27/10/2017 08h27 - Por: Flávio Verão
Mel, uma cachorrinha terapeuta de 7 anos e sem raça definida, adotou um gatinho há quatro semanas e desde então passou a produzir leite. Amor à primeira vista, a cachorra foi quem fez todos os primeiros cuidados do felino, desde a retirada da placenta ao cordão umbilical. Batizado de Pom Pom, o bichinho foi abandonado próximo a residência da policial militar aposentada Lene Assuanção Anderson, na Cohab, em Dourados.
Lene é dona de mais um cachorro, de 15 anos, e quando pegou Pom Pom, tinha uma gata que recém tinha parido. "Crianças da vizinhança foram quem acharam o gatinho. Junto a ele tinha outros três animais já mortos. Como sabiam que a gata tinha recém dado cria, trouxeram para mim. Mas a gata não aceitou", conta a policial aposentada.
Percebendo a rejeição, Mel tomou sozinha a decisão de adotar Pom Pom. "O gatinho estava bem mal, sujo e eu acreditava que não iria resistir. Mel o lambeu todo. De repente o gato desapareceu e horas depois descobri que a cachorra teria escondido no guarda-roupa", relata a dona dos animais.
O mais surpreendente é que no mesmo dia Mel passou a produzir leite. "Ela é uma cachorra que só teve uma cria e está castrada. Jamais iria imaginar que produziria leite", disse surpresa. Quatro semanas se passaram, Pom Pom está bem e "mãe coruja" não deixa ninguém se aproximar do filhote.
Mel rosna toda vez que um estranho se aproxima. Somente Lene pode pegar Pom Pom. Nem mesmo o outro cachorro da casa tem permissão para chegar perto. Embora seja pequenininha, Mel mostra os dentes em qualquer tentativa de aproximação. "Ela tem esse instinto de proteção e até de premonição", conta Lene.
A policial aposentada é mãe de Iran, garoto de 4 anos de idade que nasceu praticamente morto. Ressuscitado pelos médicos, ficou com inúmeras sequelas, a maioria no cérebro. O menino já passou por 9 cirurgias, uma delas de implante de células tronco, feito na Tailândia, único país que faz esse tipo de tratamento em caso de paralisia cerebral. O procedimento ocorreu no ano passado.
De lá para cá Iran evoluiu muito. Para quem dependia da mãe para tudo, passou a segurar copo e beber água sozinho. Também conquistou força no tronco e consegue ficar sentado. Lene conta que mantém contato com mães de crianças que nasceram com o mesmo problema de Iran. Maioria deles não evoluiu, se alimentam com auxílio de sonda e dependem de respiradores. Iran venceu esses desafios.
Aí que entra a Mel
Quando Iran nasceu Mel tinha 3 anos. A cachorrinha, conforme Lene, tem em sua cabeça que Iran é seu filho. O animal sempre gostou de ficar perto do garoto e quando ganha qualquer tipo de alimento faz questão de levar para Iran. Ela também cobre o menino quando vê que a coberta cai. "Também pega o próprio cobertor da caminha dela e lava pro Iran", diz Lene.
O menino sempre se acalma quando está perto de Mel, considerada uma grande terapeuta. A maior contribuição da cachorrinha entra quando Iran tem convulsão. Com a regeneração do cérebro após a célula tronco - ele tinha 90% do cérebro morto - outros problemas de saúde foram aparecendo, entre eles a convulsão.
Hoje, apenas 2% do cérebro apresenta problema. São vestígios de sangue de hemorragia que se acumularam num espaço do tamanho de uma ervilha. "Por causa disso passou a sofrer convulsões", conta a mãe. Para o próximo dia 2 de novembro o garoto passará por uma nova cirurgia para retirar a lesão.
Sempre antes de Iran ter convulsão, conforme Lene, Mel começa a passar mal. "Ela treme toda. Quando isso acontece é certeza que irá convulsionar", diz.
Em uma das ocasiões, Lene estava dormindo e foi Mel quem a acordou para socorrer Iran. "Foi uma convulsão silenciosa. Se Mel não tivesse me acordado com arranhões, Iran correria grande risco de se afogar e morrer", explica Lene. As convulsões são de longa duração - 40, 50 minutos. Uma delas chegou a ser de uma hora e 15 minutos.
A cirurgia
Essa será a quarta cirurgia que Iran fará no cérebro. Como o procedimento é caro e não realizado em Mato Grosso do Sul, o plano de saúde Cassems não faz cobertura. Lene já tem seis processos na justiça em andamento contra o plano, mas ela não espera decisão judicial, prefere fazer campanhas para agilizar todo o trâmite e depois cobrar as despesas na justiça.
A cirurgia terá custo de R$ 70 mil. Desse Total Lene tem garantido R$ 50 mil, dos quais R$ 40 mil doados por um anônimo morador no Catar, país Árabe. "Ele não quis se identificar. Só fiquei sabendo porque o banco me ligou informando que tinha doação do exterior", disse.
Outros R$ 10 mil foram angariados de pessoas do Brasil todo, além do México, Estados Unidos e Portugal, onde Lene também consegue doações. Suas campanhas são feitas pelo Facebook. Os R$ 20 mil restantes serão custeados por Lene através de empréstimo bancário.
Como ela é policial aposentada, tem renda de R$ 3 mil. O empréstimo consumirá R$ 2 mil mensais. No entanto, ela já paga outros financiamentos, de menor valor, todos para custear despesas de Iran. Lene tem mais um filho, de 7 anos, e o pai das crianças, pedreiro, não mora mais com eles.
Como o sonho de Lene e ver o filho com mais independência e qualidade de vida, Iran precisará passar por pelo menos mais três cirurgias. Uma delas no calcanhar, de recomposição de massa óssea; outra para implantação de enxerto na tíbia (osso da canela); e de alongamento muscular.
Interessados em ajudar a família, podem colaborar com qualquer quantia, com depósito na agência 0391-3, Cc 79095-8, CPF 967.775.911-68, em nome de Lene Assunção Anderson. O telefone de contato de Lene é o (67) 99967-7219.