21/10/2015 06h45 - Atualizado em 21/10/2015 06h45
Valéria Araújo
O novo bispo diocesano de Dourados, que será anunciado pelo Papa nesta manhã, terá como desafio a luta pela pacificação entre índios e agricultores em Mato Grosso do Sul. A afirmação é de Dom Redovino Rizzardo, que deixa o governo episcopal da diocese de Dourados depois de 14 anos.
Redovino diz que termina sua missão com sentimento de tristeza por não ter visto o governo federal resolver de vez a situação agrária no Estado. “Apesar de todas as promessas que vem desde o governo Lula e de todos os esforços que todos os bispos de Mato Grosso do Sul fizeram para sensibilizar a União de que é necessário indenizar de forma justa os agricultores e pagar não só pelas benfeitorias, mas pela terra nua, não conseguimos tornar realidade este desejo. Nós temos que estender nossa mão para índios e fazendeiros e a igreja busca o entendimento sem que ninguém seja prejudicado. Muitas vezes chegamos a ser interpretados de forma equivocada, mas nunca fomos contra este ou aquele. Somos a favor de um entendimento para que o derramamento de sangue cesse em nosso Estado. Temos que deixar claro que a igreja apoia índios e fazendeiros que dependem da terra para sobreviver e esperávamos que o governo fizesse justiça, o que não ocorreu até hoje”, destaca observando que essa situação de buscar um entendimento chegou a causar um desconforto para a igreja porque algumas pessoas interpretaram de forma equivocada este trabalho.
Por outro lado, Dom Redovino diz que conclui sua administração com o sentimento de alegria pelas conquistas que a igreja teve ao longo dos últimos anos. Questionado pelo o PROGRESSO, ele diz que acredita ter deixado uma diocese melhor religiosamente . “Percebo que houve uma caminhada em conjunto e a impressão que temos hoje é que estamos vivendo num ambiente de mais união, esperança e alegria”, destaca observando a última romaria que contou com mais de 5 mil pessoas que foram até a vila São Pedro a pé num sinal claro de fé. Redovino também destacou o crescimento da Igreja. Segundo ele, durante o período que esteve a frente da Diocese, foram construídas 18 paróquias em cidades vizinhas que não contavam com a estrutura. Também foram ordenados 38 novos padres missionários, sendo a maioria de Dourados.
Questionado sobre a reforma da Catedral, ele afirma que foi um dos grandes marcos da Diocese nos últimos anos, fruto dos esforços do padre Crispim, dos fiéis, dos movimentos da igreja e lideranças. “Nos últimos anos foram construídas 12 novas igrejas e como bispo tenho que aplaudir e apoiar estas iniciativas. Só tenho que agradecer a Deus e ao povo por estas manifestações tão bonitas”, comemorou. Dom Redovino também disse que o grande projeto dele, que é o que o Papa Francisco prega, é o de aproximar a igreja do povo e que sua missão contou com papel fundamental dos movimentos eclesiais, pastorais, entre outros.
Neste sentido ele destaca a postura do papa Francisco que se manifestou pelo acolhimento da Igreja para pessoas homossexuais e divorciados, se tornando algo inédito no catolicismo. “Nós temos que seguir o exemplo de Jesus Cristo que acolhia a todos. A igreja tem sua forma de pensar de acordo com o evangéli e nessa caminhada se aproxima de pessoas que divergem dela. Não podemos agir com preconceito, mas sim buscarmos iniciar uma caminhada de respeito aos demais”, destaca.
CARGO
Conforme noticiado no último dia 13, no ano passado Dom Redovino completou 75 anos, idade limite para apresentar sua renúncia do cargo, seguindo as normas da Igreja Católica. Hoje, aos 76 anos, ele se despede após 14 anos à frente da diocese de Dourados.
Para dar continuidade ao trabalho que Dom Redovino vem desenvolvendo, o Papa Francisco anunciará o nome do novo bispo. Dom Redovino acompanha o anúncio com encontro com lideranças católicas e imprensa na paróquia São Francisco de Assis, a partir das 7h30. Rizzardo diz que pretende continuar morando em Dourados, onde se dedicará aos tratamentos de sua própria saúde. Mas, a partir da nomeação e ordenação, a diocese passará a ser conduzida pelo bispo sucessor, período que deve demorar entre dois e três meses.