Por: Flávio Verão - 07/10/2015 14h20 - Atualizado em 07/10/2015 14h20
Indícios de envenenamento de um Jequitibá, ao lado de um condomínio de luxo em Dourados, chama a atenção para os diferentes tipos de extermínios de árvores. A forma de decretar a morte da espécie centenária foi descoberta e levou o Instituto do Meio Ambiente (Imam) denunciar o caso no Ministério Público Estadual (MPE), responsável a partir de agora pela investigação do crime ambiental. Porém, a principal matança de árvores em Dourados ocorre de outra forma: poda de raízes.
O jequitibá foi perfurado provavelmente com o uso de uma broca e, no buraco, aparentemente colocado veneno. "Constatamos que há indícios de veneno, mas somente após investigação e laudo do MPE é que vamos confirmar", diz Rogério Yuri Farias Kintschev, diretor do Imam. A falta de leis mais rígidas, segundo ele, muitas vezes propicia às pessoas exterminarem espécies.
A descoberta do suposto envenenamento foi feita por integrante do grupo "Adote uma árvore", que estranhou frutos do Jequitibá fincados ao tronco, próximo a raiz. Ao retirá-los foi possível constatar o suposto veneno. O caso foi denunciado no Imam. Não há estatística formal sobre quantidade de árvores envenenadas na cidade, porém, o órgão ambiental estima ter recebido quatro denúncias nos últimos três anos.
Mas é a poda mal feita de raízes ao longo dos anos que é apontada como uma das causas de extermínio de árvores. A engenheira agrônoma Rosilene Ferreira, responsável na prefeitura pelo setor de liberação de corte e podas de árvores nos passeios públicos em Dourados, diz que a poda de raízes tem comprometido a vida de árvores.
"Quando chega pedidos de cortes, vamos até o local e tem sido recorrente o perigo de desabamento de árvores em razão do corte de raiz", diz a engenheira, que atua na Secretaria de Serviços Urbanos (Semsur). Esses cortes, segundo ela, ocorrem das mais diferentes formas. Entre elas estão obras de rede de esgoto e consertos de calçadas. "Acabam cortando raízes e o problema surge lá na frente, quando a árvore começa a definhar e oferecer riscos", explica. O envenenamento de árvores, segundo ela, é difícil de descobrir na maioria dos casos, sendo raro encontrar alguma espécie sendo exterminada através de furos no tronco, como aconteceu com o jequitibá. Essa prática é antiga, mas quase ninguém usa. Na maioria das vezes, as pessoas jogam veneno próximo às raízes, por vários dias.
Problema
Com cerca de 250 mil árvores, a maioria (70%) dentro de quintais, Dourados é uma das cidades mais arborizadas do Estado. Grande parte da flora é composta por espécie sibipiruna, aquela da folha pequena. Porém, nos últimos 15 anos, os douradenses vem substituindo essas árvores, que fazem sujeira durante o outono, pela espécie Oiti, muito na moda. Esta árvore é conhecida pela estética ao serem podadas; muitos preferem deixá-las redondas e em baixa estatura.
O problema é que as podas reduzem o tempo de vida da Oiti para cerca de 20 e 25 anos. "Isso trará problemas para Dourados no futuro", diz Rosilene Ferreira, referindo-se a uma possível morte de árvores em larga escala. Porém, se não fizer poda, a Oiti torna-se uma árvore muito grande e produz frutos que atrai morcegos, podendo ser um problema à saúde pública. Ela recomenda a população plantar outras árvores, pois Dourados já ultrapassou do limite recomendado de 10% de uma única espécie, no caso a Oiti.