.Também fica autorizado o sacrifício dos canteiros centrais em frente aos centros de saúde (incluindo clínicas de todos os tipos, policlínicas e laboratórios).
Também fica autorizado o sacrifício dos canteiros centrais em frente aos centros de saúde (incluindo clínicas de todos os tipos, policlínicas e laboratórios)
02/10/2017 06h52 - Por: Mário Cezar Tompes da Silva*
Atualmente encontra-se tramitando na Câmara de Vereadores de Dourados uma inusitada proposta de emenda à Lei de Uso e Ocupação do Solo do Município (LC 205 de 19/10/2012) de autoria de um conhecido vereador local. Em linguagem categórica, sem rodeios, a referida emenda propõe a substituição das áreas verdes dos canteiros centrais por estacionamentos para automóveis.
Em outras palavras, a lei passa a autorizar a substituição dos canteiros centrais por estacionamentos em todas as quadras onde se localizam centros educacionais (inclusive escolas de línguas estrangeiras e cursos profissionalizantes).Também fica autorizado o sacrifício dos canteiros centrais em frente aos centros de saúde (incluindo clínicas de todos os tipos, policlínicas e laboratórios).
Em Dourados, já há muito tempo que os automóveis vêm exigindo para si parcelas crescentes dos espaços da cidade. Para satisfazer esse apetite, as áreas verdes de nossos canteiros centrais vêm sendo sistematicamente sacrificadas. Caso a referida emenda venha a ser aprovada isso significará que o poder público emitirá autorização plena para se arruinar os canteiros centrais vegetados que ainda restam à cidade e aos douradenses. Afinal com a abundância de escolas, clínicas médicas ou de dentistas, laboratórios de exame,cursos de inglês e profissionalizantes disseminados pela cidade, quantos canteiros restariam intocados? Raros seriam os sobreviventes!
É curioso que uma proposta como essa surja no momento em que o planejamento das cidades estabelece como vital produzir cidades sustentáveis, onde as comunidades urbanas realizam um vigoroso esforço para ampliar, e não reduzir, as áreas verdes. Apesar disso, o arrojado vereador, autor da insólita emenda, acredita ser uma boa ideia subtrair as áreas verdes, patrimônio ambiental de todos os douradenses. Essa iniciativa de suprimir as áreas verdes dos canteiros centrais revela-se particularmente imprudente quando examinamos os variados ganhos que os canteiros geram para nossa cidade.
As extensões verdes dos canteiros centrais são superfícies permeáveis que absorvem com muita eficiência as águas pluviais. Os benefícios disso se expressam na redução das enxurradas, da erosão da pavimentação asfáltica e dos alagamentos na cidade. Além disso, os canteiros contribuem para a recarga do lençol freático que alimentam as nascentes que mantém nossos córregos e rios.
Outro ganho significativo é o fato dos canteiros oferecerem uma contribuição bem-vinda para gerar conforto térmico ao aplacar o calor e a insolação inclementes do nosso clima durante a maior parte do ano. A arborização dos canteiros além de sombreamento contribui também para amenizar as altas temperaturas e elevar o grau de umidade do ar. Função bem-acolhida em períodos como o atual quando as condições atmosféricas em Dourados reduzem a surpreendentes 40% o índice de umidade da cidade.
Por fim, os canteiros desempenham papel destacado na construção de uma imagem favorável de cidade verde.Na atualidade, Dourados destaca-se pela generosa profusão arbórea que qualifica seus espaços públicos. Essa fartura verde gera um diferencial positivo para a cidade. Isso é percebido e ressaltado pelos visitantes e contribui para originar uma imagem e produzir uma identidade para nossa cidade. Em tempos de sustentabilidade esse é um fabuloso capital que qualquer cidade almeja. Subtrair os canteiros é minar esse potencial.
Os canteiros e as áreas verdes em geral são um patrimônio de toda a comunidade douradense, qualquer proposta que implique na subtração dessas áreas exige no mínimo a ampliação do debate. É importante ouvir a posição da Prefeitura, do IMAM do Conselho Municipal de Defesa ao Meio Ambiente – COMDAM e outros agentes envolvidos com a questão ambiental do Município. Em todo o caso, episódios como este nos alerta, também, para a necessidade de representantes políticos mais sintonizados com a contemporaneidade, com posturas menos passadistas. Que tenham capacidade de reconhecer as potencialidades do patrimônio arbóreo de Dourados, que perceba que o verde é, e será cada vez mais, um capital inestimável para projetar a cidade. Que merece ser promovido, não restringido!