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sexta-feira, 26 de abril de 2024

‘Crotalária é inútil contra dengue’, diz cientista da Unicamp

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14/10/2010

Marli Lange

A Lei 3357/2010, aprovada em Dourados em abril deste ano, que obriga a prefeitura doar mudas e sementes de crotalária para ajudar no combate a dengue é “inócua” e “fantasmagórica” e pode levar o município ao ridículo perante autoridades de saúde pública no exterior. A crítica é do biólogo Carlos Fernando Andrade, PhD do Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Durante passagem pela redação do O PROGRESSO, o cientista disse que lei aprovada pela Câmara de Dourados deve ser barrada, já que é uma medida que não oferece segurança de que se pode controlar a dengue com a planta cujo nome biológico é crotalária juncea.

Pela justificativa dos vereadores, à época da aprovação da lei, as flores amarelas da planta atraem as libélulas, insetos predadores naturais dos mosquitos da dengue, de pernilongos e de outros. Daí a sugestão de que haveria um controle biológico viável ao combate dos mosquitos Aedes aegypti, apesar de não ter comprovação cientifica.

No entanto, para o biólogo pós doutorado nos Estados Unidos em controle de mosquito, as cidades que adotarem as mesmas leis, podem colocar em risco a saúde da população. “Ao invés do município trabalhar com a ideia de levar a população à conscientização do combate aos criadouros, com limpeza diária, buscam impor medidas alternativas que não têm garantia nenhuma de combate à dengue”, critica.

O profissional está em Dourados proferindo um mini curso de controle de mosquitos e borrachudos aos acadêmicos de graduação de Ciências Biológicas e pós-graduação em mestrado e doutorado da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

Ele explica em seu artigo “Estratégicas inócuas, estrambólicas ou inseguras para o controle do vetor da dengue”, que a ideia de que a crotalaria combateria o Aedes aegypti, pode ter disseminado a partir de uma pesquisa feita em 2004 em co-autoria com a professora Luciana Urbano. A pesquisa foi mencionada no site da Unicamp de que apenas uma vez foram coletadas libélulas em pneus–armadilhas durante um programa de monitoramento que durou oito anos. “Apenas uma vez achamos ninfas e libélulas predando as larvas dos mosquitos nas armadilhas; esperamos que ninguém tenha se baseado naquela fase do nosso trabalho para propor que as libélulas vão controlar a dengue”, relata o professores seu artigo.

ESTRATÉGIAS

Para o mestre em Ecologia, não há métodos para combater a dengue. Ele é enfático em afirmar que nenhum, a não ser o real combate às larvas do mosquito têm total segurança. Ele classifica esses métodos como estratégicas “inócuas”, “estrambólicas“ ou “inseguras”. No caso da crotalária, pode ser considerado um método inócuo, sem efeito.

Ele cita alguns métodos mais conhecidos, como: areia nos pratos sob vasos e xaxins. Para ele, é de fato uma ideia boa, no entanto, desde que ao regar a planta não deixe formar lâmina de água sobre a areia. Outra bem conhecida é a da borra de café, que ele descarta porque não funciona como larvicida.
O professor lembra receitas ‘ecológicas’, à base de sal grosso ou as conhecidas pulseiras de citronela, que não oferecem qualquer segurança.

“Fizemos alguns testes rápidos e pudemos comprovar que essas pulseiras não repelem os mosquitos conforme o indicado no produto”, diz o professor. Em Pernambuco por exemplo, foi até proibida a venda do produto por falta de aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

COMBATE

Para o biólogo não existe outro método para combater o mosquito da dengue que não seja a eliminação efetiva das larvas. “Não havendo criadouro, não há mosquito. Não havendo no ambiente urbano pratos de vasos, garrafas com água, plantas aquáticas, caixas d’água descobertas, pneus, ralos entupidos, entre outros, o risco de epidemia é muito baixo”, diz.

Hoje o professor da Unicamp estará proferindo uma palestra para os agentes de saúde no auditório do Centro Administrativo Municipal (CAM), das 15h às 16h.

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