18/11/2014 16h42
Um exame de sangue que detecta a dengue com resultados instantâneos e ao custo de 15 centavos. Uma ideia que pode revolucionar a medicina e está sendo gestada pelo doutor em química pela Universidade de São Paulo, Wendell Coltro, que leciona na Universidade Federal de Goiás (UFG).
Dependendo do ensaio, a rapidez pode ser interessante para auxiliar o médico ou uma equipe médica a tomar uma decisão de intervenção cirúrgica ou mudança em um tratamento específico.
Por exemplo, nas unidades médicas móveis um kit contendo esses produtos poderia ser rapidamente utilizado para acessar o estado clínico do paciente no caminho até o hospital”, diz Wendell.
O exame desenvolvido pelo pesquisador e sua equipe usa uma folha de transparência ou até mesmo um guardanapo, coberto com parafina. Um carimbo de metal delimita a área onde será adicionado o material do paciente como o sangue.
Nas bordas desse “chip” de papel, ficam os reagentes. Para detectar a dengue, por exemplo, quando o soro está infectado, o anticorpo da doença se liga às substâncias presentes no papel e promove alteração na coloração, podendo ser avaliada visualmente ou analisada com câmera de celular.
O método foi testado em hospitais de Goiás e conseguiu mostrar se um paciente estava ou não infectado. Segundo Coltro, os resultados têm confiabilidade de mais de 90%.
Também é possível fazer outros oito tipos de análises, como índices de colesterol, triglicérides, ácido úrico e glicose.
Depois de depositar uma gota de sangue ou urina no centro do desenho impresso, o resultado fica pronto em cerca de 15 minutos. Para análise mais profunda, é possível fotografar os resultados com smartphone e compará-lo com uma escala de cores.
Uma das principais diferenças é o custo: enquanto exames na rede particular de saúde custam quase R$ 100, o exame criado por Wendell tem resultados eficazes custando até 15 centavos.
A simplicidade ajudará a atender regiões afastadas, onde há pouco acesso a hospitais. Como não precisariam ser transportadas por longas distâncias, os resultados podem ser mais fidedignos e o próprio paciente poderiam fazer os testes.
Wendell foi considerado um dos dez brasileiros mais inovadores pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.
O exame, vencedor de vários prêmios, está sendo negociado agora com empresas que o disponibilizem rapidamente no mercado.
“Em todas as tecnologias, o processo burocrático para colocar os produtos no mercado é árduo. Mas estamos enfrentando isso com naturalidade e caminhando para que isso vire realidade”, avalia o pesquisador.
Wendell aponta que o principal ator na evolução das pesquisas são os alunos, que, sem a concessão das bolsas, não teriam a mesma determinação para realizar experimentos.
Ele acredita que a carreira científica pode se iniciar ainda no ensino médio e se prolongar por toda a vida profissional.
“As possibilidades atuais para atuar na carreira científica são muito melhores do que o período que eu era universitário”, considerou o pesquisador.
O estudo não seria possível sem a contribuição dos professores Dr. Emanuel Carrilho e Claudimir Lúcio do Lago, da USP.
A pesquisa também se beneficiou da apresentação do uso do papel para ensaios clínicos feita grupo de pesquisa liderado pelo Prof. Dr. George Whitesides da Universidade de Harvard. (palaciodoplanalto.tumblr.com)