Obesidade já atinge cerca de 29 mil pacientes em Dourados. Prefeitura de Campo Grande, referência no atendimento, alega falta de recursos para manter as cirurgias
Obesidade já atinge cerca de 29 mil pacientes em Dourados. Prefeitura de Campo Grande, referência no atendimento, alega falta de recursos para manter as cirurgias
19/09/2017 06h58 - Valéria Araújo
As cirurgias bariátricas completam 2 anos suspensas em Mato Grosso do Sul deixando cerca de 398 pacientes na fila. De acordo com a Prefeitura de Campo Grande, que é a responsável pelos procedimentos, faltam recursos.
Os hospitais habilitados para o procedimento suspenderam o serviço porque questionam os valores pagos pelo Sistema Único de Saúde. De acordo com a Prefeitura de Campo Grande, cada cirurgia custa cerca de R$ 7 mil. Tanto o Hospital Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul como a Santa Casa alegam que precisam de um aporte maior de investimentos para realizar o procedimento, segundo a Prefeitura.
A gestão alega que não tem os valores solicitados pelos hospitais e que para atender essa e outras especialidades da alta e média complexidade, precisaria de um aporte de R$ 67 milhões. O problema, segundo a Prefeitura já foi levado para o Ministério da Saúde que teria sido irredutível em disponibilizar novos investimentos.
Do total de pacientes na fila, 98 estariam aptos para realizar o procedimento que seria no Hospital Universitário enquanto outros 300 ainda precisam realizar a primeira consulta.
É o caso da douradense Rógina de Castro, de 46 anos, que tenta há 5 anos o procedimento. Ela conta que por sofrer de obesidade de grau III, a cirurgia é o único recurso capaz de amenizar os transtornos causados pela doença. Rógina, que é domestica afastada, corre ainda o risco de infarto e já tem artrose e osteoporose nos joelhos em estagio avançado, doenças, que segundo os médicos dela, foram desencadeadas em função da obesidade.
"Minha estrutura óssea já não comporta o meu peso e por causa disso fico praticamente imobilizada e sentindo fortes dores. Por causa disso tarefas simples do dia a dia ficam comprometidos. Meu marido precisou sair do serviço para cuidar de mim e vivemos do salário mínimo que ganho afastada das minhas funções. Não posso ficar nessa situação de quase vegetativa, preciso que o poder público garanta o meu direito a um tratamento para que eu possa me livrar da doença e voltar a ter minha autonomia e minha dignidade", destaca.
Rógina diz que vai procurar a Defensoria Pública para tentar assegurar na Justiça o direito de ser atendida. "Fui encaminhada de Dourados para Campo Grande, que é onde se faz a cirurgia, porém fui informada de que nenhum hospital está realizando o procedimento na Capital. Mas o que fazer com as centenas de pacientes que precisam de ajuda?", questiona.
29 mil obesos
Pesquisa realizada com doadores de sangue em Dourados revela dados alarmantes sobre a qualidade de vida dos douradenses. De acordo com a estimativa do médico Jorge Luiz Baldasso, idealizador do último estudo, 74 mil pessoas com idades entre 20 e 60 anos estão acima do peso.
A estimativa corresponde a 68% da população nesta faixa etária. Desse total, 43 mil pessoas estariam sobrepeso, 29 mil estão obesos (26,5%) e 1.5 mil são mórbidos (1,42%). Os dados antropométricos foram coletados por profissionais da área de saúde no Hemocentro de Dourados entre novembro de 2010 e fevereiro de 2011. Os doadores de sangue de ambos os sexos, tinham idades entre 18 e 65 anos. Os autores do estudo são o médico Jorge Luiz Baldasso e o bioquímico Roberto Alva.
Segundo os especialistas, se comparado com a média nacional, a situação de Dourados fica ainda mais grave. Pesquisa do IBGE para a medição da obesidade no Brasil entre 2008 e 2009, mostrou um índice de pessoas acima do peso em 50,1% para o sexo masculino e 48% para o sexo feminino. O índice de Dourados em 68% é, portanto, muito acima da média nacional, segundo Baldasso.
Na opinião dele, se algo não for feito de forma imediata para mudar a qualidade de vida da população, Dourados corre sérios riscos de sofrer um "surto" de pacientes com diabetes, infartos, derrames, entre outras doenças cardiovasculares.
"É preferível prevenir a obesidade do que tratá-la. É necessário a promoção de ações de saúde nas escolas, com orientação sobre dieta e atividades físicas, além de melhorias da estrutura urbana da cidade como as ciclovias, pistas de caminhada, estímulo ao esporte e adequar o programa de obesidade às necessidades do município", destaca Baldasso.