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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Líderança indígena Guilherme morre aos 93 anos com coronavírus

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22/08/2020 09h48 – Por: Flávio Verão

Liderança indígena na Reserva de Dourados, o terena Guilherme Felipe Valério morreu aos 93 anos de coronavírus. Ele estava internado no Hospital Universitário e veio a óbito na madrugada de ontem.

Radicado desde 1961 na aldeia Jaguapiru, o terena é da região do Pantanal sul-mato-grossense.Pai de nove filhos, Guilherme já participou de inúmeras conferências de povos indígenas, sendo liderança respeitada no país.

Conforme informações, a esposa dele Maurícia Mariano, também contraiu o vírus, como três filhos, e estão internados. O enterro de Guilherme ocorreu na manhã de ontem, no cemitério da Reserva.

Guilherme Valério é a quarta vítima do coronavírus em Dourados. Conforme boletim epidemiológico da prefeitura, 232 indígenas já contraíram o vírus. Não há informações de quantos estão recuperados.

Liderança

Defensor da educação, Guilherme Valério era autoridade no Estado e no País. Ele chegou a Dourados na década de 60 quando o Governo Federal, na época, fez o confinamento de indígenas em terras fixas pelo Estado. Ele e a família foram introduzidas na Reserva de Dourados.

Era ele que reunia a comunidade, contava histórias, falava das tradições. Em entrevista ao Dourados Agora, em 2015, ele contou que nos anos 60 a reserva indígena de Dourados era bem maior que os atuais 3,5 mil hectares.

Com o processo de interiorização do país realizada no período da ditadura militar, de vendas e de negociações de terras e da migração de populações de diferentes regiões, em específico do Sul e Sudente, para explorar a região Centro-Oeste, os indígenas foram aos poucos perdendo suas terras.

Guilherme contou na entreista que ao chegar em Dourados encontrou uma reserva Indígena já implantada. “Comigo veio alguns primos e cunhados e aqui [Jaguapiru] ganhamos terras do cacique e constituímos família”, explicou o terena.

Pesquisas revelam que a maioria dos indígenas do Mato Grosso do Sul foram assentados em pequenas aldeias do Estado oficialmente reservadas pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) entre 1915 e 1930. Na época, conforme a liderança, a reserva de Dourados era considerada ‘gigantesca’ e abrigava uma intensa mata fechada, com muitas árvores, bem diferente da realidade de hoje.

“Quando vi aquelas árvores de troncos grossos, muitos animais, decidi mudar do Pantanal para cá”, disse na entrevista Guilherme Valério. Ele contou que o desmatamento na reserva ocorreu no início dos anos 70, sendo realizado pelo SPI, órgão substituído pela Funai. Toda a lenha foi vendida e os indígenas não tiveram nenhum tipo de benefício, disse ele.

Com o passar dos anos e o crescimento das cidades e de propriedades rurais, as reservas indígenas foram se tornando cada vez menores, conforme avaliou Guilherme Valério. Os conflitos de terras que ocorrem no Estado, a exemplo de Sidrolândia, entre 2013 a 2015, para ele, nada mais é que uma reivindicação de direito dos terenas, povos que sempre habitaram a região daquele município e de toda a extensão do Pantanal.

O impasse trouxe consequências à cultura dos terenas. Diferentemente da Kaiuá e Guarani, predominante em Dourados, a Terena está se perdendo. “Nossa história está desaparecendo, se modificando. Tenho sobrinhos que moram em São Paulo, casados com brancos, e quase nem falam mais a língua terena”, disse na época Guilherme Valério, ao ressaltar que a sua língua materna não é ensinada nas escolas e devido à aproximação dos índios com os brancos, os pais terenas deixam de ensinar a língua materna aos filhos.

Em 2015, quando Dourados completou 80 anos, Guilherme Valério foi uma das personalidades entrevistadas pela Prefeitura para contar a história do município.


Guilherme morreu aos 93 anos de covid-19Foto: Reprodução


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