PROGRESSO exerceu para informar a população douradense sobre os momentos turbulentos que Dourados vivenciou especialmente no campo da política. No entanto, é preciso alertar também que, embora o papel da mídia seja o de informar, alguns meios tem se desviado do seu papel informar a sociedade sobre os acontecimentos em todos os campos da vida social. Vemos que alguns instrumentos midiáticos tem trabalhado em prol de interesses pessoais, empresariais e políticos. Com isso deixam de exercer a função para o qual existem: informar a sociedade. Cabe aqui perguntar: A imprensa escrita, televisiva e falada tem exercido o papel de informar, ou ela estaria em alguns casos, servido de poderoso instrumento de manipulação e distorção das informações com objetivos escusos?
A campanha da fraternidade versa este ano sobre o tráfico humano. O jornal O PROGRESSO tem enfocado a problemática, de forma ampla, nos últimos anos. De que forma isto pode alterar os rumos da violência em constante ascensão?
A Campanha da Fraternidade lançada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), nos coloca neste período de Quaresma (tempo de reflexão) como tema de reflexão: “Fraternidade e Tráfico Humano”. O tema é deve servir primeiramente como um apelo à conversão pessoal, mas também social.
Assim, com o lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1) a Campanha ocupa-se com todos aqueles e aquelas que são enganados e usados para o tráfico humano, de trabalho, de órgãos e a prostituição.
A imprensa, com o papel de informar, tem condições de participar e se envolver com as causas dos mais fracos e denunciar o crime organizado que muitas vezes está por detrás das diversas modalidades de tráfico humano. Neste sentido, a imprensa tem o papel de informar e ao mesmo tempo se envolver na denúncia contra as mais deferentes modalidades de exploração em que as pessoas que vivem em situação de pobreza e grande vulnerabilidade são cruelmente usadas e escravizadas para gerar fortunas para organizações ou grupos inescrupulosos e que usam da fragilidade das pessoas para satisfazer seus vorazes interesses. Assim, como cristãos ou não, não podemos aceitar essa exploração, como nenhuma outra moderna forma de escravidão ou de desrespeito à dignidade humana.
Como incentivar a formação de leitores críticos e atuantes, e como isto contribui à prevenção da violência?
Paulo Freire, um dos grandes educadores brasileiros do século XX, aponta que a esperança na construção de um mundo mais justo e livre seria possível a partir da educação como meio de potencializar a consciência crítica dos indivíduos e a formação de uma cultura para a Paz.
A educação como prática da liberdade proposta por Freire coloca o diálogo como categoria essencial para a emancipação do sujeito e da sociedade. Neste sentido, as instituições sociais como Família, Igreja, Escola, como também a imprensa tem um papel importante no processo de formação pela leitura, de sujeitos críticos e que sejam capazes de entender e se posicionar frente as complexidades do mundo globalizado em que os interesses econômicos e políticos muitas vezes se sobrepõe aos interesses do ser humano.
A Educação como prática de liberdade em que o ato de saber não termina no objeto a ser conhecido, mas se perpetua na relação “dialógica” com os participantes do processo educativo, o profissional da educação como o profissional da imprensa tem um importante papel na formação para a vida social. Para isso ambos precisam ter sólida formação para se tornar agente importante nos processos de formação e de libertação do indivíduo e da sociedade.
Isto não se dá por um esforço de adaptação do aprendiz ao meio no qual está inserido, mas a possibilidade de alcançar a consciência crítica pelo seu processo de formação que deve ser ao longo de toda a vida. O que para Freire, não é um mero reflexo da materialidade, mas uma expressão da práxis humana sobre essa mesma materialidade, através do exercício dialógico. Neste sentido, quando a escola como a imprensa se desviam de suas funções, podem tornar-se instrumentos de manipulação, de escravização e se colocam a serviço de grupos manipuladores e inescrupulosos para satisfazer seus vorazes interesses.
A educomunicação - otimizar a informação/comunicação para melhor educar - tem se concretizado com as mídias? O PROGRESSO mantém, há mais de 16 anos, o programa de leitura “O PROGRESSO na educação, ensinando a ler o mundo”, filiado à Associação Nacional de Jornais (ANJ). Como o senhor avalia esta ação?
A Educomunicação se fundamenta no princípio de que o fenômeno comunicativo não é apenas um fenômeno midiático instrumental, mas como um meio de integrar dinâmicas formativas e planos de aprendizagem através dos quais as mídias como TV, cinema, a leitura de jornais, revistas e as demais mídias podem ser usados como meios para buscar informações, para pesquisar, pensar, e trabalhar a educação formal, informal e não formal a partir de ecossistemas comunicativos.
De acordo com a perspectiva pós-estruturalista, as identidades são representadas pela linguagem e, da mesma forma, é através da linguagem a identidade adquire um significado e uma forma num determinado contexto social. Nessa perspectiva, de acordo com os estudos culturais, a identidade e a diferença não são entidades preexistentes. São construídas de forma simbólica e social. Assim, o jornal como a escola não podem ser elementos passivos da cultura, mas elas têm que ser constantemente criadas e recriadas no contexto das transformações que se processam no mundo.
Neste sentido, O PROGRESSO durante 16 anos vem realizando um papel importante no sentido de possibilitar através da leitura do jornal, o acesso à informação que precisa ser tratada como um instrumento que deve integrar as dinâmicas formativas e os planos de aprendizagem como sugerido por Freire. Desta forma, vejo o projeto de leitura do jornal na escola “O PROGRESSO na educação, ensinando a ler o mundo” como um meio muito interessante e capaz de contribuir na formação para a emancipação do sujeito e da sociedade através da leitura do jornal em sala de aula, como também como um meio de construir uma cultura pela Paz.
Considerações finais
Quero primeiramente agradecer o espaço que foi a mim concedido. Quero também aproveitar a oportunidade para mais uma vez, e parabenizar O PROGRESSO toda sua equipe: diretores, jornalistas e funcionários pelos 64 anos de serviços de informar a sociedade sobre os acontecimentos em todos os campos da vida social.