14/12/2014 13h24
Audiência discutiu o medo e o preconceito da sociedade em relação às pessoas com doenças mentais, como depressão, esquizofrenia e transtorno bipolar. Especialistas apoiaram projeto que cria uma data nacional para promover campanhas e ampliar a conscientização
Convidados de audiência da Comissão de Educação e Cultura (CE) manifestaram apoio à oficialização do Dia Nacional de Enfrentamento à Psicofobia, a ser celebrado em 12 de abril.
Termo que vem ganhando destaque nos meios profissionais e entre leigos, a psicofobia define o preconceito contra pessoas com doença ou transtorno mental.
O objetivo do debate, dirigido por Ana Amélia (PP-RS), foi coletar subsídios para o exame de projeto (PLS 263/2014) de Paulo Davim (PV-RN) que institui a data especial, a mesma do nascimento de Chico Anysio, símbolo da luta contra o preconceito a pessoas com doenças mentais.
Em vida, ele deixou depoimento sobre a própria luta contra a depressão, afirmando que pessoas com o mesmo problema não devem ter vergonha.
Apoiaram o pedido da audiência, além do autor do projeto, os senadores Ana Rita (PT-ES) e Paulo Paim (PT-RS), também relator do projeto.
Pelo texto, na semana em que cair o 12 de abril, serão promovidas campanhas de esclarecimento sobre o combate à psicofobia.
Ao se criar esse dia, vamos mudar completamente, em 180 graus, o alcance das informações sobre as doenças mentais. É sair do pouco para o extraordinário — destacou o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, um dos expositores.
Antônio Geraldo, também presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), registrou que, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 700 milhões de pessoas em todo mundo têm doenças mentais e poucas recebem tratamento adequado.
No Brasil, o Ministério da Saúde cita que pelo menos 46 milhões de indivíduos são vítimas de problemas mentais.
Segundo ele, entre as dez principais causas de afastamento do trabalho em todo o mundo, cinco seriam decorrentes de transtorno mentais, lista ampla que inclui a esquizofrenia, o transtorno bipolar e o transtorno obsessivo compulsivo.
Ele reconhece as dificuldades de acesso aos serviços de saúde, mas afirma que o medo do preconceito desestimula a busca de ajuda.
As manifestações de preconceito assumem muitas formas, conforme o expositor, inclusive por meio da negação ao trabalho ou da demissão quando a doença passa a ser conhecida.
Ou ainda, disse, pelo corte de relações afetivas, muitas vezes por pressão de familiares da pessoa que se envolve com alguém com doença psiquiátrica.
Antônio destacou os projetos da entidade para orientar a população e desmitificar as doenças mentais, como a mais recente campanha, Psicofobia é um Crime, lançada nas redes sociais.
Se depender de Davim, o mote da campanha da ABP deixará de ser apenas figura de linguagem. Outro projeto do senador, o PLS 74/2014, propõe alteração no Código Penal para tornar crime o preconceito contra pessoas com deficiência ou transtorno mental.
Todas as formas de discriminação são abomináveis, mas uma das que mais me incomodam é o preconceito contra alguém que não tem como construir sua defesa ou tem mais dificuldade para tal. Aí se torna muito mais vulnerável e o sofrimento é maior para essa pessoa e também a família — afirmou Davim. (Jornal do Senado)