20/06/2014 15h44
Eventos climáticos extremos são uma ameaça para a geração e distribuição de energia em todo o mundo; Administração de Informação sobre Energia dos Estados Unidos salienta a dependência do Brasil das hidroelétricas
Não chega a ser uma surpresa que fenômenos como secas prolongadas ou tempestades intensas representem um risco para o setor de energia, já que podem facilmente prejudicar a geração e a distribuição de eletricidade.
No entanto, segundo o Conselho Mundial de Energia (CME), poucos são os países que já avaliam, na hora de fazer investimentos de infraestrutura energética, as consequências das mudanças climáticas.
Esse é um dos destaques do relatório “Mudanças Climáticas: implicações para o setor energético”, produzido para o CME pela Universidade de Cambridge e pela Fundação Europeia do Clima.
“As mudanças climáticas com certeza terão impactos no setor. Precisamos de estruturas políticas robustas e de investimentos em longo prazo para garantir o futuro que queremos, com mais resiliência”, declarou Christoph Frei, secretário-geral do CME.
De acordo com o relatório, quando se pensa em energia e clima, o que acabam aparecendo são ações de redução de emissões de gases do efeito estufa, uma vez que o setor responde por 40% das emissões mundiais.
Mas ainda são poucos os exemplos de medidas que promovam o fortalecimento das instalações geradoras e distribuidoras frente às consequências das mudanças climáticas.
“Os mais recentes relatórios científicos deixam claro a realidade e os impactos das mudanças climáticas .
Empresas de energia não podem mais continuar suas atividades como se nada estivesse acontecendo”, afirmou Philippe Joubert, presidente da Iniciativa de Eletricidade do CME e ex-presidente da Alstom.
O CME aponta que os investimentos no setor, que devem variar entre US$ 190 bilhões e US$ 900 bilhões ao ano até 2050, podem ser melhor direcionados, para buscar tanto a redução de emissões quanto uma maior resiliência climática.
Por exemplo, termoelétricas têm sido modernizadas para liberar menos poluentes, mas deveria também ser uma prioridade melhorar os sistemas de resfriamento dessas instalações: assim se utilizaria menos água, um recurso cada vez mais precioso.
A multiplicação de smart grids (redes inteligentes) deveria ser outro foco de investimentos, já que permitem uma grande eficiência energética e facilitam os consertos em caso de quedas no sistema devido a eventos extremos.
O relatório pede ainda uma maior diversificação das fontes de energia, em especial a promoção de mais instalações renováveis e nucleares.
O relatório do CME não entra nas particularidades de cada nação, mas foi divulgada também nesta semana uma análise da Administração de Informação sobre Energia (EIA) dos Estados Unidos, destacando a dependência do Brasil das hidroelétricas.
A matriz brasileira conta com 75% de participação de hidroeletricidade e, segundo a EIA, isso representa um desafio para o sistema nacional não apenas por causa da dependência de uma única fonte, mas também porque as usinas estão distantes dos centros de consumo.
Assim, a energia gerada na Amazônia precisa ser transmitida por milhares de quilômetros até chegar no Sul e Sudeste.
A EIA destaca ainda que o Brasil está experimentando sua pior seca dos últimos 40 anos, o que já teria contribuído para apagões em muitas regiões.
A administração informa que US$ 5 bilhões foram gastos para subsidiar empresas de eletricidade que tiveram que utilizar energia gerada por fontes fósseis devido à perda da geração das usinas hidroelétricas.
No entanto, a EIA aponta a construção de Belo Monte, a terceira maior usina do planeta, com um custo projetado de US$ 13 bilhões, como um exemplo de como o país ainda aposta na hidroeletricidade para atender à crescente demanda.(Instituto CarbonoBrasil)