13/07/2015 07h28
Emblemático caso do menino Bernardino, ocorrido na década de 1920 e que suscitou primeiras discussões sobre maioridade penal no Brasil, é abordado por professora da UnB; para a jurista, episódio deve ser contemplado em debate nacional.
O caso de Bernardino, garoto brutalmente violentado na cadeia aos 12 anos de idade, foi resgatado recentemente pela Agência Senado para lembrar de quando o País instituiu a primeira legislação específica para a infância e a adolescência.
"Quase 100 anos depois, nós esquecemos Bernardino, nós não contamos a sua história", lamentou ao Portal Brasil a professora Debora Diniz, da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB).
Um ano depois de o pequeno engraxate conhecer o cárcere, em 1927, o governo do presidente Washington Luís baixou o Código de Menores, estabelecendo os 18 anos como o marco etário penal brasileiro.
“A história deve nos provocar uma pausa no debate sobre a redução maioridade penal”, defende Debora.
Em depoimento exclusivo, ela relata o caso paradigmático de Bernardino. “Há quase 100 anos, o Brasil enfrentou a discussão sobre qual deveria ser a idade da responsabilidade penal no Brasil por meio de uma história trágica”, afirma.
“O juiz, baseado na cara de Bernardino, que era um menino negro, disse: o seu destino é a prisão”, acrescenta.
Aprovada em primeiro turno de votações pela Câmara Federal, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 171, que propõe reduzir a maioridade penal para 16 anos, tem sido alvo de duras críticas por parte de parlamentares contrários à medida.
A PEC, no entanto, ainda será votada pela Casa novamente antes de seguir para o Senado. Na avaliação de Debora, o caso de Bernardino deve ser levado em conta por deputados e senadores.
“Nós estamos falando de 1927, quando este País decidiu que 18 anos deveriam ser o limite para falarmos de adultos ou de pessoas em desenvolvimento, para proteção da lei penal”, indicou.
“Uma multidão de outros meninos como ele (Bernardino), com a mesma cor dele e com a mesma precariedade de vida, querem agora colocar na prisão, como forma de solucionar um problema social muito maior”.(Portal Brasil)