28/10/2014 08h18 - Atualizado em 28/10/2014 08h18
Valéria Araújo
A cidade de Dourados, que concentra a mais populosa reserva indígena do Brasil, tem déficit de 1,7 mil casas. A maioria das famílias vive em péssimas condições de moradia, sob barracos de lona, sem saneamento básico e água potável, já que a reserva passa por desabastecimento.
De acordo com relatório apresentado por entidades ligadas à questão indígena, até 2012, o déficit habitacional era de 1.450 casas, hoje este número subiu para 1,7 mil. O documento leva em conta que são 3,1 mil famílias que habitam as aldeias.
No entanto, apenas 1.200 casas foram construídas através de projetos habitacionais em anos anteriores. Outras 200 famílias ergueram moradias com recursos próprios, totalizando 1,4 mil casas na Reserva. Em barracos de lona ou sapé, mães criam os filhos em condições precárias. O calor extremo, o frio e a sede constante são os desafios da comunidade.
De acordo com o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, Fernando de Souza, o fator preocupante é que em situações precárias de moradia, a vulnerabilidade em relação à saúde de crianças e idosos aumenta. A indígena Sebastiana Fer-nandes mora há seis anos num barraco de lona com os 10 filhos. São crianças de dois a 16 anos. Ela diz que não está cadastrada em nenhum programa social porque nunca foi procurada por nenhuma instituição e não sabe como se cadastrar. Ela diz que criar os filhos em barraco é um desafio constante. Conta que foi abandonada pelo marido e que de lá para cá só tem esta alternativa.
A indígena caiuá-terena, Luciana Aparecida Reginaldo, de 28 anos, sempre viveu em barracos de lona, desde criança até agora, depois que se casou e teve os dois filhos. Ela diz que os piores dias são os de chuva. “A água entra e inunda tudo. Molha comida e roupas”, destaca.
Ela diz que a família sempre viveu dos “bicos” que o marido consegue como servente de pedreiro. “Dá para garantir o alimento diário, mas não o conforto que gostaria de oferecer às minhas crianças. Sem uma casa é tudo mais difícil. Passamos frio e para nos esquentar tenho que fazer fogo dentro do barraco, muitas vezes arriscando a nossa vida com a fumaça”, conta.
O indígena Anderson Ferreira Cabreira, de 21 anos, é vítima do confinamento. Contou recentemente ao Douradosagora que o pai se matou quando ele era criança, devido aos problemas de falta de estrutura na Reserva. A mãe dele, também vítima da miséria vivida pela comunidade, morreu há alguns anos. Ele hoje trabalha e busca uma forma de melhorar a vida. Diz que nunca conseguiu se cadastrar em programas sociais de habitação e que a casa de eternite e lona foi a única alternativa.
Só no papel
Um projeto entre a Prefeitura de Dourados e Fundação Nacional do Índio (Funai), que garantiria 440 novas casas para a aldeia de Dourados ficou só no papel. Seriam 200 casas para a aldeia Bororó, 200 para a Jaguapiru e 40 para a do Panambi.
Conforme Fernando de Souza, durante todo o ano passado, foram elaborados projetos que contemplassem os requisitos para participar do Programa do Ministério das Cidades para as aldeias do Brasil.
“Discutimos com a comunidade um modelo de casa que levasse conforto e ao mesmo tempo preservasse a cultura indígena. A Prefeitura, em conjunto com a Funai, enviou toda a documentação a Brasília. O projeto foi aprovado e aguarda liberação dos recursos para o início das obras”, explica.