23/01/2015 10h00
Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa serve como reflexão e busca pela liberdade do culto religioso.
Uma forma de preservar as tradições, idiomas, conhecimentos e valores dos primeiros negros africanos escravizados trazidos para o Brasil, as religiões de matriz africana foram incorporadas à cultura brasileira e se tornaram uma importante característica da identidade nacional.
Entretanto, o racismo ainda tenta impedir o culto à ancestralidade negra tornando seus adeptos vítimas recorrentes do preconceito e da intolerância.
Visando coibir outras atitudes discriminatórias e, como um ato em homenagem a Mãe Gilda, símbolo de um dos casos mais marcantes de preconceito religioso no país, em 2007 foi sancionada a Lei nº 11.635 que faz do 21 de janeiro o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
A data, que é celebrada por todos os praticantes das religiões de matriz africana, serve ainda como reflexão e motivação na busca pela liberdade do culto religioso e combate ao racismo.
Em outubro de 1999 o Brasil testemunhou um dos casos mais drásticos de preconceito contra os religiosos de matriz africana.
O jornal Folha Universal estampou em sua capa uma foto da Iyalorixá Gildásia dos Santos e Santos – a Mãe Gilda – trajada com roupas de sacerdotisa para ilustrar uma matéria cujo título era: “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”.
A casa da Mãe Gilda foi invadida, seu marido foi agredido verbal e fisicamente, e seu Terreiro foi depredado por evangélicos. Mãe Gilda não suportou os ataques e, após enfartar, faleceu no dia 21 de janeiro de 2000.
Sucessora de Mãe Gilda no Terreiro Axé Abassá de Ogum, Mãe Jaciara é taxativa quando expressa sua opinião. “
O maior problema para mim como Yalorixá de um Terreiro de Candomblé é o preconceito que as pessoas tem pela história e imagem distorcida que tem a respeito ao candomblé. As pessoas relacionam a nossa religião a práticas de magias negras e cultos demoníacos. Não poderia estar mais longe da verdade”.
Makota Valdina Pinto, do Terreiro Tanuri Junsara, em Salvador/BA, defende o direito à crença religiosa assegurado pelo Artigo 5º, inciso 6º da Constituição Federal. “Não podemos falar de intolerância sem relacioná-la ao racismo praticado contra as religiões afro-brasileiras”.
Filha de Exu com Iemanjá, Mãe Beata de Yemanjá é descendente de africanos escravizados e defensora da ancestralidade africana.
“Quando eu observo que alguém está levando a conversa para caminho da intolerância religiosa, eu uso o respeito e vivência para derrubá-lo. Precisamos estimular a consciência de que o Brasil é uma mistura de todas as raças e religiões”.
Mãe Stella de Oxóssi, Ialorixá do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, fundado em 1910 em São Gonçalo do Retiro-BA, afirma que sua luta é, e sempre será, pela igualdade de direitos: “Sigo esforçando-me para que a religião trazida pelo povo africano ao Brasil seja devidamente respeitada”. (Fundação Cultural Palmares)