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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Primeiro-ministro da França faz “mea culpa” coletivo por antissemitismo

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26/01/2015 11h01

Em um pronunciamento bastante incisivo na Assembleia Nacional, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, confirmou o aumento do antissemitismo no país e fez “mea culpa” coletivo: “Nós não demonstrarmos indignação suficiente”. E acrescentou: “Eu digo às pessoas que não reagiram suficientemente até agora e aos nossos compatriotas judeus que, desta vez, o antissemitismo não será mais aceito.

A história nos ensinou que o despertar do antissemitismo é o sintoma de uma crise da democracia e de uma crise para a República. É por isso que temos de responder com força”. Recordando uma série de atentados antissemitas na França nos últimos anos, ele enfatizou estes fatos “não produziram a indignação nacional que nossos compatriotas judeus esperavam. Como podemos aceitar que na França, onde os judeus foram emancipados há dois séculos, e martirizados durante o Holocausto há 70 anos, gritos de morte aos judeus sejam ouvidos nas ruas? Como podemos aceitar que franceses sejam assassinados por serem judeus? Como podemos aceitar que nossos compatriotas sejam mortos quando saem para comprar o pão para o Shabat?”

Valls observou que “há um antissemitismo histórico de muitos séculos. Mas há também um novo antissemitismo que nasce em nossos bairros, vindo pela internet, que, contra o pano de fundo do ódio ao Estado de Israel, defende o ódio a todos os judeus. Temos que ser claros e usar as palavras certas para combater este antissemitismo inaceitável. Esta é a mensagem que temos para comunicar alto e claro. Como podemos aceitar que, em certas escolas e faculdades o Holocausto não possa ser ensinado? Como podemos aceitar que quando se pergunta a uma criança: ‘Quem é o seu inimigo’, a resposta seja ‘o judeu?’ Quando os judeus da França são atacados, toda a França é atacada, a consciência universal é atacada. Nunca nos esqueçamos disso”.

Valls terminou seu discurso analisando a diferença entre a blasfêmia e o discurso de ódio, “Quando um cidadão se aproxima e me faz a seguinte pergunta: ‘Mas eu não entendo, como é que você quer silenciar esse comediante, e ao mesmo tempo coloca os cartunistas do Charlie Hebdo em um pedestal?’. E eu respondo: ‘Há uma diferença fundamental entre a liberdade de ser insolente – a blasfêmia não é crime e nunca será – e o antissemitismo, o racismo, a apologia do terrorismo e a negação do Holocausto – crimes que devem ser punidos cada vez com maior rigor”.

Depois do atentado terrorista de jihadistas ao jornal “Charlie Hebdo”, as principais lideranças europeias, ao mesmo tempo em que discutem medidas integradas de segurança, preocupam-se com as comunidades descendentes de imigrantes em seus países. Têm razão. “O Islã faz parte da Alemanha”, logo disse Angela Merkel, chanceler germânica, recado direto aos seguidores de Maomé em seu país, muitos de origem turca.

Na quinta, o presidente François Hollande, ao comparecer ao Instituto do Mundo Árabe, em Paris, além de declarar não haver incompatibilidade entre o islamismo e a democracia, considerou os próprios muçulmanos “a primeira vítima do fanatismo, fundamentalismo e da intolerância”. Merkel e Hollande devem mesmo se colocar contrários à islamofobia que parece se expandir na Europa, nas reverberações do ataque em Paris. Na Alemanha, xenófobos têm levado multidões às ruas, enquanto na França a Frente Nacional, de extrema-direita, demonstra ganhar ainda mais musculatura eleitoral, para que sua líder, Marine La Pen, tente altos voos nas urnas presidenciais de 2017.

A França, em particular, enfrenta uma situação difícil, em que descendentes de árabes e judeus, dois polos do conflito infindável no Oriente Médio, não se sentem integrados à sociedade francesa mesmo que, no caso dos judeus, o país tenha a terceira população mundial deles, 500 mil, superada apenas por Israel e Estados Unidos. Judeus franceses têm sido atacados por franco-árabes — a tragédia no supermercado kosher não foi inédita —, e estes se sentem marginalizados, enquanto passam a ser, no caso dos jovens, alvo de recrutadores para o jihadismo, nos subúrbios e prisões franceses. Mais de mil já teriam mantido algum tipo de contato com grupos armados islâmicos. Said, um dos dois irmãos Kouachi assassinos de jornalistas e cartunistas do “Hebdo”, recebeu treinamento militar do braço da al-Qaeda que atua no Iêmen. Não foi simples coincidência que, na quinta, os dois mais influentes jornais americanos, o “New York Times” e o “Wall Street Journal” trouxessem reportagens sobre os franco-árabes e os franco-judeus. O tema está exposto.

O NYT visitou Valux-en-Velin, nas cercanias de Paris, um dos “banlieues”, ou subúrbios, nos quais a maioria da população é muçulmana. Lá, ninguém se diz “Charlie” e se ouve muita reclamação de mazelas sociais nessas áreas, como desemprego e deficiências no ensino. Sentem-se párias. O “Wall Street”, por sua vez, tratou do crescimento da migração de judeus franceses para Israel diante da expansão do antissemitismo: no ano passado, 6.900 deixaram a França, recorde desde 1970. As mortes em Paris são uma parte desta preocupante questão da intolerância entre descendentes de imigrantes, sem que o Estado francês consiga mediar com eficiência os conflitos, para permitir que se pratique nas ruas, de fato, a liberdade, a igualdade e a fraternidade.

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