O relatório mostra que a mega seca, derretimento de geleiras, chuvas extremas e desmatamento estão impactando fortemente a região
ONU
Foi publicado na sexta-feira (22) o relatório “Situação do Clima na América Latina e no Caribe 2021”, da Organização Meteorológica Mundial (OMM). O documento foi divulgado durante conferência técnica regional da OMM para países da América do Sul, promovida pela organização em Cartagena, na Colômbia.
O relatório mostra que a mega seca, derretimento de geleiras, chuvas extremas e desmatamento estão impactando fortemente a região. Em 2021, as geleiras andinas chegaram à marca de 30% de redução em comparação com a sua área em 1980. A mega seca na região central do Chile também foi considerada a mais longa em pelo menos mil anos.
No Brasil, o relatório mostra que as chuvas extremas na Bahia e Minas Gerais-- além de causarem centenas de mortes e o deslocamento de centenas de milhares de pessoas-- provocaram inundações e deslizamentos que levaram a uma perda estimada de US$ 3,1 bilhões. O desmatamento na floresta amazônica brasileira também dobrou em relação à média de 2009-2018, atingindo seu nível mais alto desde 2009. A floresta perdeu no ano passado 22% a mais de área florestal do que em 2020.
Clima extremo e impactos das mudanças climáticas como mega secas, chuvas extremas, ondas de calor terrestres, ondas de calor marinhas e o derretimento de geleiras estão afetando a região da América Latina e do Caribe, da Amazônia aos Andes e das águas do Pacífico e Atlântico às profundezas nevadas da Patagônia.
A informação é do relatório “Situação do Clima na América Latina e no Caribe 2021”, da Organização Meteorológica Mundial (OMM), que destaca as repercussões de longo alcance das mudanças do clima para os ecossistemas, para a segurança alimentar e hídrica, para a saúde humana e para a pobreza.
Publicado na sexta-feira (22), o relatório aponta que as taxas de desmatamento na região foram as mais altas desde 2009, em um golpe tanto para o meio ambiente quanto para a mitigação das mudanças climáticas. As geleiras andinas perderam mais de 30% de sua área em menos de 50 anos e a mega seca na região central do Chile é a mais longa em pelo menos mil anos.
“O relatório mostra que os riscos hidrometeorológicos, incluindo secas, ondas de calor, ondas de frio, ciclones tropicais e inundações, infelizmente levaram à perda de centenas de vidas, danos graves à produção agrícola, à infraestrutura local e ao deslocamento humano”, afirmou o secretário-geral da OMM, professor Petteri Taalas.
“Espera-se que o aumento do nível do mar e o aquecimento dos oceanos continuem a afetar os meios de subsistência costeiros, turismo, saúde, alimentação, energia e segurança hídrica, particularmente em pequenas ilhas e países da América Central. Para muitas cidades andinas, o derretimento das geleiras representa a perda de uma fonte significativa de água doce, atualmente usada para uso doméstico, irrigação e energia hidrelétrica. Na América do Sul, a contínua degradação da floresta amazônica ainda está sendo destacada como uma grande preocupação para a região e também para o clima global, considerando o papel da floresta no ciclo do carbono”, completou Taalas.
Conferência - O relatório foi divulgado durante conferência técnica regional da OMM para países da América do Sul, promovida pela organização em Cartagena, na Colômbia. Este é o segundo ano em que a OMM produz este tipo de relatório regional, que fornece aos tomadores de decisão informações focadas em suas regiões, para fundamentar seus planos de ação. A publicação é acompanhada por um mapa interativo.
“O agravamento das mudanças climáticas e os efeitos agravantes da pandemia de COVID-19 não apenas impactaram a biodiversidade da região, mas também paralisaram décadas de progresso contra a pobreza, a insegurança alimentar e a redução da desigualdade na região”, ressaltou o representante da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Mario Cimoli.
“Enfrentar esses desafios interconectados e seus impactos associados exigirá um esforço interconectado. Não importa como seja tomada, a ação deve ser baseada na ciência. O relatório ‘Situação do Clima na América Latina e no Caribe’, o segundo desse tipo, é uma fonte importante de informações científicas para a política climática e a tomada de decisões. A CEPAL continuará desempenhando um papel ativo na disseminação de informações meteorológicas e climáticas para promover mais parcerias, melhores serviços climáticos e políticas climáticas mais fortes na América Latina e no Caribe”, acrescentou.
Principais conclusões:
Motivos de preocupação e lacunas de conhecimento - O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC mostra como os padrões de precipitação estão mudando, as temperaturas estão subindo e algumas áreas estão passando por mudanças na frequência e gravidade de extremos climáticos, como chuvas fortes.
Os dois grandes oceanos que ladeiam o continente americano – o Pacífico e o Atlântico – estão aquecendo e se tornando mais ácidos como resultado do aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera, enquanto o nível do mar também aumenta.
Infelizmente, impactos ainda maiores estão reservados para a região, pois tanto a atmosfera quanto os oceanos continuam a mudar rapidamente. O abastecimento de alimentos e água serão afetados. Cidades grandes e pequenas, assim como a infraestrutura necessária para sustentá-las, estarão cada vez mais em risco.
A saúde e o bem-estar humanos também serão afetados negativamente, junto aos ecossistemas naturais. A Amazônia, o nordeste do Brasil, a América Central, o Caribe e algumas partes do México provavelmente vão ver maiores condições de seca, enquanto os impactos dos furacões podem aumentar na América Central e no Caribe. As mudanças climáticas ameaçam sistemas vitais da região, como as geleiras dos Andes, os recifes de corais da América Central e a floresta amazônica, que já se aproximam de condições críticas sob risco de danos irreversíveis.
Além dos impactos da pandemia de COVID-19, o Escritório das Nações Unidas para Redução do Risco de Desastres registrou na região da América Latina e Caribe um total de 175 desastres durante o período 2020-2022. Destes, 88% são de origem meteorológica, climatológica e hidrológica. Esses perigos foram responsáveis por 40% das mortes registradas relacionadas a desastres e 71% das perdas econômicas.
Para reduzir os impactos adversos dos desastres relacionados ao clima e apoiar as decisões de gestão de recursos, são necessários serviços climáticos, sistemas de alerta precoce de ponta a ponta e investimentos sustentáveis, mas tais serviços ainda não estão adequadamente implantados na região da América Latina e do Caribe.
É vital fortalecer a cadeia de valor dos serviços climáticos em seus diferentes componentes – incluindo sistemas de observação, dados e gerenciamento de dados, melhor previsão, fortalecimento dos serviços climáticos, cenários climáticos, projeções e sistemas de informações climáticas.
Contatos para a imprensa na OMM/WMO (em inglês)
Brigitte Perrin (Chief of Strategic Communications Office)
Email: [email protected]
Telefone: +41 79 513 05 12
Nota aos editores - A OMM estende sua gratidão à rede de especialistas da organização, por todo o trabalho árduo e dedicado, que garantiu que este relatório seja uma fonte confiável de informações. Somos especialmente gratos ao Dr. José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta Precoce de Desastres Naturais do Brasil, que atuou como autor principal da publicação.
As informações utilizadas neste relatório são provenientes de um grande número de Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais (NMHSs) e instituições associadas, bem como Centros Climáticos Regionais.
As seguintes agências da ONU, instituições internacionais e regionais contribuíram:
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL)
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e para a Agricultura (FAO)
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR)
Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA)
Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA)
Agência da ONU para Migrações (OIM)
Programa Hidrológico Internacional (PHI) da UNESCO
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR)
UK Met Office
US National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA)
Global Precipitation Climatology Centre (GPCC)
Laboratory of Space Geophysical and Oceanographic Studies (LEGOS)
ECMWF Copernicus Climate Change Service (C3S)
International Centre for Research on the El Niño Phenomenon (CIIFEN)
Caribbean Institute for Meteorology and Hydrology (CIMH)
National Centre for Monitoring and Early Warning of Natural Disasters (CEMADEN)