Estamos testemunhando uma crise global sem precedentes, com efeitos regionais e locais;
Para Douradosagora - 09/12/2016 07h02
Nós, participantes do I Encontro de Gestão Ambiental, Recursos Naturais e Território -celebrando os10 Anos do Curso de Gestão Ambiental da Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais da UFGD -, pesquisadores, professores, profissionais e acadêmicos, após termos discutidos: Formas de Governança, Sistemas Políticos e Filosofia do Desenvolvimento, Mudanças Climáticas, Geotecnologia e Gestão de Território, Gestão Ambiental Urbana e Cidades Sustentáveis, Revisão do Plano Diretor de Dourados e Gestão de Recursos Hídricos;entendemos que, avaliando a dinâmica do uso dos recursos naturais e seu impacto no estilo de vida de Dourados e região, precisamos com urgência de soluções mais sustentáveis, administrativa, social e ambientalmente, ficando claro que:
a) estamos testemunhando uma crise global sem precedentes, com efeitos regionais e locais;
b) precisamos avaliar e redesenhar os três processos que, interagindo, determinam a construção das nossas sociedades: 1) processos socioculturais, 2) processos político-econômicos, 3) processos físico-químicos/ecológicos; não existem soluções simplistas, rápidas e mágicas, requerem-se novos espaços de diálogo, pesquisa e implementações gradativas de processos participativos de reflexão e ação;
c) há necessidade de um esforço conjunto, neste diálogo, inclusive de saberes tradicionais com a investigação científica, de todos os setores para implementar ajustes que transformem o atual modelo de desenvolvimento eurocêntrico, hegemônico, dominador, predatório, socialmente excludente e imediatista, num processo de transformação para valores mais solidários, onde o coletivo fala mais alto do que o individual e há um esforço genuíno na superação de preconceitos de classe social, cor, nacionalidade, credo, coloração política e gênero;
d) toda solução deve considerar no seu sistema de valores, além da distribuição equitativa dos resultados do progresso técnico-científico e econômico, a manutenção e aumento da biodiversidade, a progressiva construção da resiliência – a capacidade de resistir a impactos extremos, voltando ao funcionamento original -, a definição de uma métrica, uma forma de medir, que permita diagnosticar o estado da condição atual e auferir periodicamente o desempenho das intervenções por indicadores claros e objetivos. Foi discutida e implantação do Programa Cidades Sustentáveis pela Prefeitura de Dourados, por ter estas características nos seus 12 Eixos, atrelados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável 2030, definidos pela ONU.
e) sendo os principais componentes do sistema global: 1) a cultura humana, 2) as relações entre o Centro (nações ricas industrializadas-centros do poder político-econômico) e a Periferia (nações pobres), 3) a biodiversidade, 4) as relações interdependentes cidade/campo e 5) as mudanças climáticas, comprovadas e inexoráveis, que alteram nossos sistemas vitais, de existência, produtivos, comerciais e logísticos.
Considerando que:
• Habitamos o mesmo planeta • Somos células do mesmo corpo coletivo • Todos desejamos a paz • Para conviver em paz precisamos conhecer e amar a diversidade humana • Temos as mesmas necessidades básicas • Elas dependem do bom funcionamento e estado dos recursos naturais • Por isto precisamos conservar a biodiversidade para nós e futuras gerações • Os processos da biosfera estão sendo afetados pelas nossas ações • Processos produtivos dependem dos processos da biosfera e exigem serrepensados • Cada região tem suas características especificas e precisamos conhecê-las para viver • Nossa sobrevivência depende do grau de integração entre povos e seus ambientes • As comunidades tradicionais são fontes de conhecimentos desta integração • Este conhecimento, tal como o científico, representa um patrimônio da humanidade, pode nos ensinar sustentabilidade, resiliência e equidade • Pensamento científico e conhecimento tradicional precisam dialogar horizontalmente • Nosso futuro depende urgentemente deste diálogo • O genocídio dos povos tradicionais nos leva ao fracasso de todos estes princípios • Propostas para superar os atuais conflitos perpassam por estes princípios operacionais.
e que também o desafio é mudar a cultura global:
1 Entender o que está acontecendo no mundo e sua importância para nosso futuro comum;
2 Discutir os papeis de instituições e movimentos para a mudança;
3 Desenvolver a capacidade de autocritica;
4 Perceber que os métodos e padrões de desenvolvimento usados até agora são incapazes de melhorar a qualidade de vida das comunidades e ecossistemas;
5 Refletir sobre o processo social que ocorreu na história da humanidade;
Começar a reconhecer a divida social, ambiental e climática e a forma de como pagar por elas;
Imaginar metas de uso dos espaços geográficos coerentes com as características biofísicas dos ecossistemas;
Analisar as possibilidades de mudanças considerando potenciais e limitações;
Pensar e promover estruturas e mecanismos para viabilizar a mudança;
Estabelecer metas para o processo de mudança.
Pois: 1. As grandes empresas e os governos dos países dependem do crescimento econômico e não tem nenhum interesse real na sustentabilidade ou na necessidade de estabelecer um "Declínio próspero".
É necessário trabalhar com aqueles que estão realmente interessados na mudança global rumo a uma civilização sustentável. Um processo que vai exigir recessão econômica e recuperação ecológica, redução do consumo excessivo, realocação e acesso aos meios de produção e novas organizações e articulações sociais para uma nova forma de governança, com erradicação de preconceitos de classe, cor, nacionalidade, credo e gênero, inclusão social e amplos espaços participativos, numa cultura de planejamento e gestão.
Entre os atores sociais interessados existem os movimentos sociais e ecológicos, pequenas empresas, agricultores orgânicos e agroecológicos, conselhos de bacias hidrográficas, cientistas que estudam mudanças climáticas, mas eles desconhecem a Contabilidade Emergética (uma vertente da economia biofísica que converte produtos e serviços num indexador único, a emergia, baseada em equivalentes de energia solar), ou filosofia política, ferramentas básicas para entender como funciona a natureza, a sociedade humana e suas interações dinâmicas.
Considera-se que somente combom marcos conceituais (ciência multidisciplinar e abordagem sistêmica) será possível um decrescimento global prospero com recuperaçãoecológica e socioeconômica regionais.
Precisamos de um esforço maciço de ensino a distancia, com vídeo-cursos na Internet sobre a metodologia Emergética e filosofia política em diferentes idiomas, assim como livros e cadernos de exercícios com exemplos reais em planilhas eletrônicas.
Toda vida está baseada numa troca constante de energia, a quantificação e comparação destes fluxos ajudam a entender as relações homem/ambiente e modular nossos processos produtivos de acordo, orientando políticas públicas com foco na sustentabilidade.
A energia que entra nos sistemas permite processos e mudanças estruturais, entre elas e a criação de uma teia energética que organiza os sistemas e exclui os que não se adaptam às novas condições do meio.
Assim, encontramos nossa sociedade num momento de decisão: crescer indefinitivamente, ou se adaptar a uma curva de declínio próspero, fazer mais com menos, redesenhar nossas cidades para andar a pé e de bicicleta – muitas cidades "inteligentes" (smartcities) estão polinucleando, juntando vários bairros em mini-cidades mais autônomas, com centros multifuncionais com geração de emprego e renda, serviços públicos e privados, lazer, comunicações e informação/educação, onde pedestres e ciclistasusam transporte público em raras ocasiões; e sistemas produtivos que priorizam produzir e consumir alimentos localmente, em vez de explorar recursos naturais só para exportar soja que alimenta animais, enquanto as massas passam fome.
Fundamental aqui é o papel dos agentes sociais em definir políticas públicas. Movimentos como o Núcleo de Boas Práticas Urbanas-NURB, e o Coletivo Socioambiental Dourados fazem parte deste controle social, numa visão de futuro para nortear o caminho, construída entre todos os setores e atores sociais, onde a pesquisa interaja com processos participativos para induzir transformações.
Convidamos indivíduos e instituições a implementar um Fórum de Dialogo, em nível regional e nacional, para consultar sobre estes fatos e princípios, sua forma de desenvolvimento e um Plano de Metas para uma transformação consciente, proativa e progressiva dos nossos padrões de produção e consumo, relacionamento humano, administrativo e político, ocupação do território, interações entre atores sociais e os setores da sociedade.