23/06/2015 07h34 - Atualizado em 23/06/2015 07h34
Cimi
Um grupo de indígenas Guarani e Kaiowá do acampamento de Kurusu Ambá, no cone sul do Mato Grosso do Sul ocupou, durante a madrugada de anteontem, a sede de uma fazenda numa área que, segundo o Cimi, compõe o território tradicional reivindicado pela comunidade.
A recuperação territorial ocorreu, conforme lideranças ouvidas pelo Cimi, porque a comunidade “não aguenta mais viver debaixo do veneno, com fome e esperando pelo governo”. Segundo Tapé Rendy, assim identificado por razões de segurança, “logo depois que montamos acampamento na retomada, nos atacaram. Pistoleiros atiraram por cima de nossas cabeças, gritaram xingamentos, mas não foi só pistoleiro não”.
O Ministério Público Federal (MPF), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Polícia Federal foram acionados. “O que pedimos aqui é proteção porque temos direito de ter nossa terra, de garantir vida melhor pras crianças. Kurusu Ambá já teve criança que morreu de fome, liderança que morreu de tiro. A Xurite Lopes, então. Mataram ela com tiro pelas costas, feito animal”, lembra Tapé Rendy.
Desde 2007, mais de dez lideranças indígenas morreram durante retomadas no território que abrange o tekoha - lugar onde se é – Kurusu Ambá. A matriarca Xurite Lopes foi uma delas. Todavia, a dezena de mortes não sensibilizou o governo brasileiro: a demarcação de Kurusu segue paralisada e as ameaças contra as atuais lideranças avolumam relatos e denúncias às autoridades e organizações de direitos humanos no Brasil e no exterior. A última foi feita no final do último mês de abril por Elizeu Guarani e Kaiowá em Nova York, durante o Fórum Permanente para Questões Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU). Ao retornar do Fórum, Elizeu sofreu mais uma ameaça de morte.
A fome também é um outro sério problema em Kurusu Ambá. Ilhados por plantações de soja, os indígenas não conseguem plantar e as únicas fontes de água foram poluídas pelos agrotóxicos lançados sobre o monocultivo. Crianças morrem de fome, de doenças geradas pelo contato com o veneno. Por conta disso, enviaram no natal de 2012 uma carta para a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República denunciando o que sofrem. A realidade não mudou. Mais uma retomada ocorreu.
Enquanto isso, a situação da demarcação segue na mesma: um Grupo de Trabalho Técnico (GT) da Funai foi instaurado em 2008. A terra indígena foi identificada pelo órgão indigenista, mas a demarcação não foi adiante. No começo deste mês de junho, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, ao lado da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão da Procuradoria-Geral da República (PGR), visitaram aldeias Guarani e Kaiowá para produção de relatório daquilo que consideram um dos maiores crimes contra os direitos humanos de povos indígenas no mundo.