. Com a inauguração, ontem, do Espaço Renascer, a população poderá adquirir a produção da horta e de materiais manuais produzidos e confeccionados pelas detentas.
Comércio dos produtos serão feitos de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h; 62 detentas cumprem pena no local
24/05/2017 09h05 - Por: Flávio Verão
A partir de agora o presídio semiaberto feminino de Dourados conta com espaço destinado à venda de verduras orgânicas e de artesanato. Com a inauguração, ontem, do Espaço Renascer, a população poderá adquirir a produção da horta e de materiais manuais produzidos e confeccionados pelas detentas.
Localizado na rua Gáspar Castro, quase subesquina com a rua Ciro Melo, 3418, Jardim Paulista, endereço do semiaberto, o Espaço atenderá o público externo de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h. "A comunidade está convidada a conhecer os trabalhos de artesanato e também a horta", diz Luzia Aparecida Ferreira, diretora do semiaberto feminino. "Queremos que a sociedade adquira os produtos pela qualidade, pois sabemos que eles têm, não pelo sentimento de ajuda", ressaltou.
O semiaberto feminino não tem sela, nem muro alto, tampouco tem características de um presídio. Localizado em bairro de classe média, próximo de escola e de estabelecimentos comerciais, em região central, o local acolhe atualmente 62 detentas, que cumprem penas em regime aberto, semiaberto e fechado.
Vanessa Silva é do estado de São Paulo. Morando há dois anos em Dourados acabou se envolvendo no mundo do crime e cumpre pena em regime fechado. Ela é uma das detentas que descobriu no artesanato habilidades antes jamais imaginada. "Pra mim é uma terapia e uma fonte de renda", revelou. "Quando passamos a ser detentas, temos uma vida de discriminação e aqui dentro do semiaberto me sinto acolhida e tenho a oportunidade de participar de palestras, fazer cursos", disse ela. "Quero ser uma artesã", concluiu.
Atualmente é desenvolvido no semiaberto curso de "pérolas em madeira", mas vários outros já foram realizados, a maioria de artesanato. Os produtos para venda estão disponíveis na loja do Espaço Renascer. Parte da renda é revertido para manter o espaço e a outra vai para as detentas que confeccionaram os produtos ou participam do cultivo da horta.
A diretora Luzia diz que o semiaberto está com um novo projeto para iniciar nas próximas semanas. Trata-se do curso de confecção de perucas. Toda a produção será revertida para pacientes com câncer que fazem tratamento em Dourados.
O juiz Cesar de Souza Lima, da 3ª Vara de Execuções Penais, diz que o Espaço Renascer é uma conquista do semiaberto feminino, de um trabalho realizado através de esforços de quem trabalha no local. O espaço fica localizado em dois terrenos cedidos aos fundos do semiaberto. No local foi construído, sem nenhum tipo de dinheiro público, uma pequena loja para venda dos produtos e o restante abriga a horta. Quem passa pela rua tem a oportunidade de ver a horta através de vidro entre o muro, mas não tem acesso ao lado interno.
O magistrado diz que embora o semiaberto seja um estabelecimento de segurança mínima, nele são desenvolvidos projetos e trabalhos capazes de reinserir as mulheres na sociedade. Isso tem dado certo e o resultado se vê no baixo índice de reincidência. Segundo ele, é preciso que a sociedade quebre o preconceito contra as detentas.
A inauguração do Espaço Renascer contou com a participação da prefeita Délia Razuk, de autoridades da Polícia Militar, da Guarda Municipal, do Ministério Público Estadual, de funcionários do sistema penitenciário, além das detentas, que prepararam café da manhã para o ato.