'A equidade na vacina é o desafio do nosso tempo', disse o diretor-geral da OMS, durante o discurso de abertura da reunião'
26/04/2021 08h06 - Por ONU
Com o número de novos casos de COVID-19 quase dobrando nos últimos dois meses, aproximando-se da maior taxa de infecção que o mundo já viu durante a pandemia, a distribuição desigual de vacinas não é apenas um absurdo moral, mas econômico e epidemiologicamente autodestrutivo, disse o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, uma reunião ministerial especial do Conselho Econômico e Social (ECOSOC), que ocorreu na sexta-feira (16).
Realizada virtualmente, o encontro teve como tema "Uma Vacina para Todos" e reuniu altos funcionários da ONU, governos, empresas, comunidade científica e sociedade civil para debateram sobre formas de garantir a igualdade de acesso à vacina como um bem público global, e para fortalecer a prontidão dos países para sua distribuição.
"A equidade na vacina é o desafio do nosso tempo", disse o diretor-geral da OMS, durante o discurso de abertura da reunião. "
E estamos falhando".
Ele disse que das 832 milhões de doses de vacina administradas, 82% foram para países de renda alta ou média alta, enquanto apenas 0,2% foram enviadas para aqueles de baixa renda.
Só nos países de alta renda, uma em cada quatro pessoas recebeu a vacina, uma proporção que cai acentuadamente para 1 em 500 pessoas nos países mais pobres.
O rápido crescimento das variantes, o uso inconsistente e flexibilização prematura de medidas de saúde pública, o cansaço em relação às restrições sociais e a "dramática" desigualdade na cobertura vacinal; todos levaram a um aumento alarmante de novos casos e mortes, disse ele.
"Este é um momento de parceria, não de patrocínio", frisou o diretor-geral da OMS. "Temos as ferramentas para acabar com esta pandemia".
O acelerador de acesso a ferramentas contra a COVID-19, criado pela OMS e seus parceiros, juntamente com o mecanismo COVAX, podem evitar erros do passado - quando o mundo, 40 anos atrás, demorou a implantar antirretrovirais vitais em países pobres durante a crise de HIV e AIDS.
Hoje, embora o COVAX tenha distribuído 40 milhões de doses para 100 países, disse o chefe da OMS, isto está longe de ser suficiente.
A OMS esperava distribuir 100 milhões de doses até este momento. Alguns países não receberam nada, nenhum recebeu o suficiente - e alguns não estão recebendo a segunda dose dentro do prazo.
"O problema não é tirar vacinas do COVAX", garantiu.
"O problema é colocá-las dentro do COVAX".
A OMS está trabalhando com a Gavi e com a Coalizão para Inovações para a Preparação contra Epidemias (Cepi) para aumentar a produção e o fornecimento, disse.
Uma força-tarefa de produção do COVAX foi formada e, de maneira promissora, uma Nova Parceria para a Produção Africana será formada pela União Africana.
O objetivo é construir cinco centros de produção de vacinas no continente, começando com três instalações de mRNA em Ruanda, no Senegal e na África do Sul.
A OMS também está desenvolvendo capacidade regulatória regional por meio da Agência Africana de Medicamentos.
O diretor-geral da OMS pediu aos países com vacinas suficientes para fazerem doações imediatas ao COVAX.
De forma mais ampla, é vital explorar todas as opções para aumentar a produção - incluindo licenças voluntárias, agrupamento de tecnologias e a flexibilização de certas medidas de propriedade intelectual - e investir na fabricação local de vacinas.
A OMS continuará a fornecer assistência técnica e adicionar bases de produção na África, Ásia e América Latina.
Nunca em seus 75 anos de história, o papel das Nações Unidas foi tão importante. "Não podemos derrotar esse vírus em um país de cada vez", disse ele.
"Só podemos fazer isso com um esforço global coordenado, baseado nos princípios de solidariedade, equidade e compartilhamento".
A diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, chamou essas disparidades de "moralmente inadmissíveis".
Lidar com a desigualdade é uma tarefa que confronta o mundo com obstáculos técnicos, logísticos e políticos.
No entanto, eles podem ser superados de maneira prática e empiricamente informada. Embora ela tenha dito que o impulso de economizar suprimentos é compreensível, garantir a segurança pessoal não é suficiente.
"Temos de encontrar uma forma de compartilhar", insistiu.
Um evento recente da OMS sobre a igualdade no acesso às vacinas teve alguns resultados encorajadores, disse ela, deixando claro que há potencial inexplorado nos países em desenvolvimento para aumentar a produção e que os recursos estão disponíveis para financiar este investimento.
Os membros da OMC reduziram as restrições à exportação de 109 em quase 90 países para 51 em 62 países e, com um envolvimento pragmático, ela disse que podem encontrar maneiras de superar as preocupações com os direitos de propriedade intelectual.
O presidente do ECOSOC, Munir Akram, enfatizou que, além de ser um imperativo moral, a cobertura universal da vacinação é a única forma realista de sair da pandemia.
Ele pediu o aumento da produção, abordando questões de propriedade intelectual, apoiando sistemas de saúde fracos nos países em desenvolvimento, removendo as restrições à exportação - e mais importante - financiando o Acelerador ACT da OMS e o mecanismo COVAX.
Passos decisivos em direção ao acesso universal são pré-requisitos para a recuperação econômica, garantiu.
"Nenhum tópico é tão relevante ou pertinente para o mundo hoje quanto o das vacinas", disse o presidente da Assembleia Geral, Volkan Bozkir.
"Nossos esforços não têm sido perfeitos", reconheceu. "Devemos terminar o que começamos".
Ele pressionou os governos a se comprometerem novamente com os princípios da solidariedade e cooperação humanas, destacando que o progresso feito até agora é o resultado de países que trabalham com centenas de empresas e milhares de cientistas - "multilateralismo no seu melhor".
Com relação à meta de disponibilizar "vacinas para todos", ele também instou os países a estenderem recursos ao COVAX; investir na pesquisa, na produção e na distribuição de vacinas; doar vacinas para países necessitados e lidar com a desinformação para garantir que todos sejam informados sobre os benefícios da imunização.
"É tarefa das Nações Unidas e dos Estados-membros agir de acordo com essas demandas".