30/11/2014 09h00
O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) alertou que meninas e mulheres representam 70% das pessoas traficadas no mundo entre 2010 e 2012.
O Relatório Global sobre Tráfico Humano divulgado em Viena na segunda-feira (24), mostrou que uma em cada três vítimas é criança, o que representa um aumento de 5% em relação ao período anterior, entre 2007 e 2010.
O documento diz que no Brasil, o tráfico para exploração sexual aumentou mais de 100%, passando de 59 para 149 casos. O UNODC informou ainda que pelo menos 3 mil pessoas são usadas para trabalho escravo ou forçado no país todos os anos.
Entre 2010 e 2012, dos 257 indiciados por crimes envolvendo tráfico humano no Brasil, apenas 35 foram condenados pela justiça, sendo 22 brasileiros e 13 estrangeiros.
O país é mencionado no estudo também por um caso de aliciamento através de um relacionamento amoroso falso entre o traficante e a vítima, como parte de um esquema de exploração sexual de mulheres na Europa.
Um cidadão europeu foi declarado culpado por ter aliciado uma brasileira e condenado a cinco anos de prisão.
Ao chegar à Europa, os criminosos tomaram o passaporte da vítima, que foi aprisionada e forçada a trabalhar como prostituta, tendo que gerar uma certa quantia em dinheiro diariamente para o traficante.
O país também é apontado como destino de bolivianos assim como a Argentina, o Chile e o Paraguai. Quanto ao destino das vítimas das Américas para Portugal e Espanha, o estudo cita uma mudança.
As vítimas originárias da América do Sul, da América Central e do Caribe são agora interceptadas na região onde vivem.
Das crianças traficadas no mundo, a maioria é de meninas. Os últimos anos foram marcados pelo aumento constante do trabalho forçado e as mulheres que representam 35% das vítimas. As áreas que mais exploram são a indústria, a construção, o trabalho doméstico e a produção de têxteis.
Os países da África Subsaariana destacam-se pelo tráfico que ocorre dentro de suas fronteiras. Os casos mais comuns envolvem crianças, enquanto no norte da África e no Oriente Médio, adultos.
A região subsaariana também acumula os maiores índices do tráfico de crianças para conflitos armados. Em termos de variações por região, na Europa e na Ásia Central as vítimas são em grande parte destinadas à exploração sexual.
No Leste Asiático e no Pacífico, o trabalho forçado impulsiona o mercado, enquanto nas Américas, foram detectados os dois tipos quase na mesma proporção.
O diretor executivo do UNODC, Yury Fedotov, afirma que o relatório demonstra que não há lugar no mundo onde crianças, mulheres e homens estejam livres do tráfico humano.
Fedotov realça que os dados oficiais reportados pelas autoridades dos países à agência representam apenas o que foi registrado.
O diretor acredita que a escala da escravidão moderna é maior. O estudo registra pelo menos 152 países de origem e 124 países de destino das vítimas, e que há mais de 510 fluxos de tráfico no mundo.
O fenômeno ocorre principalmente dentro das divisas nacionais ou na mesma região, com o tráfico transcontinental atingindo principalmente os países ricos.
Os casos de punição dos exploradores são minoria. Cerca de 72% dos traficantes condenados são do sexo masculino e cidadãos das nações em que operam.
A impunidade continua sendo um problema grave com 40% dos países registrando poucas ou nenhuma condenações.
Na última década não houve um aumento visível na resposta da justiça global a este tipo crime, o que acabou deixando uma parte significativa da população vulnerável aos criminosos.(Rádio ONU)