Maioria das desativações de leitos aconteceu na área de pediatria no Estado. Em Dourados, déficit atual na maternidade preocupa Conselho
Maioria das desativações de leitos aconteceu na área de pediatria no Estado. Em Dourados, déficit atual na maternidade preocupa Conselho
13/07/2018 06h40 - Por: Valéria Araújo
Dados do Conselho Federal de Medicina apontam que em 8 anos o Estado de Mato Grosso do Sul teve 305 leitos de internação desativados; uma média de 1 fechamento a cada 10 dias. A área mais comprometida é a pediatria, que teve a diminuição de 112 leitos de internação.
Em 2010, eram 677 leitos contra apenas 565 em 2018. Na área cirúrgica são 68 leitos a menos. A área clinica houve uma baixa de 49 leitos, enquanto que na em outras especialidades sofreram baixa de 47 leitos, nesse período. Por outro lado, de acordo com a pesquisa, houve um aumento de 29 leitos para Hospital Dia.
Em Dourados, a presidente do Conselho Municipal de Saúde, Berenice Machado, explica que não há como precisar o quanto de leitos o município perdeu nos últimos anos, mas afirma que o déficit atual passa de 100 leitos. Segundo ela, Dourados atende 34 municípios da região na maioria das especialidades, o que tem sobrecarregado a rede.
A conselheira diz ainda que a superlotação no Hospital da Vida é preocupante e não há espaço físico para aumentar ainda mais o número de vagas, mas diz que o município poderia firmar acordo com outros hospitais para suprir a demanda. Outra preocupação, segundo ela, é na maternidade do HU, em que a taxa de ocupação é de 182%, ou seja, quase o dobro. São 25 leitos de obstetrícia e 6 leitos de ginecologia contratualizados, mas a demanda é sempre muito maior do que isso.
Brasil
De acordo com os dados do Conselho Federal de Medicina, nos últimos oito anos, mais de 34,2 mil leitos de internação foram fechados na rede pública de saúde. Em maio de 2010, o País dispunha de 336 mil deles para uso exclusivo do SUS.
Em maio de 2018, o número baixou para 301 mil. Dentre as especialidades mais afetadas no período, em nível nacional, estão psiquiatria, pediatria cirúrgica, obstetrícia e cirurgia geral. Já os leitos destinados à ortopedia e traumatologia foram os únicos que tiveram aumento superior a mil leitos.
A região Centro-Oeste perdeu cerca de 10% dos leitos durante o período apurado, com saldo negativo de 2.419 e 8.469, respectivamente.
O 1º secretário do CFM, Hermann von Tiesenhausen, acredita que o quadro delineado revela a face negligenciada do SUS, que, sem a adoção de medidas efetivas, continuará provocando atrasos em diagnósticos e em inícios de tratamentos. "Neste ano em que o SUS – patrimônio nacional – completa 30 anos, é preciso encontrar soluções eficazes que permitam a consecução de plena assistência, com respeito aos direitos humanos e qualidade", acrescentou.
Além disso, embora a OMS e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) não recomendem ou estabeleçam taxas ideais de leitos por habitante, observar-se que o Brasil também aparece com um dos piores indicadores quando comparado a outros países com sistemas universais.
Governo Federal
O Ministério da Saúde argumenta que a redução do número de leitos hospitalares segue uma "tendência mundial", que se justifica pelo fortalecimento da atenção ambulatorial ou domiciliar. "Assim como no Brasil, o Reino Unido e o Canadá, que também possuem sistemas universais de saúde, fecharam leitos ao longo das últimas décadas. É preciso destacar, no entanto, que, diferentemente destes países, as políticas de prevenção e promoção à saúde no Brasil não conta com um financiamento adequado", apontou o presidente do CFM, Carlos Vital.