17/07/2015 08h03 - Atualizado em 17/07/2015 08h03
Mário Tompes - professor de Planejamento Urbano da UFGD. E-mail: [email protected]
A cidade é uma das mais geniais invenções humana. A mais importante função das cidades é proporcionar o encontro e a interação entre as pessoas. São esses encontros que tornam possível as trocas econômicas (mercado), o surgimento de inovações, a produção de riquezas, os fluxos de informação etc. No entanto, as cidades, dependendo da forma que sejam organizadas, podem apresentar maior ou menor capacidade de cumprir com essa função primordial de aproximar as pessoas.
O acúmulo de conhecimentos proporcionado por sucessivas experiências práticas de planejamento urbano vêm demonstrando que a forma mais eficiente das cidades cumprirem com seu papel de induzir a inter-relação entre os indivíduos e os seus desdobramentos virtuosos é através de uma estratégia que possibilite colocar mais gente junta em um espaço urbano menor. Em outras palavras é necessário elevar o adensamento dos habitantes e das edificações na cidade. E simultaneamente adotar o uso misto do solo, ou seja, misturar as diferentes atividades (moradia, serviços, comércio e lazer) dentro dos bairros que constituem a cidade.
Há uma aceitação crescente entre planejadores urbanos que o mais desejável, sustentável e economicamente racional é trabalhar na direção de cidades menos extensas, mais verticalizadas, compactas e com uso misto do solo.
Os benefícios dessa estratégia são diversos. Evitar o crescimento horizontal (extensivo) da cidade o que possibilitará preservar estoques de terra para a produção agropecuária, além de resguardar os biomas naturais. Residir em cidades compactas, verticalizadas e com uso misto do solo significa encontrar-se sempre próximo do local do emprego, da escola, do supermercado e das infraestruturas, assim não há necessidade de grandes deslocamentos, de utilizar o carro frequentemente. Isso reverte em economia de energia (combustível fóssil), menos poluição e estilo de vida mais saudável, porque caminha-se mais.
Infelizmente, quando confrontamos essas orientações do planejamento urbano contemporâneo com o atual padrão de crescimento do espaço urbano douradense, verificamos um descolamento entre essas novas recomendações de gestão urbana e o que efetivamente ocorre em nossa cidade.
Um sintoma desse descolamento foi a decisão da Prefeitura de ampliar em mais de duas vezes e meia o perímetro urbano douradense (de 81,4 Km2 para 129,4 km2).Tal decisão se baseia na ideia simplória de que se isso favorece o crescimento, então é uma medida acertada. No entanto, essa decisão equivocada passou a estimular o crescimento extensivo e espraiado da cidade. Uma cidade que cresce dessa forma assemelha-se, metaforicamente, a uma pessoa que paulatinamente torna-se mais e mais obesa. Ganhar peso em excesso produz más consequências a longo prazo: problemas cardíacos, pressão alta, diabetes etc.
O mesmo se aplica para o crescimento espraiado adotado em Dourados, baseado na multiplicação de loteamentos horizontais e monofuncionais (predominantemente residenciais). A exemplo da obesidade, isso vai trazer problemas para a cidade no futuro. Os custos financeiros desse modelo de expansão serão elevados e o preço será cobrado dos contribuintes douradenses que terão de financiar todos os serviços que esses novos loteamentos exigirão (escola, creche, posto de saúde, coleta de lixo etc.).
Sai mais caro também para os futuros moradores desses loteamentos situados cada vez mais distantes do centro da cidade. Eles terão que dispender mais dinheiro com combustível e sacrificar mais tempo de deslocamento para seu local de trabalho, para abastecer-se no comércio ou para o lazer. Eles também perdem ao bancar o custo da infraestrutura implantada nesses novos loteamentos (pavimentação, redes de esgoto, água, energia etc.) cujo valor já está embutido no preço que pagam nos lotes que adquirem.Com essa estratégia, poucos ganham (loteadores) e muitos perdem (contribuintes, poder público e moradores).
Contraditoriamente a área melhor servida por infraestrutura da cidade – o centro e adjacências –por ter uma ocupação predominantemente horizontalizada (edificações térreas ou com dois ou três andares) e um baixo estoque de moradores fixos - apresenta capacidade ociosa na utilização do conjunto de suas infraestruturas. Ou seja, apesar de nessas áreas já existirem instaladas redes de energia elétrica, iluminação pública, coleta de esgoto, água tratada, telecomunicação, água pluvial etc. com capacidade de atender uma população muito superior à que lá existe hoje, tais investimentos encontram-se subutilizados.
No entanto, não necessitava ser assim. Dourados apresenta condições favoráveis para a adoção do modelo de cidade compacta. Para realizá-lo tudo o que o poder público necessita é adotar uma política que privilegie um crescimento urbano vertical, (baseado em edifícios),sobretudo nessas áreas centrais já dotadas de infraestrutura, ao invés do atual crescimento horizontal em lugares sem infraestrutura.Tal opção reduziria enormemente os custos do crescimento da cidade.
Por outro lado, a área central e regiões adjacentes além de bem dotadas de infraestruturas, apresentamuma gama de opções de comércio, serviços e lazer já implantados. Com a intensificação de sua ocupação todos ganhariam: Os novos moradores disporiam de comércio a poucos passos de suas residências e os comerciantes ampliariam significativamente sua clientela.
Porém, para a viabilização dessas mudanças, há a necessidade de estímulos à construção de edifícios (preferencialmente com comércio no térreo e apartamentos nos andares superiores), sobretudo na área central e redondezas.
Tais transformações, são importantes não apensas por colocar Dourados em sintonia com a concepção contemporânea de como devem ser a cidade e a sua gestão, mas, principalmente porque essas mudanças trazem ganhos palpáveis para os douradenses, reduzindo seus custos financeiros, poupando seu tempo de deslocamento, aperfeiçoando a qualidade ambiental de seu espaço de vida e catalisando uma interação mais intensa entre seus moradores com os muitos benefícios que daí decorrem.