Só no meio rural são 14 milhões de mulheres, que também precisam de uma rede de assistência que combata as agressões – verbal, psicológica e física – e as apoie nessas situações. Um dos canais é a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) do Governo Federal
[email protected] 05/04/2017 06h00
A violência contra as mulheres não tem uma naturalidade. Em qualquer região, estado, município, elas podem ter os seus direitos desrespeitados.
E um país como o Brasil, onde a extensão territorial contempla diferentes realidades e contextos, precisa ter armas abrangentes contra esse crime.
Só no meio rural são 14 milhões de mulheres, que também precisam de uma rede de assistência que combata as agressões – verbal, psicológica e física – e as apoie nessas situações. Um dos canais é a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) do Governo Federal.
No último ano, o serviço registrou um aumento de 127,16% nas denúncias da zona rural, com relação a 2015, de acordo com levantamento feito pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM).
Pesquisa recente feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) entrevistou 611 mulheres trabalhadoras do campo e da floresta.
Foram feitas 46 perguntas, entre elas, algumas sobre violência. Mais da metade das mulheres, 55%, declararam já ter sofrido ameaças, xingamentos e insultos. Os casos em que a violência chegou à agressão física somam 25% e, sexual, 20%.
De acordo com o estudo, a violência sofrida pelas mulheres no meio rural é marcada por isolamento e solidão, um agravante ao sofrimento e à subordinação. Os problemas ditos de "foro íntimo" não são compartilhados em espaços sociais.
O relato de uma agricultora entrevistada, negra, de 45 anos, chama atenção: ela nunca havia contado a experiência de ter sido vítima de violência sexual e psicológica na infância.
Outros relatos, como o de uma mulher de 54 anos, ilustram o grau de vulnerabilidade a que as mulheres no rural estão sujeitas, pela combinação do silêncio das meninas com o isolamento das casas e dos lotes.
"Meu avô paterno faleceu e cada tio meu foi morar com um parente. Meu pai trouxe o irmão dele mais novo para nossa casa e eu era menina-moça, bem novinha, meu corpo estava sendo formado e eu percebia que ele ficava me olhando foi que, um dia todo mundo foi para o roçado e quando eu cheguei da escola ele estava em casa sozinho, ficou me olhando o tempo todo, eu sentia que deveria ir embora, mas tinha medo da minha mãe chegar e se zangar que eu não estava em casa, fazendo os trabalhos de casa.
Foi então que senti ele chegando por trás. Ele me arrastou tirando minha roupa e abusou de mim, segurando minha boca, eu chorava e tremia por dentro, pensei que fosse morrer, senti uma dor que cortava tudo" (informações da pesquisa).
No último dia 23, a Secretaria de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead) lançou no Brasil a campanha #MulheresRurais, mulheres com direitos, uma iniciativa da Reunião Especializada em Agricultura Familiar no Mercosul (Reaf) e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) em toda América Latina e Caribe.
A mobilização pretende dar visibilidade à situação atual das mulheres rurais, compartilhar e difundir experiências, ações e políticas na área; juntar esforços pelo empoderamento da mulher, além de proporcionar acesso a informações e dar voz às mulheres rurais.
As ações da campanha acontecerão até o mês de novembro, com a temática dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU. Veja o vídeo da campanha aqui.
Junto a isso, o presidente do Brasil, Michel Temer, sancionou, no dia 27 de março, três leis que reforçam a igualdade de gênero e as políticas públicas para as mulheres.
As leis foram aprovadas em favor do empoderamento feminino e criam, entre outras coisas, a semana nacional de conscientização sobre o combate à violência, que será no fim de novembro, mesmo período em que se encerra a campanha #MulheresRurais, mulheres com direitos. A proposta é ter palestras e ações de alerta, organizadas pelo governo e por entidades da sociedade civil.
A Sead trabalha para levar condições de trabalho justas e acesso às políticas públicas de forma igual para homens e mulheres do campo. "Sabemos que o que é feito ainda é pouco perto do que as mulheres rurais enfrentam no dia a dia.
Mas é um caminho que já está sendo trilhado. Vamos continuar trabalhando pelo acesso aos meios que ofereçam cada vez mais oportunidades de desenvolvimento para essas trabalhadoras", afirma a coordenadora de Políticas para Mulheres Rurais, Juventude, Povos e Comunidades Tradicionais da Sead, Solange Moreira da Costa.
Para o secretário da Sead, José Ricardo Roseno, esta é uma oportunidade de dar visibilidade às mulheres do campo.
"Queremos fortalecer o empoderamento das agricultoras do nosso país e buscar a ampliação e a melhoria ao acesso às nossas políticas públicas.
A campanha chega para contribuir com a nossa missão, pela redução da desigualdade de gênero, rumo a um cenário rural mais justo", defende Roseno.
Lei nº 13.421: institui a Semana Nacional pela Não Violência contra a Mulher Será comemorada na última semana do mês de novembro. Durante toda a semana, serão desenvolvidas atividades como palestras, debates, seminários, dentre outros eventos, pelo setor público, juntamente com as entidades da sociedade civil, com o objetivo de prestar esclarecimentos sobre o tema e promover a conscientização da sociedade sobre a violação dos direitos das mulheres.
O nome será acrescentado no livro, guardado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília (DF). Clara Camarão foi uma índia potiguar líder de mulheres guerreiras que combateram os holandeses na Batalha dos Guararapes, em 1648.
Jovita Alves Feitosa foi voluntária nas tropas brasileiras durante a Guerra do Paraguai. Aos 17 anos de idade, se preparou para lutar na Guerra do Paraguai, apesar do machismo e das convenções sociais da época. Mesmo vestida de homem e com os cabelos cortados, Jovita foi descoberta entre a tropa e, assim, impedida de lutar. Decepcionada, caiu em depressão e se suicidou aos 19 anos de idade, com uma punhalada no coração.