06/11/2015 08h00
Há alguns anos, o Brasil gerava pouca energia limpa e renovável a partir da biomassa, mas isto vem mudando em todo o território nacional.
Atualmente, existem vários produtos e subprodutos que vêm sendo utilizados pelas usinas termoelétricas, dentre eles o bagaço da cana-de-açúcar, madeiras de eucalipto e de pinus, e até banana.
A mais recente novidade do setor é que, nos próximos anos, seis termoelétricas em Mato Grosso do Sul vão gerar energia a partir da queima de madeira de eucalipto, o que é uma boa notícia para todo o País.
Outras cinco novas empresas vão se instalar no Sul do Estado nos próximos meses e todas vão utilizar este recurso como matéria-prima.
Referência na produção de energia limpa e renovável, a biomassa somou, até abril deste ano, 12.417 megawatts (MW) de potência instalada, representando a terceira fonte mais importante da matriz elétrica brasileira, resultando em uma capacidade de geração de energia superior à da Usina de Belo Monte (no Pará).
O segmento fica atrás apenas da hidroeletricidade (66,1%) e do gás natural (9,5%), conforme dados mais recentes, divulgados em junho passado, pelo Ministério de Minas e Energia (MME).
O órgão ainda destacou que, em dez anos, a capacidade instalada em usinas termoelétricas nacionais, a partir da biomassa, teve acréscimo de 8.362 MW, se comparado a abril de 2005.
A previsão é que, nos próximos três anos, entrem em operação mais 1.750 MW desta fonte, que já estão contratados. Outros 2.400 MW são previstos para entrar em operação até 2023.
De acordo com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso do Sul (Senar-MS), as usinas sucroalcooleiras e as fábricas de celulose – tanto do Estado quanto do País – já produzem energia a partir da biomassa. As empresas armazenadoras de grãos, os aviários e os frigoríficos, por exemplo, já vêm utilizando a madeira e o cavaco do eucalipto para gerar calor e energia.
O cavaco é um recurso renovável retirado da própria madeira, que é triturada por picadores móveis e industriais. As lascas também são usadas como subprodutos nas fábricas de celulose, mas em conjunto com a madeira.
Em sua maioria, o cavaco é destinado à produção de energia em fornos e caldeiras, oferecendo boas características energéticas.
Este subproduto da madeira de eucalipto apresenta baixo custo de aquisição; menor risco ao meio ambiente, por ser um recurso renovável; suas emissões não contribuem para o efeito estufa; e as cinzas são menos agressivas se comparadas aos combustíveis fósseis, a exemplo do petróleo.
“As termoelétricas de geração de energia, a partir da biomassa de madeira, não existiriam sem o eucalipto e o pinus.
As usinas de açúcar e de álcool, que produzem energia elétrica para o consumo próprio – assim como as fábricas de celulose –, e revendem o excedente ao mercado, agora utilizam os cavacos de eucalipto o ano todo (antes, era só na entressafra). Isto porque, segundo pesquisas, descobriu-se que a biomassa do eucalipto melhora a queima e a caloria do bagaço de cana, subproduto usado na geração de energia”, explica Paulo Cardoso, consultor em silvicultura e organizador do Programa Mais Floresta, do Senar-MS.
Cardoso salienta que, para os produtores de florestas sul-mato-grossenses (silvicultores), este novo mercado vem crescendo a partir da energia limpa e renovável, agregando valor aos seus negócios.
De acordo com ele, a biomassa ganha força em um momento em que a demanda mundial está voltada para o aperfeiçoamento da matriz energética, substituindo fontes fósseis e poluentes por combustíveis ecologicamente corretos.
“A queima de madeira de eucalipto só é menos viável e ecologicamente sustentável que a energia eólica, embora a queima do bagaço de cana, um subproduto já disponível dentro das usinas, tenha um custo menor de produção”, ressalta Cardoso, reforçando que a madeira de eucalipto precisa ser colhida, picada e transportada até a usina, daí seu custo ser um pouco maior.
Para os silvicultores em geral, o cenário da geração de energia elétrica a partir da biomassa é bem promissor.
Mesmo assim, Cardoso afirma que “não existe método ou condições de venda melhor ou pior. Isto depende muito da distância que o produtor e sua floresta estão da empresa consumidora.
Algumas pagam mais, outras menos. Mas a indústria da biomassa já vem crescendo muito, nos últimos anos, tanto para a produção de energia como para o aquecimento e secagem de grãos”.
Para auxiliar a silvicultura regional na produção de energia a partir da biomassa, Cardoso relata que o Programa Mais Floresta, do Senar-MS, é hoje o único voltado para pequenos e médios produtores rurais no Estado.
“Em âmbito nacional, um trabalho semelhante vem sendo realizado pela Comissão de Silvicultura e Agrossilvicultura da CNA (Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária), chamado de Programa Mais Árvores.”
Em MS, “também pretendemos difundir o potencial da silvicultura nas diferentes regiões, até porque o segmento é promissor e está em expansão no Estado, tanto pela produção de papel como de energia”, reforça Cardoso.
Para auxiliar na capacitação técnica dos produtores florestais sul-mato-grossenses, o Senar-MS oferece oito cursos na área de silvicultura. “Estamos criando cursos sobre o setor de biomassa, por meio de parcerias, para serem ministrados a partir de 2016”, informa.
Após ser realizado nos municípios sul-mato-grossenses de Três Lagoas e Maracaju, chegou a vez da cidade de Dourados receber o Programa Mais Floresta, neste dia 6 de novembro.
Convidado desta edição, o consultor e empresário José Carlos Bianchini Sottomaior, da Ecoproducts, vai apresentar em sua palestra as novidades em termos de equipamentos e tecnologias avançadas para a produção de biomassa não só de florestas, mas também de resíduos agrícolas e urbanos.
“Por ser um produto natural, de fácil manuseio e elevada densidade energética, a biomassa do eucalipto – tanto na forma de cavaco como de pellet – tem como principal aplicação a geração de energia térmica, mas também pode ser utilizada como combustível para a geração de energia elétrica em indústrias, usinas termoelétricas e até na propriedade rural”, adianta Sottomaior.
Ele ainda destaca a existência de um mercado de pellet crescente no Brasil. “Mato Grosso do Sul tem um grande potencial, mas para alcançar eficiência na produção deste biocombustível a partir da biomassa, é preciso bem mais do que empresários dispostos a investir em uma tecnológica indústria de grande porte.
A competitividade global depende, acima de tudo, de competência política. E, a meu ver, o governo do Estado está indo no caminho certo”, salienta o consultor.
Para mais informações sobre o Programa Mais Floresta em Mato Grosso do Sul, acesse www.senarms.org.br/projetos/mais-floresta.(Com informações do Senar-MS e do Ministério do Meio Ambiente / Sociedade Nacional de Agricultura)