19/01/2015 08h21 - Atualizado em 19/01/2015 08h21
Elvio Lopes
Nem mesmo a chuva de sábado impediu que dezenas de pessoas, a maioria mães que apoiam o movimento pelo retorno à tranquilidade e por justiça participassem da Caminhada pela Paz de Jardim, provocada pelas mortes sequenciais de jovens, por adolescentes infratores que se sentiram impunes com a liberdade de um autor de ato infracional de homicídio ocorrido na madrugada de Natal.
O movimento começou com Evanir Gimenez Xavier da Hora e João da Hora, pais de Paulo Henrique, o Ney, assassinado a facadas na madrugada de Natal, por um grupo de adolescentes, por motivos banais. Ele havia sido aprovado no ano letivo passado e em 2015 pretendia cursar uma faculdade.
Os autores do assassinato de Ney foram detidos pela Polícia, entre os quais um adulto e um adolescente infrator de 16 anos de idade, que foi liberado por falta de vaga na Unidade Educacional de Internação (Unei) de Jardim.
A liberdade do adolescente infrator levou seu irmão, de 15 anos de idade, à prática de outro ato infracional de homicídio, que vitimou, na madrugada do dia 11 passado, do jovem Hellyson Igor, de 16 anos, morto com um golpe de punhal ou canivete na região abdominal.
O autor do ato infracional de homicídio foi apreendido na mesma madrugada do crime, também em companhia de um adulto que teria contribuído para a consumação da morte, segundo a vítima enquanto o adolescente manejava a arma branca.
Evanir e João da Hora começaram o movimento antes do assassinato de Hellyson, mas foram levar solidariedade aos pais do segundo jovem morto na cidade em um espaço de duas semanas e, no velório, ganharam a adesão de várias mães e pessoas que se sentiram revoltadas com os crimes e pela frieza do autor que, em entrevista a uma emissora de rádio local, confessou o crime e admitiu que foi por motivos fúteis e que seu irmão, também menor, havia assassinado outro jovem e “já estava solto”.
Além do movimento Caminhada pela Paz, a violência em Jardim, que também resultou no assassinato de um professor aposentado, morto por um grupo de adolescentes entre 15 e 17 anos, se estendeu para outros setores e parte da sociedade questionou até mesmo a realização do carnaval deste ano na cidade, período em que atrai grande número de turistas.
O prefeito de Jardim, Erney Cunha (PT), eleito vice-presidente da Associação dos Municípios de Mato Grosso do Sul (Assomasul), na última sexta-feira, realizou reunião na semana passada com a Polícia Militar para adotar medidas contra a violência e garantiu que o carnaval será realizado com grande aparato de segurança e a proibição de venda de bebidas alcoólicas para menores.
Familiares de Hellyson e Ney continuam inconformados com a escalada da violência em Jardim e, durante a Caminhada da Paz, exibiram uma faixa defendendo a maioridade penal para adolescentes, para que outras mortes de pessoas inocentes sejam evitadas na cidade e que os autores dos três assassinatos sejam punidos e não beneficiados pela legislação.
Outras manifestações devem ser realizadas na cidade se as autoridades constituídas não adotarem providências contra a violência, segundo os manifestantes da tarde de sábado. “É doloroso passar por aqui, onde meu filho foi covardemente assassinato por um grupo que teve um integrante beneficiado pela Justiça e que causou a escalada da violência em nossa cidade”, afirmou a mãe de um dos jovens assassinados.