12/07/2014 10h26
Especialistas concordam que o país precisa antecipar ações para garantir qualidade de vida aos idosos, que deverão corresponder a cerca de 30% dos brasileiros em 2060.
O Brasil deve se preparar para o envelhecimento da população antecipando ações para que as pessoas cheguem mais saudáveis aos 60 anos e se mantenham ativas e inseridas socialmente após a aposentadoria.
A avaliação foi feita ontem por participantes de debate promovido pela Comissão de Direitos Humanos do Senado (CDH).
Hoje, uma em cada dez pessoas é idosa. Em 2060, teremos um idoso em cada três pessoas — informou Emanuel Dantas, coordenador de Estudos Previdenciários do Ministério da Previdência Social.
Dantas lembrou que, de 1960 a 2010, a expectativa de vida do brasileiro saltou de 48 para 73 anos. Enquanto isso, o número médio de filhos por mulher caiu de 6,3 filhos para 1,9.
Essas mudanças alteraram a pirâmide etária, refletindo a estrutura de população mais envelhecida, característica dos países mais desenvolvidos — disse, ressaltando os reflexos desse cenário nas contas da Previdência.
Ao lado de novos modelos de seguridade, Dantas chamou a atenção para a necessidade de ações que proporcionem um envelhecimento ativo.
A opinião foi compartilhada por Martha Oliveira, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que pediu uma nova maneira de compreender o envelhecimento.
Ela disse que, muitas vezes, o idoso apresenta múltiplas patologias e vai a uma variedade de especialistas. O grande desafio, afirmou, é buscar o atendimento integral.
Essa orquestração poderia ser feita por geriatras, mas há falta desses profissionais, disse Cleuza Faustino do Nascimento, diretora da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social.
Ela defende a criação de centros de geriatria nos municípios. O advogado Diego Cherulli, da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Brasília, defendeu a criação de centros de atenção ao idoso, para atendimento à saúde física, mental e intelectual.
Cherulli lembrou o projeto de Paulo Paim (PT-RS) que permite a “desaposentação”.
Atualmente, disse ele, a maioria dos idosos vive com renda média de R$ 1.500 e precisa voltar a trabalhar, contribuindo mais uma vez para a Previdência Social, mas sem se beneficiar disso. O advogado defende uma revisão da aposentadoria, levando em consideração o novo período de pagamentos.
Para Paim, que presidiu a audiência pública, o aumento da expectativa de vida dos brasileiros revela o avanço social do país. Ele observou, no entanto, que o envelhecimento da população impõe o desafio de garantir condição de vida digna aos mais velhos.
Neusa Müller, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, listou ações do governo em benefício dos idosos, caso da reserva de moradias no Programa Minha Casa, Minha Vida. Ela também mencionou a elaboração da Convenção de Direitos da População Idosa, no âmbito da ONU.
Segundo Neusa Müller, houve um crescimento no número de denúncias de casos de violência contra idosos pelo serviço Disque Direitos Humanos (Disque 100), demonstrando que a sociedade se importa com o bem-estar deles. Desde 2011, foram 77 mil denúncias.
No entanto, ela reconheceu a necessidade de aperfeiçoamentos, como a criação de programas para pessoas com mais de 80 anos, dado o crescente envelhecimento e a longevidade da população brasileira.
Além disso, para a representante do governo, são necessárias mais iniciativas em educação, em atividades físicas e na atenção ao aposentado do campo, que sofre de solidão e isolamento.
Neusa Müller também mencionou a necessidade de atenção ao grupo LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) e de garantir o direito à afetividade dos idosos, muitas vezes impedidos de amar, de ter um parceiro e de se relacionar sexualmente. (Jornal do Senado)