04/08/2014 09h29 - Atualizado em 04/08/2014 09h29
Em 90% dos casos eles apresentam doenças cardiovasculares, fator que desencadeia ao município gastos de mais de R$ 400 mil ao mês com este tratamento que é de alta complexidade; cerca de R$ 4.8 milhões por ano.
Valéria Araújo
A obesidade, aliada a doenças cardíacas e ortopédicas leva mais de 1 mil douradenses a procurarem tratamento no serviço público. Em 90% dos casos eles apresentam doenças cardiovasculares, fator que desencadeia ao município gastos de mais de R$ 400 mil ao mês com este tratamento que é de alta complexidade; cerca de R$ 4.8 milhões por ano. De acordo com o Secretário de Saúde Sebastião Nogueira, os valores investidos nas cirurgias cardiovasculares levam em conta todos os tipos de pacientes, obesos ou não. No país, entre os obesos, os pacientes graves – que exigem do Sistema Único de Saúde (SUS) maior atenção, respondem por gastos anuais de quase R$ 500 milhões.
A obesidade é tão grave que é um dos principais fatores de risco para a hipertensão e infartos. Em Dourados, uma pesquisa recente do Hospital do Coração, mostrou que 32% da população está hipertensa. Por ano, mais de 300 mil pessoas têm uma parada cardíaca e cerca de 80 mil delas não consegue sobreviver, conforme estimativa do Ministério da Saúde. O infarto é responsável por 29,4% de todas as mortes registradas no Brasil.
De acordo com o médico Jorge Luiz Baldasso que em última pesquisa realizada em Dourados detectou que mais de 74 mil pessoas estão acima do peso, o maior desafio hoje não é emagrecer, mas manter o peso depois de se livrar dos quilinhos a mais. “Em cerca de 60% dos casos, os pacientes não tem disciplina e desistem. É preciso determinação e esforço. O emagrecimento só é possível através de duas fórmulas apenas: a reeducação alimentar e atividades físicas. Não existem milagres”, destaca.
Baldasso diz que a maioria dos pacientes procuram por pílulas “mágicas” ou a medicamentos que além de comprometerem a saúde se não houver orientação médica, não resolve de fato o problema. “Muitos dos métodos utilizados de forma inadequada pelo paciente acabam gerando o efeito rebote. A pessoa perde muitos quilos, mas ganha o dobro depois. Na verdade o que acontece é que ela perde massa muscular e o músculo consome 80% a mais de calorias do que qualquer outra célula”, destaca.
Obesidade
Pesquisa realizada em Dourados revela dados alarmantes sobre a qualidade de vida dos douradenses. De acordo com a estimativa, 74 mil pessoas com idades entre 20 e 60 anos estão acima do peso. A estimativa corresponde a 68% da população nesta faixa etária. Desse total, 43 mil pessoas apresentam-se com sobrepeso, 29 mil estão obesos (26,5%) e 1.5 mil são mórbidos (1,42%). Os dados antropométricos foram coletados por profissionais da área de saúde no Hemocentro de Dourados entre novembro de 2010 e fevereiro de 2011. Os doadores de sangue de ambos os sexos, tinham idades entre 18 e 65 anos. Os autores do estudo são o médico Jorge Luiz Baldasso e o bioquímico Roberto Alva.
Segundo os especialistas, se comparado com a média nacional, a situação de Dourados fica ainda mais grave. Pesquisa do IBGE para a medição da obesidade no Brasil entre 2008 e 2009, mostrou um índice de pessoas acima do peso em 50,1% para o sexo masculino e 48% para o sexo feminino. O índice de Dourados em 68% é, portanto, muito acima da média nacional, segundo Baldasso.
Na opinião dele, se algo não for feito de forma imediata para mudar a qualidade de vida da população, Dourados corre sérios riscos de sofrer um “surto” de pacientes com diabetes, infartos, derrames, entre outras doenças cardiovasculares. “É preferível prevenir a obesidade do que tratá-la. É necessário a promoção de ações de saúde nas escolas, com orientação sobre dieta e atividades físicas, além de melhorias da estrutura urbana da cidade como as ciclovias, pistas de caminhada, estímulo ao esporte e adequar o programa de obesidade às necessidades do município”, destaca Baldasso.
Segundo ele, a pesquisa também mostra que mulheres e homens estão engordando praticamente na mesma proporção. “Isto se aplica inclusive nos anos de fertilidade feminina, o que sugere a gravidez não ser fator determinante no aumento de peso”, destaca. Do total de 74 mil acima do peso, a estimativa mostra que 38.6 mil são homens e 35.9 mil são mulheres. Dos 43 mil com sobrepeso, 23 mil são homens e 20 mil mulheres. Dos 29 mil obesos, 14.5 mil são do sexo feminino e 14.5 mil são homens. Dos 1.5 mil obesos mórbidos, 501 são do sexo masculino e 1 mil feminino.
De acordo com o relatório, houve aumento súbito de peso entre as faixas etárias de 25 a 29 anos e 30 e 34 anos, quando a variação de Índice de Massa Corpórea (IMC) atinge quase 2 quilos por metro quadrado. O índice de obesos, por sua vez, exibe um resultado ao inverso, ou seja, com baixo índice de indivíduos jovens e elevação gradativa de acordo com o aumento da faixa etária. A exceção é para pessoas na idades entre 60 e 64 anos, onde há um declínio acentuado na porcentagem de obesos.