O sudoeste da Ásia, assim como a Austrália, Nova Zelândia e as ilhas do Pacífico são algumas das regiões do mundo mais afetadas pelas mudanças climáticas, de acordo com o novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM). O documento faz parte de uma série de relatórios climáticos regionais e relata desde o aumento das temperaturas dos mares e oceanos a tempestades e enchentes devastadoras.
O estudo foi lançado na reta final da COP26 e alerta para a ameaça da própria existência de diversos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, ou Ilhas-Estado, cuja subsistência depende da pescaria, turismo e aquicultura.
As temperaturas da superfície do mar e dos oceanos em partes do sudoeste do Pacífico estão aumentando em um nível mais de três vezes superior à média global, acendendo um alerta vermelho na região. Além disso, o aquecimento dos oceanos, assim como sua desoxigenação e acidificação estão mudando o padrão de circulação e a química das águas. Essas alterações forçam peixes e plânctons a migrar para altitudes maiores e mudar seu comportamento, interferindo na pesca tradicional.
Do aumento das temperaturas dos mares e oceanos a tempestades e enchentes devastadoras, a mudança climática impõe uma série de ameaças ao sudoeste do Pacífico. O alerta partiu de um novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) publicado na quarta-feira (10). Intitulado "O Estado do Clima no Sudeste Pacífico 2020'' (tradução livre e disponível em inglês), o documento faz parte de uma série de relatórios climáticos regionais produzidos pela agência da ONU para o clima, e cobre boa parte do sudoesta da Ásia, assim como a Austrália, Nova Zelândia e as Ilhas do Pacífico.
Riscos reais e potenciais - O relatório e o mapa da história que o acompanha foram lançados na conferência sobre mudanças climáticas da ONU, a COP26, que acontece em Glasgow, na Escócia, e se estende até sexta-feira (12). Ele acusa ameaças à própria existência de diversos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS, da sigla original).
"O relatório destaca os riscos potenciais e reais associados com as mudanças registradas na circulação dos oceanos, temperatura, acidificação e desoxigenação, assim como o aumento dos níveis dos mares. Os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento estão cada vez mais vulneráveis a essas mudanças uma vez que a subsistência dos habitantes depende da pescaria, turismo e aquicultura", disse Petteri Taalas, secretário-geral da OMM.
Recifes de corais degradados - O relatório oferece um recorte de indicadores climáticos e os seus riscos e impactos sobre as economias, sociedade e meio ambiente. Por meio dele, a OMM revelou que as temperaturas da superfície do mar e dos oceanos em partes do sudoeste do Pacífico estão aumentando em um nível mais de três vezes superior à média global. Além disso, “ondas de calor marinhas” branquearam recifes de coral antes vibrantes e ameaçam os ecossistemas vitais dos quais a região depende.
No último ano, a região da Grande Barreira de Recife da Austrália sofreu um alastramento do embranquecimento dos corais pela terceira vez durante os últimos cinco anos. A OMM alertou que se a temperatura global aumentar 2 °C acima dos níveis pré-industriais, 90% dos recifes de corais lá e no Coral Triangle (Triângulo de Coral) podem sofrer degradação severa.
Pesca em declínio - O aquecimento dos oceanos, assim como sua desoxigenação e acidificação estão mudando o padrão de circulação e a química das águas. Essas alterações forçam peixes e plânctons a migrar para altitudes maiores e mudar seu comportamento, interferindo na pesca tradicional.
As ilhas do pacífico são particularmente afetadas à medida que a pesca é fonte de comida, e garante bem-estar, cultura e empoderamento. O relatório mostra que entre 1990 e 2018 o montante da produção da pesca decaiu 75% em Vanuatu, país da Oceania, e 23% em Tonga, na Polinésia.
Desaparecimento de geleiras tropicais - O nível médio global do mar aumentou a uma taxa média de cerca de 3,3 mm por ano desde o início da década de 1990 e acelerou como resultado do aquecimento dos oceanos e do derretimento do gelo terrestre.
As taxas de mudança do nível do mar no norte do Oceano Índico e na parte oeste do Oceano Pacífico tropical são substancialmente mais altas do que o aumento médio global, de acordo com o relatório. A isso a OMM acrescentou que a elevação do nível do mar já está surtindo impacto nas sociedades, economias e ecossistemas nas Ilhas do Pacífico, e aumentando a vulnerabilidade a ciclones tropicais, tempestades e inundações costeiras.
As últimas geleiras tropicais restantes entre o Himalaia e os Andes também correm risco. Localizadas na Papua, na Indonésia, elas existiram por 5 mil anos, mas, de acordo com os níveis atuais, o derretimento total do gelo está previsto para os próximos cinco anos.
Tempestades e incêndios - Enquanto isso, tempestades e enchentes causaram morte, destruição e deslocamento no sudoeste asiático e nos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento. As Filipinas, assim como as ilhas do Pacífico, foram muito prejudicadas por tufões e ciclones tropicais, enquanto as secas também impuseram novas ameaças e riscos.
Na Austrália oriental, o incêndio sem precedentes de 2019-2020 levou à severa poluição pela fumaça. Mais de cem milhões de hectares de terra foram queimados, e ao menos 33 pessoas morreram, assim como milhões de animais, enquanto mais de 3 mil casas foram destruídas. O esforço da região para alcançar o desenvolvimento sustentável está em perigo devido aos riscos relacionados ao clima, que devem se tornar mais extremos como resultado das mudanças climáticas.
Sistemas de alerta precoces - Entre 2000 e 2019, eventos climáticos extremos como ciclones tropicais causaram cerca de 1,5 mil mortes e afetaram quase oito milhões de pessoas por ano, em média. Cerca de 500 mortes foram relatadas em 2020, cerca de um terço da média anual de longo prazo, mas mais de 11 milhões de pessoas foram afetadas.
Diante das ameaças, a OMM acrescentou que endereçar os riscos climáticos e seus impactos requer ações a nível local, regional e transnacional, incluindo a capacidade de construir e desenvolver serviços climáticos, além de abordagem de redução de risco integradas. A agência enfatizou que esses pontos também são essenciais para alcançar o desenvolvimento sustentável e garantir a recuperação da pandemia de COVID-19.