Em 2020, mais pessoas morreram de tuberculose, com muito menos pessoas sendo diagnosticadas e tratadas ou recebendo tratamento preventivo em comparação com 2019
21/10/2021 13h01 - Por ONU
A pandemia de COVID-19 reverteu anos de progresso global no combate à tuberculose e, pela primeira vez em mais de uma década, as mortes pela doença aumentaram, de acordo com o relatório global da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2021.
Em 2020, mais pessoas morreram de tuberculose, com muito menos pessoas sendo diagnosticadas e tratadas ou recebendo tratamento preventivo em comparação com 2019.
Os gastos gerais com serviços essenciais para a doença, que é evitável e tratável, diminuíram.
A OMS estima que cerca de 4,1 milhões de pessoas atualmente sofrem de tuberculose, mas não foram diagnosticadas com a doença ou não notificaram oficialmente às autoridades nacionais.
Este número é superior aos 2,9 milhões em 2019.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, que as mortes por tuberculose, uma das doenças infecciosas que mais mata no mundo, aumentaram pela primeira vez na década, como um resultado direto da pandemia da COVID-19.
Os novos dados da OMS demonstram como anos de progresso na prevenção da tuberculose foram revertidos desde que a pandemia sobrecarregou os sistemas de saúde em 2020, o que impediu as pessoas de procurarem ajuda médica.
O relatório global de tuberculose da OMS de 2021 evidenciou que fechamentos em todo mundo dificultaram o acesso aos serviços de saúde de boa parte da população.
A organização ainda declarou que a taxa de mortes da doença "pode ser ainda maior em 2021 e 2022".
Em 2020, mais pessoas morreram de tuberculose, com muito menos pessoas sendo diagnosticadas e tratadas ou recebendo tratamento preventivo em comparação com 2019. Os gastos gerais com serviços essenciais para a doença diminuíram.
"O relatório confirmou nossos receios de que a suspensão dos serviços básicos de saúde devido a pandemia poderia desfazer os anos de progresso contra a tuberculose", afirmou o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
"Isso são notícias alarmantes que devem servir como um alerta global para a necessidade urgente de investimentos e inovação para preencher as lacunas nos diagnósticos, tratamento e atendimento aos milhões afetados", alertou Tedros.
O relatório da tuberculose revelou que por volta de 1,5 milhão de pessoas morreram por conta da doença em 2020, mais do que em 2019, ao analisar a resposta epidêmica em 197 países e regiões.
A agência de saúde da ONU apontou que esse número inclui 240 mil pacientes com HIV e ressaltou que o aumento de diagnósticos aconteceu, principalmente, em 30 países, entre eles a Angola, Indonésia, Paquistão, Filipinas e Zâmbia.
Os serviços de tuberculose estão entre muitos outros interrompidos pela pandemia de COVID-19 em 2020. Em muitos países, recursos humanos, financeiros e outros foram realocados do combate à doença para a resposta à COVID-19, limitando a disponibilidade de serviços essenciais e de acesso ao devido diagnóstico da doença.
A OMS notou que o número de novos diagnosticados caiu de 7,1 milhões, em 2019, para 5,8 milhões, em 2020. Isto significa que menos pessoas foram diagnosticadas, tratadas ou receberam tratamento preventivo contra a tuberculose em 2020.
As principais quedas de notificações da doença entre 2019 e 2020 aconteceram na Índia (41%), Indonésia (14%), Filipinas (12%) e China (8%).
A agência de saúde da ONU ressaltou ainda que "esses e outros 12 países somaram 93% do total de quedas de notificações globalmente".
A OMS salientou que o gasto com os serviços essenciais para a tuberculose caíram, assim como no tratamento preventivo da doença.
Por volta de 2,8 milhões de pessoas tiveram acesso ao cuidado preventivo em 2020, uma redução de 21% se comparado a 2019.
Além disso, o número de pacientes tratados que são resistentes a medicamentos diminui 15%, de 177 mil, em 2019, para 150 mil, em 2020, o que equivale a um em cada três dos necessitados.
A OMS estima que cerca de 4,1 milhões de pessoas atualmente sofrem de tuberculose, mas não foram diagnosticadas com a doença ou não notificaram oficialmente às autoridades nacionais. Este número é superior aos 2,9 milhões em 2019.
O relatório recomendou que os países incluam nas medidas urgentes a restauração do acesso aos serviços essenciais de tuberculose, que dobrem os investimento em pesquisas e inovações relacionadas à doença e elaborem uma ação orquestrada entre o setor de saúde e outros para mitigar as causas sociais, ambientais e econômicas da tuberculose e suas consequências.
Reversões em andamento significam que as metas globais para tuberculose estão fora do caminho e parecem cada vez mais fora de alcance, no entanto, há alguns sucessos.
Globalmente, a redução no número de mortes por tuberculose entre 2015 e 2020 foi de apenas 9,2% - cerca de um quarto do caminho para a marca de 35% em 2020.
Globalmente, o número de pessoas que adoecem com tuberculose a cada ano (em relação à população) caiu 11% de 2015 a 2020, um pouco mais da metade do caminho para a marca de 20% em 2020.
No entanto, a Região Europeia da OMS superou a marca de 2020, com uma redução de 25%. Isto deveu-se principalmente ao declínio na Federação Russa, onde a incidência caiu 6% ao ano entre 2010 e 2020.
A Região Africana da OMS esteve perto de atingir o marco, com uma redução de 19%, o que reflete reduções impressionantes de 4%-10% ao ano na África do Sul e em vários outros países da África Meridional, após um pico na epidemia de HIV e a expansão da prevenção e cuidados com a tuberculose e o HIV.
"Temos apenas um ano para alcançar as metas históricas de tuberculose de 2022, comprometidas pelos chefes de Estado na primeira Reunião de Alto Nível das Nações Unidas sobre TB.
O relatório fornece informações importantes e um forte lembrete aos países para acelerar suas respostas à tuberculose e salvar vidas com urgência", disse Tereza Kasaeva, diretora do Programa Global de Tuberculose da OMS.
"Isso será crucial quando começarem os preparativos para a 2ª Reunião de Alto Nível das Nações Unidas sobre TB, mandatada para 2023."
O relatório pede aos países que implementem medidas urgentes para restaurar o acesso aos serviços essenciais de tuberculose.
Além disso, pede pela duplicação dos investimentos em pesquisa e inovação em TB, bem como ação concertada em todo o setor de saúde e outros para abordar os determinantes sociais, ambientais e econômicos da doença e suas consequências.
O novo relatório apresenta dados sobre as tendências das doenças e a resposta à epidemia de 197 países e áreas, incluindo 182 dos 194 Estados-membros da OMS.
A tuberculose, segundo agente infeccioso mais mortal, é causada por bactérias (Mycobacterium tuberculosis) que afetam com mais frequência os pulmões e podem se espalhar quando as pessoas que estão doentes as expelem para o ar - por exemplo, por meio da tosse.
Aproximadamente 90% das pessoas que adoecem com tuberculose a cada ano vivem em 30 países, entre eles o Brasil.
A maioria das pessoas que desenvolvem a doença são adultos - em 2020 -: os homens representaram 56% de todos os casos, as mulheres adultas representaram 33% e as crianças, 11%.
Muitos novos casos da doença são atribuídos a cinco fatores de risco: desnutrição, infecção por HIV, transtornos relacionados ao uso de álcool, tabagismo e diabetes.
Cerca de 85% das pessoas que desenvolvem a doença podem ser tratadas com sucesso com um regime de medicamentos de 6 meses; o tratamento tem o benefício adicional de reduzir a transmissão progressiva da infecção.