11/02/2015 16h00
Setor aposta que o dólar ficará firme no decorrer do ano, o que é favorável para as exportações.
Apesar dos preços relativos mais baixos da carne de frango, o cenário de altas das tarifas públicas.
Depois de um ano de desempenhos favoráveis tanto no mercado doméstico quanto no externo, o horizonte é nebuloso para as empresas brasileiras de carnes, ao menos no curto prazo.
No mercado doméstico, o quadro que se vislumbra é de provável retração na demanda - principalmente para as carnes mais caras -, uma vez que o consumidor vai enfrentar uma série de altas de custos em seu dia a dia, como os com energia e água. Custos, aliás, que também afetarão as empresas, segundo o jornal Valor Econômico.
"Ao mesmo tempo, o mercado externo, até meados de 2014 a maior fonte de boas notícias para o setor, também se tornou motivo de incertezas.
A principal razão é a queda dos preços do petróleo no mercado internacional, que reduziu a capacidade de compra de países produtores da commodity", afirma a notícia veiculada hoje.
De acordo com os autores da matéria, caso mais agudo é provavelmente o da Rússia - um dos maiores clientes do Brasil em carnes. Além de produtor de petróleo, o país sofre embargo da União Europeia, dos EUA e de outros países por conta da crise na Ucrânia.
Como resultado dessa combinação, viu sua moeda, o rublo, cair quase 49% em relação ao dólar desde julho do ano passado, conforme o Valor Data.
"A derrocada da moeda russa fez a demanda do país por carnes ter forte queda no último trimestre de 2014 - afetando as exportações brasileiras. E o cenário persiste, como mostram os números dos embarques em janeiro. Outros clientes do Brasil, exportadores de petróleo, como Venezuela e Angola, também reduziram as compras.
De acordo com dados da Secex, no mês passado, a receita com as exportações de carne de frango do Brasil caiu 14,3%, para US$ 494,4 milhões, na comparação com janeiro de 2013.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) reconheceu que a queda da cotações do petróleo "pode ter influenciado a eventual falta de crédito" de alguns países importadores.
As vendas externas de carne bovina in natura também foram afetadas. Em janeiro, a receita somou US$ 326,4 milhões, recuo de 28,8% sobre o mesmo intervalo de 2013.
Já as exportações brasileiras de carne suína in natura recuaram 20,28% na comparação, para US$ 64,5 milhões", atestam.
"Ainda que o desempenho de mercados como a Rússia preocupe, empresas exportadoras apontam a atual valorização do dólar como favorável para o segmento, já que torna os produtos brasileiros mais competitivos.
"Estamos confiantes de que o dólar ficará firme no decorrer do ano, o que é favorável para as exportações", afirma Renato Costa, presidente da JBS Carnes, divisão de carne bovina no Brasil da JBS S.A.
Em relação aos riscos que a atual volatilidade do dólar gera, ele diz que a empresa tem instrumentos de hedge para proteção da moeda", conta a notícia.
O executivo diz que os importadores russos estão retomando os negócios depois de uma "recuada" que normalmente ocorre no fim do ano em decorrência do período de inverno.
Ele observa que "o consumidor não deixará de comer", mas reconhece que a desvalorização do rublo deve levar a uma "acomodação" nos preços de venda à Rússia. "Mas não vai cair na mesma proporção que o rublo caiu", avalia.
De acordo com o jornal, apesar da Rússia, Costa afirma que as perspectivas são positivas para a China, que está retomando as importações de carne bovina após um período de embargo devido ao caso atípico de vaca louca em Mato Grosso.
Afora isso, a expectativa é de que os Estados Unidos finalmente abram seu mercado à carne in natura do Brasil.
"José Humberto Prata Teodoro Júnior, diretor de global desk da BRF, também reconhece que o cenário é desafiador nos mercados exportadores de petróleo, como Rússia e Angola. Segundo ele, já há clientes com dificuldade para obter financiamento para importar do Brasil.
A situação, porém, é mais confortável na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes, diz o executivo, apesar de a região ser uma grande exportadora de petróleo. Isso porque o nível de reservas de dólares desses países é elevado, o que permite a manutenção das compras.
Com 44% de sua receita proveniente das vendas externas em 2013 (último dado anual disponível), a BRF, que exporta carnes de frango e suína, principalmente, faz neste momento um esforço para se tornar cada vez mais global e estar "mais preparada" para lidar com momentos desafiadores como o atual, afirma Teodoro Júnior.
Ele cita o plano da BRF de criar uma "marca verdadeiramente global", que seja reconhecida como local no lugar onde atua, o que já acontece com marca Sadia na Arábia Saudita, por exemplo.
Para isso, ressalta, a empresa tem investido em estruturas de produção ou parcerias em regiões com demanda importante, caso da fábrica de Abu Dhabi e da recente joint venture fechada com a Indofood na Indonésia. "Há um esforço para aumentar a presença da empresa" em várias regiões do mundo, completa".
Segunda maior exportadora de carne bovina do país, a Minerva Foods segue "bastante otimista" com o desempenho da vendas externas, afirma o diretor financeiro da empresa, Edison Ticle. Para ele, "os dados [das exportações] de janeiro revelam algo pontual".
Em sua visão, o quadro global de oferta e demanda de carne bovina é amplamente favorável para a América do Sul, já que há escassez de oferta de carne bovina no mundo e restrição na disponibilidade de rebanho bovino nos EUA e Austrália, conta a reportagem.
"Ticle destaca ainda a demanda aquecida no Sudeste Asiático e também no Oriente Médio. Mesmo em relação à Rússia, o diretor da Minerva minimiza os impacto da queda dos preços do petróleo.
Segundo ele, o efeito não é de redução de consumo, mas de migração para cortes de carne bovina mais baratos.
"Continuamos acreditando em [maior] volume exportado pelo Brasil, principalmente da Minerva, que tem viés exportador", afirma ele. As exportações representam dois terços do faturamento da companhia.
Em relação ao mercado doméstico, o esperado aumento de custo de vida deve reforçar a migração do consumidor para proteínas mais baratas como o frango, e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro, divulgado na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reforçou que a carne de frango está mais competitiva que as concorrentes.
Pelo IPCA de janeiro, o item carnes - inclui os cortes de carne bovina e carne suína - registrou alta de 1,55%, sendo responsável por 2,85% da alta de 1,24% do índice geral no mês passado.
Em contrapartida, o item aves e ovos, que inclui a carne de frango, teve queda de 0,38% em janeiro.
Apesar dos preços relativos mais baixos da carne de frango, o cenário de altas das tarifas públicas diz José Carlos Godoy, secretário-executivo da Apinco (Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte), questionar se o consumidor terá condições de comprar frango, mesmo sendo um produto mais barato. "Não vai sobrar dinheiro para nada", diz, ponderando que esse cenário é temporário.
Além disso, ele indaga se o próprio setor de aves conseguirá manter o ritmo de produção diante da falta de água e do aumento do custo de energia.
Ticle, da Minerva Foods, reconhece que a perspectiva não é promissora para o mercado doméstico. "É um ano de PIB com crescimento pequeno ou até mesmo retração e inflação mais alta. Isso tudo implica redução da renda real.
Então, não dá para esperar expansão do consumo", avalia. Ainda assim, ele não prevê redução no volume vendido de carne bovina no Brasil.
"Não deve apresentar crescimento significativo de volume e preço. Mas isso não quer dizer que o volume vai cair", acrescenta", atestam. (Avisite)