O fiscal indígena Ivonir Porto diz que a maioria dos trabalhadores são indígenas e a principal diferença está na produtividade. “Duas equipes de trabalho deles [não indígenas] vale por uma da nossa”, diz. Ele explica que os índios têm mais resistência no trabalho manual e são mais ágeis.
O fiscal indígena Ivonir Porto diz que a maioria dos trabalhadores são indígenas e a principal diferença está na produtividade. "Duas equipes de trabalho deles [não indígenas] vale por uma da nossa", diz. Ele explica que os índios têm mais resistência no trabalho manual e são mais ágeis
25/01/2018 07h25 - Flávio Verão
A poucas semanas para a colheita da maçã no estado do Rio Grande do Sul (RS), o movimento é intenso na Casa dos Trabalhadores de Dourados, Caarapó, Campo Grande, Coronel Sapucaia, Amambai, Paranhos, Bela Vista e Miranda. Essas cidades sul-mato-grossenses são as que mais encaminham indígenas para trabalhar nas lavouras de frutas do sul do País. Ontem, começou em Dourados a seleção de 89 trabalhadores. Eles disputam salário de R$ 1.180 e benefícios.
A variedade Gala é a primeira a ser colhida e representa quase 70% da área plantada, seguida pela Fuji, que ocupa quase 30%. Os principais municípios produtores de maçã no Rio Grande do Sul são Vacaria, Bom Jesus e Caxias do Sul. Na época da colheita, Vacaria, com cerca de 6 mil habitantes, chega a receber aproximadamente 15 mil trabalhadores de outras regiões do Estado e também de outras partes do Brasil.
O guarani Ivonir Porto, de Dourados, vai trabalhar pelo quarto ano seguido na empresa Rasip, uma das maiores produtoras de maça do país e sediada em Vacaria (RS). Ele atua como fiscal de colheita e lidera equipe de trabalhadores, em específico de Dourados. O jardineiro Cleber Martins vai para o sul pela segunda vez. Ele diz que nem sempre encontra trabalho no ramo de sua profissão. "É bom trabalhar na colheita", resumiu o morador da aldeia Jaguapiru em Dourados.
A Casa do Trabalhador do município estava ontem lotada para fazer o cadastro dos indígenas que vão trabalhar em Vacaria. O coordenador da Casa, Geraldo Sales, espera até amanhã um público de aproximadamente 150 indígenas, todos homens, em busca das vagas. Para março, segundo ele, há previsão de pelo menos 970 empregos temporários na colheita da cana-de-açúcar no interior de São Paulo.
A safra de maçã do ano passado em Vacaria chegou a 430 mil toneladas de frutas em uma área plantada de 14,5 mil hectares, números que vêm se mantendo estáveis nos últimos anos. Com tanta produção, trabalho não falta. Tradicionalmente, eram os trabalhadores das Missões e da Fronteira que migravam para a serra gaúcha para suprir a falta de mão de obra nessa época. Eles continuam indo para lá, mas em menor número. Mas são os indígenas sul-mato-grossenses que têm predominado nos últimos anos.
O fiscal indígena Ivonir Porto diz que a maioria dos trabalhadores são indígenas e a principal diferença está na produtividade. "Duas equipes de trabalho deles [não indígenas] vale por uma da nossa", diz. Ele explica que os índios têm mais resistência no trabalho manual e são mais ágeis.
A distância que separa aldeias de MS e as cidades gaúchas chega a mil quilômetros. Durante o trabalho, a falta da aldeia é amenizada pela companhia dos demais indígenas, com os quais falam praticamente só na língua terena e dividem o hábito de tomar tereré. Acostumados a trabalhar em lavouras de cana, muitos ficaram sem ocupação com a mecanização aplicada nos canaviais e o fechamento de usinas em Mato Grosso do Sul.
Parceria
A oportunidade de emprego para os indígenas vem de união de esforços entre Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, Ministério Público do trabalho (MPT) e empresas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No ano passado, mais de 500 indígenas foram contratados para a colheita e a expectativa é de que, com o passar dos anos, o número de contratados chegue a 2 mil por safra. No final do ano passado, cerca de 400 índios de Mato Grosso do Sul foram contratados para trabalharem no raleio das plantações de maçã.