15/05/2014 14h58
A constatação é de consultores do setor, que defendem que a cultura tem potencial para dar solução às demandas que vão surgir pelo combustível no mercado nacional.
O Brasil precisará de 100 novas usinas de etanol até 2020 para atender a demanda que surgirá pelo combustível renovável, segundo estimativas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). A necessidade de etanol crescerá 50% já nos próximos seis anos.
Atualmente, a cana-de-açúcar é a principal matéria-prima utilizada para a produção do combustível renovável nas regiões brasileiras.
Mas nos últimos anos, pesquisas e aplicações em campo têm surgido no mercado exatamente como alternativas para a produção de etanol a partir de outras fontes, caso do etanol de segunda geração.
Uma das opções que começa a chamar a atenção do mercado é a produção do combustível a partir do milho. Essa prática já é bastante utilizada nos Estados Unidos - onde quase não se produz etanol a partir da cana - e vem conquistando entusiastas no País.
Isso porque dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revelam que a oferta de milho no Brasil é bem superior ao consumo interno, que no ano passado representou 66,7% da produção.
Para este ano, as previsões apontam que o Brasil deverá colher 75,45 milhões de toneladas na primeira e segunda safras de milho somadas, após registrar um recorde de 81,5 milhões na temporada anterior.
Com excesso de produto, é preciso buscar soluções de aproveitamento dos grãos que sejam lucrativas aos produtores e fonte de geração de divisas e até de empregos.
A possibilidade de o milho alcançar essa viabilidade econômica como fonte de matéria-prima para a produção de etanol foi avaliada por especialistas e empresários do setor, como João Occhiucci, representante de vendas da Divisão de Biociências Industriais para a DuPont América Latina; João Bortolussi Rodrigues, consultor da JRB Suporte Técnico; e Cássio Bellintani Iplinsky, diretor da Usina Rio Verde Ltda.
Segundo João Bortolussi, o milho surge como forte opção para a produção de etanol no Brasil, pois oferece características e particularidades que vão ajudar a atender as demandas do mercado no período de entressafra da cana-de-açúcar.
“Hoje, algumas usinas estão com sérios problemas e dificuldades de produção e a cana também possui restrições para poder alcançar um patamar maior de produtividade.
Além disso, no período de entressafra ocorre a ociosidade das indústrias sucroenergéticas, que não possuem matéria- prima para moagem”, ressalta.
Outro problema listado pelo consultor é que a cana precisa ser processada de imediato para a produção de etanol – para não perder as taxas de açúcares, a qualidade, etc -, enquanto o milho pode ficar mais tempo armazenado para ser feita a conversão.
Bortolussi informa que o desafio atual é levar esse conhecimento ao produtor e mostrar que é seguro investir na produção de etanol a partir do milho.
Uma das possibilidades para iniciar nesse segmento é trabalhar a produção de forma integrada, ou seja, utilizando a cana-de-açúcar e o milho como fontes de matéria prima.
“O processo de forma simultânea representa custo de investimento mais baixo, retorno mais rápido, isso porque o milho produz o ano todo, na safra e safrinha.
Além disso, terminando o ciclo da cana, começa o do milho, e os equipamentos utilizados na moagem são parecidos e podem ser aproveitados para as diferentes culturas”, destaca. Em Rio Verde, município localizado na Região Sudoeste de Goiás, uma usina vai iniciar a produção de etanol a partir do milho ainda neste ano, por meio do Projeto Integrar. Localizada na Região Sudoeste do Estado, a cidade é conhecida nacionalmente por ser uma das principais produtoras de grãos, em especial de milho.
Com oferta de matéria prima, a Usina Rio Verde Ltda., que já opera na produção do combustível renovável, irá trabalhar de forma integrada a produção de etanol a partir das duas culturas – cana e milho.
“O desafio será fazer a integração dos processos, já que são caldeiras e matérias primas distintas. Entretanto, estamos utilizando exemplo dos Estados Unidos”, afirma Cássio Bellintani Iplinsky, diretor da Usina Rio Verde Ltda. Ele acrescenta que a proposta é minimizar a ociosidade industrial, incrementar a produção de etanol, reduzir custos de operação e agregar valor à produção na região.
Além de Rio Verde, que vai iniciar a operação em 2014, outras duas unidades no Mato Grosso já produzem etanol a partir de milho no Brasil.
De acordo com o representante de vendas da Divisão de Biociências Industriais para a DuPont América Latina, João Occhiucci, a produção industrial de etanol a partir do milho é antiga no Brasil, em pequenas quantidades e voltada principalmente para fins alimentícios, cosméticos e industriais.
“O que vislumbramos neste mercado é uma nova possibilidade de uso, com a aplicação desta matéria-prima como alternativa ou complementar à cana-de-açúcar para produção do etanol combustível anidro ou hidratado em larga escala”.
Ele acrescenta que existem iniciativas isoladas e que a tendência é a expansão desta possibilidade para outras fronteiras, incluindo Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
O conceito Flexmill - ou seja, o uso do milho como complemento à cana-de-açúcar nas atuais usinas - pode trazer fôlego novo para a indústria uma vez que agrega benefícios, como o uso do ativo fixo da usina durante o ano todo, redução de paradas pela falta de matéria-prima (principalmente em períodos de chuva) e otimização do uso da mão de obra decorrente do melhor aproveitamento do pessoal operacional durante praticamente o ano todo.
João Occhiucci diz ainda que ampliar a produção de etanol a partir de milho depende do envolvimento de muitos grupos: os produtores de milho, os usineiros (responsáveis pela produção de etanol) e grandes grupos sucroalcooleiros, que precisam se estabelecer nas novas fronteiras de produção de cana e que podem contar com a ajuda adicional do milho como matéria-prima.
“O mercado está apresentando a estes grupos as oportunidades do etanol de milho e as alternativas de investimento com segurança e menos risco.
Além disso, setores específicos do governo também precisam ser convencidos sobre as oportunidades com esta alternativa, viabilizando crédito para o setor.
Outro grupo importante é a cadeia consumidora de milho, para a qual o mercado precisa apresentar os benefícios da produção a partir do milho e o valor agregado que ela traz, principalmente para a indústria de ração por meio do DDGS”.
Ele explica que o DDGS é um composto de valor altamente nutritivo e com grande concentração de proteínas, ideal para nutrição animal. Considerando a produção como um todo, o milho reduz a instabilidade da produção que é observada no mercado de cana-de-açúcar, onde fatores climáticos podem interferir enormemente no resultado desse processamento.
“Com milho, o processo se torna mais produtivo e a boa noticia é que ele pode agregar esta previsibilidade às atuais usinas de cana, trazendo um equilíbrio entre as duas fontes de matéria prima”, afirma.
João Occhiucci concorda com Bortolussi em relação à tecnologia e equipamentos. “Basicamente, a mesma que é utilizada para cana-de-açúcar, com uma diferença principal nas etapas iniciais de tratamento do grão, que envolve a moagem à seco e a quebra do amido contido no cereal para açúcares fermentescíveis.
Esta etapa é realizada com a ajuda de enzimas alfamilase e glucoamilase. Feito este trabalho a partir da fermentação, o processo de produção do etanol é similar ao utilizado pelas usinas sucroalcooleiras com adaptações na fermentação e destilação e operação anexa para produzir o DDGS”, reforça. (/www.canalbioenergia.com.br)