07/04/2015 08h29
O setor de orgânicos, pouco a pouco, começa a ganhar o interesse dos brasileiros. Se nos alimentos a procura por esses itens naturais já registra um crescimento considerável – 25% em relação a 2013 – e a categoria possui uma regulamentação em vigor, no setor de cosméticos os avanços ainda não chegaram a esse grau de maturidade.
Além de concorrerem com grandes marcas tradicionais do ramo, os produtos de beleza orgânicos não possuem uma legislação específica nem registro na Anvisa.
Ainda assim, vem aumentando o número de empresas dispostas a atuar de forma a causar menos impacto no meio ambiente e a recorrer ao termo “natural”.
Esse crescimento é reflexo de uma cultura que surge a partir da mudança do comportamento do consumidor.
Cada vez mais informado, ele passa a cobrar das empresas atitudes que sejam compatíveis com o meio ambiente e que tragam benefícios mais reais durante o uso.
A preocupação com a sustentabilidade precisa estar presente não apenas na confecção da embalagem, mas em todo o processo de produção, incluindo o tipo de colheita da matéria-prima que será usada.
Segundo estudo da Organic Monitor, o setor de cosméticos orgânicos movimenta cerca de US$ 9 bilhões em todo o mundo, representando 2% do mercado total.
As oportunidades para esse nicho, portanto, são grandes e exigem maior investimento em ações de Marketing das marcas, para atraírem e fidelizarem consumidores. “Esse segmento de qualidade de vida e de itens naturais e orgânicos concentra pouca oferta.
Aqui no Rio de Janeiro, mesmo os grandes supermercados possuem uma quantidade mínima desses produtos e, ainda assim, voltada somente para os alimentos.
Para conseguir um item como maquiagem ou de higiene é preciso buscar lojas especializadas. Criamos, por isso, um marketplace chamado Holis, voltado a esse setor”, conta Carolina Senna, Diretora de Planejamento e Negócios da Personare, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Se na alimentação são, muitas vezes, as intolerâncias que levam as pessoas a procurarem por itens com apelo de saudabilidade, na beleza são algumas alergias ou descobertas de malefícios de compostos químicos que fazem com que a pessoa busque experimentar um produto diferenciado.
De acordo com o Instituto de Marketing Natural, o grupo consumidor de orgânicos e naturais é formado por pessoas com faixa etária mais avançada e com níveis cultural, financeiro e educacional mais elevados, cientes do impacto do uso deles.
Por outro lado, o interesse em conhecer uma nova marca, que apresente uma proposta de engajamento, existe entre consumidores ocasionais também, que em algum momento estão dispostos a pagar mais caro por curiosidade.
“Do fluxo de visitas em nosso site, 46% são destinados a cosméticos, sendo 30% maquiagem, 10% cabelos e 6% produtos masculinos.
Em relação às compras efetuadas nessa categoria, 77% são de cosméticos orgânicos. Isso mostra que o setor ainda se consolidará.
Existe procura e interesse pelos itens, mas falta um acesso mais fácil a eles. Com a internet, os clientes têm descoberto mais opções”, conta Carolina.
No Shopping Holis, o ticket médio de compra de produtos de beleza é de R$ 45,00, enquanto dos demais itens é de R$ 98,00.
“Vemos por essa diferença de gasto que eles veem esse tipo de consumo como um teste, principalmente porque a maioria das marcas é desconhecida do grande público.
Geralmente, eles compram um sabonete, xampu, hidratante ou um de nossos kits que são destinados a ações sensoriais, como kit autoestima, kit estresse. Além disso, há um detalhe que faz com que a procura aumente, que é a Aromaterapia.
Esse é um segmento interessante que vem aumentando, os clientes querem o benefício imediato”, afirma Carolina.
Sabendo das expectativas dos consumidores diante de um artigo natural ou orgânico, as empresas devem investir em melhorias que diminuam as diferenças em relação a um item tradicional, como embalagem, fragrância e densidade.
Isso porque muitas pessoas têm a expectativa de que nada será diferente do que já utilizam, a não ser a questão ambiental.
Algumas marcas, no entanto, pouco investem nos frascos e rótulos, gerando baixa atratividade, além da formulação que dá menos espuma em caso de sabonetes e xampus.
Fabricar produtos naturais e orgânicos não é algo que seja feito com roteiro e passo a passo. Os empresários desse ramo, muitas vezes, são ligados a causas sociais e ambientais. Por isso, a maioria não realiza testes em animais – ação que ainda é recorrente nas marcas tradicionais de beleza.
A preocupação com o descarte correto de resíduos também é uma constante, que cada vez mais começa a ser considerada no momento em que se adquire um batom, sabonete, esfoliante ou desodorante. Esses são itens utilizados com frequência e que geram uma quantidade considerável de lixo.
A Lush foi além das embalagens recicladas e adotou o uso de produtos “pelados” na entrega ao consumidor.
“Utilizamos plástico reciclado tanto para garrafas quanto para os envios. Cerca de 40% do nosso portfólio não necessitam de invólucro.
Tudo que fazemos está dentro do conceito vegano e vegetariano, mas também temos compostos químicos que não agridem a pele e são hipoalergênicos, para completar a base de produtos.
Em nosso site, tudo é explicado, para que o comprador saiba cada detalhe do que ele estará usando”, afirma Renata Pagliarussi, Gerente Geral da Lush Brasil, em entrevista ao Mundo do Marketing.
A mudança no comportamento do consumidor brasileiro em relação aos produtos naturais e orgânicos foi sentida pela empresa britânica, que há alguns anos possuía pontos de venda no Brasil, mas que não tinham grande sucesso.
O mercado nacional, no entanto, passou por uma mudança e o país ganhou destaque no setor de Higiene e Beleza. “Devido à quantidade de pedidos, voltamos e não teríamos como não estar aqui.
A população está mais consciente, tivemos um boom de consumo que permitiu o acesso a diversas marcas e houve uma compra indiscriminada. Agora, ela está mais responsável”, conclui Renata. (Mundo do Marketing)