Guarda Mirim abre unidade na Reserva Indígena
Por: Flávio Verão - 21/09/2016 10h36
A Reserva Indígena de Dourados, formada pelas aldeias Jaguapiru e Bororó, está prestes a ganhar uma Guarda Mirim Indígena (GMI). Um estatuto está sendo elaborado e, até dezembro, serão abertas inscrições para início de aulas em fevereiro do ano que vem. Inovador, o projeto tem como objetivo tirar os adolescentes do crime, das drogas e resgatá-los para a escola, já que para participar da Mirim é preciso estar matriculado. Muitos jovens na Reserva abandonam cedo os estudos.
A primeira etapa para criação da Guarda Mirim Indígena já foi dada, com a constituição da diretoria que é composta pelo presidente Ramão Fernandes (Jaguapiru), o vice-presidente Gaudêncio Benitez (Bororó), a primeira secretária Clarissa Echeverria, e o conselheiro fiscal Silvio de Leon, todos indígenas. Ontem à tarde foi realizada uma reunião onde foi debatido o estatuto da GMI, em fase de elaboração.
"Queremos mudar a realidade da Reserva Indígena e, se trabalharmos bem com os adolescentes, vamos ter muitas conquistas num futuro próximo", avalia o presidente Ramão Fernandes. A Guarda Mirim Indígena funcionará no mesmo molde da Guarda Mirim de Dourados, criada em 2014, com formação de adolescentes que no contraturno escolar cursam atividades que compreendem disciplina, hierarquia, defesa pessoal, primeiros socorros, higiene e saúde, relações interpessoais, educação ambiental e de trânsito, cidadania e direitos humanos, entre outras práticas, assistidos por educadores e palestrantes que emprestam conhecimentos para esse processo.
Por serem aldeias urbanas, a Jaguapiru e Bororó têm problemas relacionados a drogas, álcool, violência, como qualquer cidade. E os adolescentes são os principais alvos dessa problemática. "Temos meninos e meninas usuários de drogas e que consomem bebida alcoólica. Isso ocorre com mais frequência aos finais de semana. Temos que mudar essa realidade", afirma Ramão Fernandes.
A ideia de levar a Guarda Mirim à Reserva surgiu da necessidade de um trabalho voltado para adolescentes e do exemplo prático ocorrido na própria família de Ramão. A neta dele, Jéssica, é formanda da primeira turma da Guarda Mirim de Dourados e atualmente trabalha num escritório de advocacia e ainda faz curso de sargento na Guarda. "Posso garantir que minha neta é outra pessoa. É mais responsável, mais dedicada, a relação com os familiares melhorou e agora está focada em continuar os estudos, fazer uma faculdade", declara o avô orgulhoso ao falar da neta.
Com uma população de aproximadamente 16 mil indígenas, as aldeias Jaguapiru e Bororó são carentes em políticas públicas. Mesmo antes de entrar em atividade, a Guarda Mirim Indígena já é vista como uma oportunidade para os jovens superarem os obstáculos vivenciados no dia a dia. A notícia da criação da Guarda já movimenta a comunidade e a procura por inscrições deve ser grande.
Nesta primeira etapa serão abertas inscrições para aproximadamente 60 adolescentes, com idades entre 13 e 16 anos. As aulas vão ocorrer no Núcleo de Atividades Múltiplas (NAM) da aldeia Jaguapiru, com atividades esportivas na Vila Olímpica, na Aldeia Bororó. A Fundação Nacional do índio (Funai) se prontificou em ajudar com o transporte e a alimentação dos adolescentes. O presidente da Guarda Mirim de Dourados, João Frazão, e sua equipe, auxiliam no processo de constituição da Guarda Mirim Indígena.