30/01/2015 15h47 - Atualizado em 30/01/2015 15h47
G1
O resultado do exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) reprovou 55% dos estudantes recém-formados pelas faculdades paulistas em medicina. O maior índice de reprovação foi para alunos que estudaram em instituições particulares: 65,1%. Nas universidades públicas, a reprovação foi de 33%. Para o Cremesp, a má qualidade do ensino médico explica a baixa proficiência dos recém-formados.
"No Brasil, para ser médico hoje, basta pagar R$ 6 mil por mês", criticou Braulio Luna Filho, presidente do Cremesp e organizador do exame, em referência ao valor médio das mensalidades das faculdades particulares de medicina.Ele sugere que o Cremesp faça um acompanhamento dos recém-formados que não são aprovados no exame.
Renato Azevedo Júnior, primeiro-secretário do Cremesp, acrescenta: "As nossas escolas não fazem uma avaliação adequada dos alunos. Todos os alunos saem aprovados. Dos 100 alunos que entram, 100 saem formados."
O Ministério da Educação considera a crítica "inapropriada" e diz que "a melhoria da formação médica é prioridade", destacando a intensificação dos procedimentos de supervisão, aperfeiçoamento dos instrumentos de avaliação in loco para os cursos de medicina e implantação de um programa permanente de monitoramento.
Obrigatório, mas não impeditivo
Ao todo, 2.891 recém-formados, de 20 universidades particulares e dez públicas fizeram a prova, sendo 1.302 aprovados e 1.589 reprovados. Para ser aprovado, era preciso acertar 60% das 120 questões de múltipla escolha. Segundo o Cremesp, das 30 escolas participantes, 20 não conseguiram atingir a nota de corte. As cinco maiores aprovações foram de instituições públicas. As dez piores, de faculdades particulares.
Todo recém-formado que queira atuar como médico no estado de São Paulo tem que fazer a prova do Cremesp. Mas não passar no exame não impede o estudante de obter o certificado para exercer a medicina (CRM).
Tramita, no Senado Federal, desde 2004, o projeto de lei 217/2004 que exige a aprovação em um exame nacional de proficiência de medicina para exercício da profissão. Atualmente, nem a residência médica é exigida para que recém-formados trabalhem como médicos.
Riscos
Renato Azevedo Junior, sublinhou que o resultado do exame mostra o risco de profissionais não capacitados podem gerar. "Nós temos hoje certeza de que o recém formado que não consegue acertar 60% da prova tem graves problemas em sua reformação médica e não vai atender adequadamente a população."
O primeiro-secretário afirma que é preciso "estabelecer leis" para impedir que os reprovados exerçam a medicina no Brasil.
Os representantes do Conselho apontaram a má qualidade das instituições de ensino superior, as quais não teriam a estrutura para fornecerem um curso adequado para os alunos.
"São abertas escolas de medicina que não têm condições de formar um aluno de medicina. Não têm professores qualificados, não têm laboratório, não têm biblioteca, não têm nada. Pior, não têm hospital escola", enumerou Renato Azevedo Júnior, apontando em seguida o grande número de escolas de medicina no estado de São Paulo.