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quinta-feira, 28 de março de 2024

Patrimônio Histórico de Dourados – Cemitério da Antiga Fazenda Antolin-Cuê

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31/08/2021 09h24 Por: ALAÍDE BRUM DE MATTOS

Segundo Gressler (1988), a antiga Fazenda Antolin-Cué figura entre as primeiras fazendas que surgiram no município de Dourados – MS, tendo se originado do Lote de nº 6, denominado Antolin, contendo aproximadamente a área de 2.000 mil hectares de terras devolutas do atual município de Dourados. O Título de Propriedade da referida área foi adquirido por Amândio de Matos Pereira na data de 20 de Março de 1914 ao valor de 800.000 reis a primeira prestação. Tal lote de terras devolutas localizando-se no lugar denominado ‘Antolin’, município de Ponta Porã, conforme o documentado pelo Tesouro do Estado de Mato Grosso em Cuiabá na data de 15 de maio de 1914. Estas informações, também, se respaldam em dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra, e Gressler (1988, p. 54-60).

Desde o início da aquisição das terras a área denominada Antolin, foi dividida em três partes iguais entre Amândio de Matos Pereira, Francisco de Matos Pereira e Bento de Matos Pereira, irmãos pioneiros que administraram o Lote Antolin, ao qual supostamente se acrescentou a denominação “Cué”, que na língua guarani significa ’velho’.

Estando em comum acordo, os irmãos Amândio, Francisco e Bento, delimitaram uma área de 0,5 hectares de terras (5.000m²), para a instalação de um cemitério particular na propriedade Antolin-Cué, no sentido de nele sepultar os membros de suas respectivas famílias que viessem a óbito, igualmente, outros parentes e familiares de amigos da redondeza.

Segundo Jericó Vieira de Mattos, neto de Bento de Mattos Pereira, a área combinada para instalar o cemitério (0,5 hectares), foi destacada da propriedade de Amândio de Mattos Pereira, sendo protegida por cerca de madeira e arame farpado. Após a morte de Amândio de Mattos Pereira, que segundo atestado de óbito ocorreu no dia 08 de dezembro de 1928, tendo sido sepultado no local, a área contendo o cemitério Antolin-Cué passou a pertencer ao Sr. Celso Müller do Amaral que após a sua morte a deixou em herança para aos seus descendentes, todos com parentesco com a Família Mattos. Segue-se com direito a propriedade o Sr. Celso Carvalho do Amaral que pretendia cercar o cemitério com um muro de pedras obtidas na própria Fazenda Antolin-Cué.

Por volta da década de 1990, a histórica propriedade deixa de pertencer aos membros sucessivos da Familia Mattos, pois, o Sr. Celso Carvalho do Amaral vendeu a propriedade para o Sr. Mardônio Alencar, que mandou edificar uma igrejinha no Cemitério Antolin – Cué, utilizando as pedras que deveriam cercá-la.

O Sr. Mardônio Alencar foi autor de um projeto arrojado ao identificar o Cemitério Antolin-Cué como sendo uma célula viva do Patrimônio Histórico do Município de Dourados – MS. Tal afirmação está representada na sua atitude em determinar a edificação de uma ‘igrejinha de pedras’ semelhante às edificações de influência da arquitetura do estilo jesuítico espanhol como ocorrem com os exemplares encontrados no sul do país, na região das Missões, de onde migraram os audazes Mattos, pioneiros oriundos de São Luiz Gonzaga – RS, que chegaram ao ano de 1902 nas terras meridionais da antiga Província de Mato Grosso, que hoje correspondem às terras sul-mato-grossenses dos municípios de Dourados e Ponta Porã.

No Cemitério Antolin-Cué foram sepultados vários membros da Família Mattos, entre os quais Amândio de Matos Pereira e seu filho Piragibe de Mattos Pereira; Bento de Matos Pereira e sua esposa Conceição Aves da Silva; Francisco de Matos Pereira e sua esposa Clarinda Augusta Leitão de Mattos; José Augusto de Mattos (José Leitão) e sua esposa Doralina Albuquerque de Mattos Jobe Alves de Mattos, entre outros, cujos túmulos ainda estão edificados no local.

Eventualmente ocorrem ofícios religiosos na igrejinha. Todavia, a sua inauguração foi festiva, bem como se realizou uma missa que contou com a presença de autoridades do município douradense e membros da Família Mattos radicados em Dourados e Ponta Porã. Em 2013 foi encomendada uma missa com corpo pressente no sepultamento de Jobe Alves de Mattos, filho de Bento de Mattos Pereira.

Os caminhos de difícil acesso ao cemitério favoreceram o seu abandono e muitos túmulos foram violados e depredados. Os incêndios também contribuíram para queimar inúmeras cruzes de madeira que poderiam permitir a identificação de outras pessoas que ali foram sepultadas. Há que se realizar em cartório um levantamento preciso para se informar com precisão todas às pessoas que ali foram sepultadas.

Atualmente, as terras da antiga Fazenda Antolin-Cué fazem parte do conjunto de terras pertencentes ao Sr. Cláudio Galli. Portanto, continua aí edificado o histórico Cemitério do Antolin que guarda os restos mortais de Amândio de Mattos Pereira, Francisco de Matos Pereira e Bento de Matos Pereira, entre outros membros da Família Mattos.

Considerando-se, que o Cemitério Antolin-Cué corresponde a um autêntico exemplar do patrimônio histórico douradense, este carece de cuidados das autoridades públicas responsáveis pelos bens patrimoniais do município. A história do município deve ser preservada, pois estará sempre presente na memória das gerações futuras que constroem cotidianamente o seu contexto histórico e salvaguardam os seus personagens históricos. Somente através da história podemos compreender como se deu a formação e o processo de povoamento de uma região e de suas diferentes localidades.

O texto escrito se respaldou bibliograficamente em informações de:

  1. GRESSLER, Lori Alice. Aspectos históricos do povoamento e da colonização do Estado de Mato Grosso do Sul: destaque especial ao município de Dourados. Dag Gráfica e Editorial Ltda. Dourados – MS, 1988.

  2. OWENS, Marli Carvalho. Mattos: a saga de uma família. Dourados, 2000.

  3. Tesouro do Estado de Mato Grosso. Cuiabá, 15 de Maio de 1914.

  4. Também se utilizou relatos da história oral que foram prestados por Jericó Vieira de Mattos neto de Bento de Mattos Pereira; de Alaíde Brum de Mattos (UEMS) e Ênio Brum de Mattos, netos de Amândio de Mattos Pereira.

Os caminhos de difícil acesso ao cemitério favoreceram o seu abandono e depredação - Crédito: Divulgação

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