Dourados
25/07/2014 07h34 - Atualizado em 25/07/2014 07h34
Mesmo com a agenda apertada de reuniões empresariais e com lideranças paraguaias para ampliar a relação comercial entre Paraguai e Dourados, o prefeito Murilo conseguiu um tempo para visitar o ex-presidente do Paraguai Juan Carlos Wasmosy. A reunião aconteceu na quarta-feira de manhã, na casa do senador vitalício.
Murilo e Wasmosy conversaram sobre a política no Brasil e a relação Brasil-Paraguai, sobre a segurança na fronteira e principalmente sobre a importância do Brasil no contexto da América Latina e mundo. Wasmosy lembrou do início de uma nova fase de cooperação entre Brasil e Paraguai, iniciada por ele e pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele destacou que Fernando Henrique teve um papel importante na melhoria do acesso do Paraguai aos portos brasileiros.
Entre os projetos envolvendo Brasil e Paraguai citados por Wasmosy, em um deles Dourados estava inserido. Tratava-se de uma ferrovia ligando Brasil e Paraguai, passando por Dourados, onde haveria um centro logístico de distribuição de cargas para os dois países. Um trecho dessa ferrovia, que é o Estrela D’Oeste-Dourados, está em fase de estudos técnicos finais. O governo federal já sinalizou levar essa ferrovia até Assunción futuramente.
O ex-presidente falou a Murilo da importância de o Brasil se consolidar como líder político e econômico da região. “Não podemos deixar que Davos [onde ocorre anualmente o Fórum Econômico Mundial] decida o futuro econômico do mundo. O Brasil, como grande país precisa assumir a sua condição de líder regional”, afirmou.
Na conversa também estavam Vitor Hugo, suplente de senador do Paraguai, Neire Colman, secretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável de Dourados, e os empresários Nevercindo Cordeiro, Hugo Roig (paraguaios) e Werner Semmelroth, de Dourados.
Wasmosy também falou da importância de os governos serem mais abertos a negociações, deixando as correntes ideológicas de lado para pensar no bem comum entre os países, com foco no povo, no que o povo quer e necessita e não no pensamento ideológico. Ou seja, um governo mais técnico e profissional.
Wasmosy e Murilo condenaram as vaias à presidente Dilma Rousseff durante a Copa do Mundo. Para eles, a atitude não foi protesto, mas falta de educação. “Acho que o povo está perdendo os valores. É uma falta de zelo com a democracia. Há um excesso, as pessoas perderam o senso do que é democracia, do que é protestar, do que é o direito individual”, disse Murilo.
Já Vitor Hugo ressaltou a importância do Paraguai manter uma boa relação com Dourados. Ele, que já foi governador de Estado de Amambay, onde fica Pedro Juan Caballero, falou da proximidade com Dourados e que isso pode resultar em boas parcerias, negócios e troca de experiências para o bem comum.
Wasmosy, que é criador de gado nelore, destacou o crescimento da qualidade da produção de carne no Paraguai. Segundo ele, a criação bem sucedida do nelore no Brasil e no Paraguai quebrou a hegemonia dos grandes criadores, que se aproveitavam da baixa tecnologia da criação na América do Sul. “Quando fui presidente tínhamos 5,8 milhões de cabeça de gado; hoje o Paraguai tem 14 milhões de cabeças. E carne de qualidade”, disse, destacando que a troca de tecnologia do Paraguai com o Brasil ajudou a chegar a essa qualidade.
Murilo falou da admiração que sempre teve pelo trabalho de Wasmosy, seja como presidente ou como criador de gado Nelore. Wasmosy foi o primeiro civil a ocupar o governo após o regime militar. “Enfrentei 51 generais sem armas, sem nenhum tiro, apenas com a caneta”.
O prefeito também falou a Wasmosy dos investimentos que estão sendo feitos pelo governo federal na faixa de fronteira entre Brasil e Paraguai, no monitoramento para melhorar a segurança. “O Sisfron é um projeto muito importante para avançarmos; é preciso dialogar e avançar na cooperação para a segurança na fronteira; não podemos voltar atrás”, afirmou.
Wasmosy já esteve em Dourados, na inauguração da Praça Paraguaia, em 1998. A praça foi criada para homenagear o povo paraguaio residente em Dourados. Estima-se que 40% dos moradores de Dourados e região sejam descendentes de paraguaios.
