18/11/2017 13h23 - Por: Da redação
Medo, dúvidas, insegurança, ansiedade e, acima de tudo, muita esperança. Esses são sentimentos comuns a todas as mães de bebês prematuros e foram assunto de uma roda de conversa na tarde desta sexta-feira (17), Dia Internacional de Sensibilização para a Prematuridade, promovida pela equipe da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD).
O evento iniciou com apresentações da equipe a respeito das principais características e problemas enfrentados pelos bebês que nascem antes do tempo, além de orientações práticas para a amamentação, o banho e os cuidados em casa. Depois, foi a vez das convidadas especiais – mães que viveram a situação de ter seus bebês prematuros internados na UTI Neonatal – compartilharem suas experiências com aquelas que passam hoje pelos mesmos desafios.
De acordo com a classificação da organização Mundial da Saúde (OMS), bebês que nascem com menos de 28 semanas de gestação são considerados prematuros extremos; os que nascem entre 28 e 32 semanas são considerados muito prematuros; de 32 a 34 semanas, são prematuros moderados; entre 34 e 36 semanas, prematuros tardios, que são 74% dos bebês prematuros que nascem no Brasil.
Stella
"Quando a gente está aqui, é uma grande mistura de emoções. Mas o pior é o medo. Todos os dias a gente tem que estar preparada para qualquer coisa que possa acontecer, para notícias boas, mas também para as ruins", afirma Kelly Fernanda Ferreira de Souza, 27 anos, mãe da pequena Stella, que nasceu dia 10 de outubro, com 24 semanas de gestação. Já são 37 dias de internação.
Stella deu entrada na UTI Neonatal pesando apenas 545g e já enfrentou diversas complicações. A família é de Naviraí e o pai da menina, que trabalho numa fazenda, só consegue vir ao hospital nos fins de semana. A mãe, Kelly, diz que tem muitas dúvida o tempo todo, mas encontra apoio e segurança no atendimento prestado por toda a equipe.
"Para mim, é tudo muito novo, porque é minha primeira filha. São muitas dúvidas sempre, mas todos da equipe explicam sempre o que está acontecendo, tem muito carinho, atenção e dedicação. E, acima de tudo, o que dá força é ouvir as histórias de sucesso, de quem enfrentou e superou tudo isso", diz.
Cecília Vitória
"Ela é um milagre, o meu milagre", resume a fotógrafa Margareth Bonfim, 33 anos, mãe da Cecília Vitória, hoje com 5 anos de idade. Cecília nasceu com 26 semanas de gestação, pesando 523 gramas, e passou 109 dias internada, entre a UTI e a UCI Neonatal do HU-UFGD. "Um dos sentimentos mais difíceis de administrar é o de que você não foi capaz de acabar de gestar o seu filho dentro da sua barriga", relata Margareth.
Para ela, o apoio da equipe a relação com as outras mães são o suporte necessário para atravessar o período de incertezas da internação. "Mas a mensagem que quero passar a quem está vivendo isso hoje é para que não deixe de acreditar no milagre que é a vida, qualquer vida, e a nossa própria vida. Um milagre que se renova a cada dia", conclui. Margareth e o marido, André Luís, hoje são pais também do pequeno Benjamin, de 1 ano, que apesar de também ter nascido prematuro, com 33 semanas de gestação, não precisou ficar internado.
Mariana
"Desde que a vi, soube que ela era minha, e enfrentei com ela 30 dias de UI [Unidade Intermediária] em Campo Grande". O relato é da funcionária pública Daniele Radaelli, 32 anos, mãe de Mariana, que nasceu às 28 semanas de gestação, já com algumas complicações, decorrentes das condições de saúde da mãe biológica.
Quando Daniele conheceu a filha, Mariana já tinha passado 34 dias na UTI Neonatal e se recuperava de uma grave infecção (sepse). A decisão de entrar na fila da adoção foi tomada depois de três anos de frustração nas tentativas de gravidez. "Um dia me ligaram dizendo que ela tinha nascido", conta Daniele.
Hoje, aos 7 meses de idade, Mariana faz vários acompanhamentos e terapias. "Ainda não sabemos se vai haver alguma sequela, mas nos dedicamos a oferecer a ela o melhor tratamento que podemos, com muito amor", resume a mãe.
Júlia Maria
Para a enfermeira Sandra de Souza Rodrigues, de 40 anos, os 10 dias com a filha Júlia Maria na UTI Neonatal marcaram a experiência de "estar do outro lado" do atendimento. Isso foi há 7 anos, mas Sandra afirma que foi uma experiência ímpar. "Apesar de todo o sofrimento, foram dias também de descobertas e aprendizado, sobretudo pelo vínculo de amizade e apoio que acaba sendo criado com as outras mães", comenta.
Pezinhos
Para marcar o Dia Internacional de Sensibilização para a Prematuridade, as mães dos 28 bebês internados na UTI Neonatal e na Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) foram presenteadas com uma foto dos pezinhos de seus pequenos. A iniciativa da equipe foi realizada apoio da Unidade de Comunicação do HU-UFGD e do fotógrafo Henrique Barrios.
A data
O Novembro Roxo surgiu a partir da definição do dia 17 de novembro como o Dia Internacional de Sensibilização para a Prematuridade, já que um em cada dez bebês é prematuro em todo o mundo. A data foi escolhida para homenagear o nascimento da filha de um dos fundadores da Fundação Europeia para o Cuidado da Criança Prematura, da sigla em inglês EFCNI. No mesmo ano, a organização estadunidense de caridade March of Dimes escolheu o dia 17 para conscientização do tema.
Segundo dados do Ministério da Saúde, 12,4% (344 mil) dos pouco mais de 2,9 milhões de nascimentos no Brasil são prematuros. Ou seja, nascem 931 prematuros por dia, o equivalente a 40 por hora. O índice brasileiro é o dobro de países europeus, por exemplo.